FONTE: BBC
A decisão do Banco Central de aumentar os juros em 0,50 ponto percentual complica o cenário para a retomada do crescimento da economia, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu, por unanimidade, subir a chamada Selic - a taxa básica de juros da economia brasileira - dos atuais 11,25% para 11,75% ao ano. Trata-se do patamar mais elevado desde agosto de 2011.
"Considerando os efeitos cumulativos e defasados da política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia", afirmou o BC, em nota.
O aperto, já esperado pelo mercado, é visto como uma forma do BC tentar segurar a inflação, que acumula alta de 6,59% nos últimos 12 meses terminados em outubro, acima do teto da meta de 4,5%, com dois pontos percentuais para cima e para baixo. Após as eleições, o reajuste de alguns preços administrados, como o da energia, e a alta da gasolina aumentaram ainda mais a pressão sobre o índice.
"O risco, porém, é que essa política de aperto monetário nos empurre para um cenário de ajuste recessivo em 2015 - ainda mais se ela for muito dura ou muito rápida", diz André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.
"Já estamos em um processo de desaceleração econômica, com uma redução no ritmo de contratações e no consumo e a nova equipe econômica ainda sinalizou com uma política fiscal contracionista. Se o ajuste não for gradual, como a presidente Dilma (Rousseff) prometeu em campanha, pode ser difícil garantir a retomada esperada para 2016."
Wilber Colmerauer, diretor da Emerging Markets Investments, em Londres, concorda que a estratégia de aperto monetário e corte de gastos é arriscada em um cenário de quase estagnação econômica. Para ele, porém, o governo tem poucas alternativas.
"O grande problema foi que no último ano, perdeu-se de vez o controle sobre os gastos públicos e a confiança dos investidores e agentes do mercado no governo acabou sendo minada", diz ele.
"Agora temos de retomar o controle sobre esses gastos e sobre a inflação para que, em um segundo momento, possamos voltar a crescer."
Crescimento
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre a economia brasileira saiu da recessão técnica, mas ficou praticamente estagnada: o PIB teve uma alta de apenas 0,1% na comparação trimestral.
O governo já revisou as perspectivas de crescimento para este ano para 0,9% e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, prevendo uma expansão de menos de 0,3%.
Colmerauer diz que, no geral, a alta de juros é um instrumento usado para segurar o consumo e conter a inflação em um prazo relativamente curto de tempo.
Além disso, quanto maior a Selic, maior é o interesse de investidores estrangeiros em comprar títulos do governo brasileiro - o que estimula a entrada de dólares no país e tende a valorizar o real.
A alta recente ocorre semanas depois do atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciar que o país estaria entrando em um novo ciclo de sua política econômica, com o abandono das medidas de estímulo e o início de uma fase de "consolidação fiscal".
O novo titular da pasta, Joaquim Levy, já prometeu que o corte de gastos será prioridade em 2015 e que haverá um superávit primario (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de 1,2% em 2005.
"A principal mensagem da nova equipe econômica é de um retorno a ortodoxia", escreveu Neil Shearing, da Consultoria Capital Economics.
"A política fiscal tende a ser apertada pelo novo ministro Joaquim Levy e a política monetária também deve sofrer um aperto conforme o Banco Central tenta reestabelecer suas credenciais de combate a inflação e reconquistar a confiança dos mercados."
Como os cortes de gastos e novas altas de juros ajudarão o país a retomar o crescimento, no entendimento do governo?
Segundo Colmerauer, com essas políticas o governo espera conseguir um "choque de credibilidade" que destrave os investimentos na economia real.
Perfeito explica que a alta dos juros de curto prazo tende a derrubar a taxa de longo prazo - o que poderia de fato contribuir para elevar esses investimentos.
"Esse é o plano. Mas é claro que ainda é difícil de se prever como a economia vai responder a essas medidas", diz o analista da Gradual.
"Se o consumo interno estiver desaquecido e a economia global ainda não estiver se recuperando de forma consistente, é difícil acreditar que esses investimentos virão. Afinal, os empresários vão produzir para quem?", questiona.
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