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quinta-feira, 19 de março de 2020

Chanceler de Bolsonaro diz que reação de embaixador chinês ‘foi inaceitável’ e cobra retratação



Fonte: O Globo

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atacou nesta quinta-feira a resposta do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, à publicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que culpava a China pela pandemia do novo coronavírus. Em nota publicada em seu perfil no Twitter, o chanceler chamou a reação do embaixador de “inaceitável” e “desproporcional”, pedindo uma retratação da embaixada.
“Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado”, disse Araújo na nota. O texto do chanceler dá enfase não às críticas do embaixador chinês ao filho do presidente, mas ao fato de o diplomata ter compartilhado um tuíte de apoio à China crítico a Eduardo que atacava também a família Bolsonaro, dizendo que ela é “o grande veneno deste país”. O retuíte, um dos vários feitos pelo embaixador e pela Embaixada da China na quarta-feira, foi desfeito ainda na noite de ontem.
“É inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores, como infelizmente ocorreu ontem à noite. As críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas também em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro. Cabe lembrar, entretanto, que em nenhum momento ele ofendeu o chefe de Estado chinês. A reação do embaixador foi, assim, desproporcional e feriu a boa prática diplomática”, afirma a nota de Araújo.
Segundo O GLOBO apurou, o Itamaraty espera que Yang Wanming reconheça que errou ao compartilhar uma postagem ofensiva à família presidencial e peça desculpas publicamente a Jair Bolsonaro. Somente depois disso será tratado o problema gerado pela troca de tuítes entre o deputado e o embaixador. O chanceler Ernesto Araújo conversou ontem à noite, por telefone, com o diplomata chinês.
Na nota desta quinta, Araújo, que tem em Eduardo Bolsonaro um dos principais fiadores de sua nomeação para o comando do Itamaraty, disse ainda que “o Brasil quer manter as melhores relações com o governo e o povo chinês, promover negócios e cooperação em benefício recíproco, sem jamais deixar de lado o respeito mútuo”.
A crise diplomática com a potência asiática que é o maior parceiro comercial do Brasil começou quando Eduardo Bolsonaro, que atua como chanceler informal do governo e foi cotado para ser embaixador do Brasil em Washington, escreveu uma mensagem na quarta-feira em que responsabilizou a China pela disseminação global do coronavírus.
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu Eduardo no Twitter.
Horas depois, o embaixador chinês respondeu também na rede social: “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados”, disse Yang no Twitter.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu status como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial. Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil”, acrescentou.
Na mesma linha, a conta oficial da Embaixada da China disse que as palavras de Eduardo “são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.
Depois disso, a embaixada chinesa e Yang compartilharam críticas ao ataque do deputado, incluindo as do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e da cineasta Petra Costa. Uma das postagens compartilhadas, porém, chamava os Bolsonaro de “grande veneno deste país”. O retuíte foi depois desfeito pelo embaixador.
O embate entre Eduardo e o embaixador chinês causou perplexidade e preocupação entre integrantes do governo, incluindo pessoas próximas ao presidente Bolsonaro. Uma das avaliações é que, ao abrir fogo contra a China, o filho do presidente da República poderá atrapalhar um intenso esforço diplomático desenvolvido pelo ministro da Saúde, Luiz Mandetta, para que o país asiático forneça equipamentos hospitalares, como respiradores artificiais e máscaras, usados para a prevenção da doença e no tratamento de pessoas internadas em estado grave.




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