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segunda-feira, 4 de julho de 2022

Ucrânia diz ter recuperado ilha estratégica; Rússia anuncia controle de Luhansk

 


A Rússia assumiu o controle de Lysychansk, a última cidade na região de Luhansk, no Leste da Ucrânia, que ainda estava sob controle ucraniano. Os militares da Ucrânia anunciaram no domingo (3) que foram “forçados a se retirar” da cidade.

As Forças Armadas da Ucrânia hastearam a bandeira do país sobre a Ilha da Cobra, depois de forçar a retirada russa do território estrategicamente importante, disse uma porta-voz do Comando Sul dos militares, a 1ª capitã Natalia Humeniuk, em um comunicado nesta segunda-feira (4). Conhecida como Zmiinyi Ostriv em ucraniano, a Ilha da Cobra fica a cerca de 48 km da costa da Ucrânia e fica perto das rotas marítimas que levam ao Bósforo e ao Mediterrâneo.

Aqui estão os destaques de hoje:

Rússia se prepara para ataque à região de Donetsk, diz Ucrânia: O Estado-Maior do Exército ucraniano disse que depois de assumir Lysychansk, as forças russas estão se preparando para continuar seu movimento em direção às cidades de Donetsk ainda controladas por Kiev.

“Na direção de Sloviansk, unidades inimigas estão tentando estabelecer o controle sobre os assentamentos de Bohorodychne, Mazanivka e Dolyna por meio de operações de assalto”, disseram os militares ucranianos em uma atualização de status na segunda-feira (4).

O foco agora muda para as cidades de Sloviansk e Kramatorsk, os dois maiores centros populacionais da região.

Escola destruída em ataque a Kharkiv: Uma escola secundária na segunda maior cidade da Ucrânia foi destruída depois de ser atingida por um míssil russo por volta das 4h, horário local, disse o chefe da administração regional, Oleh Synehubov, em um post do Telegram na segunda-feira.

Não houve feridos na escola, mas ataques em outras áreas da região de Kharkiv deixaram pelo menos três mortos e seis feridos na vila de Bezruky, acrescentou Synehubov.

Jogador de hóquei detido na Rússia por supostamente evadir-se do serviço militar, segundo relatos: O goleiro russo Ivan Fedotov foi detido em São Petersburgo a pedido do Ministério Público Militar na sexta-feira (1º) por evadir-se do serviço militar, segundo relatos de meios de comunicação russos.

De acordo com a agência de notícias russa Fontanka, a promotoria militar acredita que há motivos para “considerar Fedotov um evasivo do exército”. O russo de 25 anos, nascido na Finlândia, assinou um contrato de um ano com o Philadelphia Flyers da NHL em 7 de maio, após a conclusão da temporada da liga de hóquei russa e chinesa KHL, onde liderou o CSKA Moscou para vencer a Copa Gagarin.

Rússia diz que o ataque de fim de semana a Belgorod teve como objetivo provocar Moscou: Moscou diz que o suposto ataque com mísseis realizado pelas forças ucranianas na cidade de Belgorod teve como objetivo provocar a Rússia, de acordo com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Maria Zakharova. O Ministério da Defesa da Rússia acusou a Ucrânia de atacar a cidade de Belgorod com três mísseis Tochka-U e de usar drones carregados de explosivos para atingir a cidade russa de Kursk no domingo.

A Ucrânia não reconheceu os ataques.

Ucrânia pede à Turquia que “detenha” navio de bandeira russa que transporta grãos ucranianos

O navio Zhibek Zholy está atualmente ancorado perto do porto turco de Karasu, pois “foi detido pelas autoridades alfandegárias turcas e não tem permissão para entrar no porto”, disse Bondar. “Agora estamos aguardando a decisão das autoridades relevantes da Turquia sobre as ações que as agências policiais da Ucrânia insistem”, acrescentou.

Ucrânia diz que levantou sua bandeira sobre Snake Island: As Forças Armadas ucranianas levantaram a bandeira do país sobre Snake Island, depois de forçar uma retirada russa do território estrategicamente importante, disse uma porta-voz do Comando Sul militar, 1ª capitã Natalia Humeniuk, em um comunicado na segunda-feira.

O pequeno mas estratégico território foi palco de uma das salvas iniciais da guerra na Ucrânia, com demandas de um navio de guerra russo pedindo que os defensores ucranianos se rendessem, que corajosamente respondeu com “navio de guerra russo, vá se *****”.

O que esperar da guerra nos próximos dias

A queda de Luhansk é “muito dolorosa, mas “não é a derrota na guerra, afirma o governador da região, Serhiy Haidai, numa entrevista à agência Reuters.

“É muito doloroso, mas não é perder a guerra”, diz o governador. “Em termos militares, é ruim abandonar posições, mas não há nada crítico (com a perda de Lysychansk). Precisamos ganhar a guerra, não a batalha por Lysychansk”.

No domingo (3), a Rússia anunciou a conquista desta cidade, último bastião da Ucrânia em Luhansk, bem como a “libertação” de toda a região.

“Hoje, 3 de julho de 2022, o ministro da Defesa da Federação Russa, Sergei Shoigu, relatou ao Comandante Supremo das Forças Armadas da Federação Russa, Vladimir Putin, a libertação da [autoproclamada] República Popular de Luhansk”, diz o comunicado do Kremlin, citado pela Tass.

Durante algumas horas, a Ucrânia negou a conquista, mas acabou por confirmar, já ao final da tarde, a retirada das suas tropas de Lysychansk.

À Reuters, Haidai disse que a saída da cidade tinha sido coordenada pelo governo central do país, mencionando que decorreu de forma organizada. O governador apontou que a Ucrânia poderia ter continuado a defender Lysychansk, mas as suas forças iriam ser fortemente atacadas e cercadas pela artilharia pesada da Rússia.

Com a conquista de Luhansk assegurada, Moscou irá agora virar as atenções para Donetsk, disse Haidai. “Ainda assim, para eles (forças russas) o objetivo número um é a região de Donetsk. Sloviansk e Bakhmut ficarão sob ataque – Bakhmut já começou a ser atacada com muita força”, afirmou.

A conquista do Donbass foi definida pelo Kremlin como o grande objetivo da guerra, como destacou o presidente Vladimir Putin no seu discurso do dia 9 de maio, de forma a poder proteger o povo russófono da região daquilo que considerou ser “bullying” por parte de Kiev durante os últimos dois anos.

“Para a opinião pública russa, neste momento, a guerra está justificada”

À CNN, o professor universitário e especialista em diplomacia Tiago Ferreira Lopes afirma qual o próximo objetivo da Rússia na guerra.

“Com a queda de Luhansk, agora interessa completar o plano de tomar Donbass. Interessa agora acelerar a dinâmica de guerra, tanto em Sloviansk como em Bakhmut, Kramatorsk e Kharkiv. É muito possível que, ao longo desta semana, sejam estas as quatro cidades onde vamos concentrar as atenções. (…) Neste momento, a dinâmica de guerra russa acelerou, de fato”, disse.

Lopes salienta que “para a opinião pública russa, neste momento, a guerra está justificada”, e assinalou as boas taxas de aprovação que Vladimir Putin mantém no país. “Foi prometida uma ‘operação especial’ para ‘libertar’ Donbass, e uma das duas repúblicas separatistas da região está ‘libertada’, apesar de a Ucrânia ter salientado que tem intenções de voltar”.

Sobre esta promessa deixada pelo presidente ucraniano, o professor afirma que Volodymyr Zelensky “fala para o público interno, dá uma noção de esperança e transmite a ideia de que a guerra não está perdida, que uma interrupção não é uma derrota”. “É complicado acreditarmos que isso irá acontecer, pelo menos no curto-médio prazo, até porque havia a expectativa de uma contraofensiva ucraniana a partir de meados de junho”.

Lopes aproveita ainda as declarações acima reproduzidas de Serhiy Haidai para afirmar que as forças ucranianas estão, neste momento, numa “situação mais complexa”, dado que, em Donbass, “as coisas correm muito melhor para Moscou”.

Pontuando que é “difícil ler a mente de líderes políticos um pouco erráticos nas suas agendas”, o especialista afirma que, caso a Rússia tome Donbass, “é muito provável que o tal plano de tomar todo o mar [zona costeira] volte a ser o foco. Aí sim, cidades como Odessa ou outras no Mar Negro serão o novo foco de atenção”.

O professor alertou também que a Rússia, após a conquista de uma grande cidade, “ataca três ou quatro cidades, como que a sinalizar os alvos seguintes. Estamos vendo isso hoje, em Sloviansk, Bakhmut, Kharkiv e Sumy”.

O especialista avalia que o Ocidente teve “pouca cautela” na aplicação das sanções econômicas à Rússia. “O que nos faltou foi olhar para Oriente. Enquanto as sanções do Ocidente têm o seu peso simbólico, a verdade é que o Sul Global tem permitido à Rússia dirimir o impacto destas sanções, e até manter ou aumentar as receitas da venda do gás e do petróleo, com uma série de novos clientes que não tinha”.

(Com informações de Oleksandra Ochman e Pedro Falardo, da CNN)


 

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