Foto: Adriano Abreu
Cláudio Oliveira
Repórter
A alta carga tributária e a escassez de mão de obra são os principais problemas que afetam a indústria da construção civil. Esses entraves se manifestam tanto em nível nacional quanto local e foram apontados na Sondagem Indústria da Construção, divulgada na segunda-feira (28) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O levantamento, referente ao terceiro trimestre de 2024, também revelou que os empresários do setor enfrentam dificuldades com a elevada taxa de juros e a burocracia excessiva.
Sobre a dificuldade de contratação de trabalhadores, a diretora executiva do Sindicato da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon/RN), Herika Arcoverde, aponta que o principal entrave à absorção e ao crescimento de profissionais no setor são os programas assistenciais, que concedem renda sem que o beneficiário tenha uma ocupação formal. “As pessoas recebem, por meio dos programas e bolsas, um valor similar ao que ganhariam se estivessem trabalhando. Muitas complementam essa renda com bicos”, explica.
Nesses casos, por escolha do próprio trabalhador, as empresas não conseguem formalizá-lo em seus quadros. “Esse é o nosso grande concorrente quando falamos sobre os salários da base, do pedreiro, do servente da construção civil. É lamentável, pois esse profissional, ao ingressar no setor, poderia se qualificar e melhorar sua remuneração”, destaca a diretora.
Incentivar e capacitar profissionais é um interesse das empresas. Herika relata que as construtoras que não adotam essa postura acabam perdendo bons profissionais para outras empresas. “A escassez de mão de obra é tamanha que existe uma certa concorrência entre as construtoras. Seria muito positivo que o poder público oferecesse cursos profissionalizantes para promover gradativamente uma transição desses programas assistencialistas para projetos de capacitação”, sugere a diretora do Sinduscon/RN.
A falta ou o alto custo de trabalhadores qualificados e não qualificados foi apontada, respectivamente, por 25,4% e 22% dos empresários do setor, segundo a sondagem da CNI. Já o excesso de tributos foi citado por 29,2%. Representantes do segmento têm se mobilizado no Congresso Nacional, por meio da CBIC, para evitar o agravamento dessa situação com a reforma tributária. “Com as propostas atuais, haveria um aumento da carga tributária para a construção civil. Isso é um contrassenso, pois desestimula o lançamento de novos empreendimentos. Sem empreendimentos, não há contratações”, ressalta Herika Arcoverde.
Ainda sobre os desafios do setor, a CNI apontou que o índice de satisfação dos industriais da construção com a situação financeira caiu para 47,7 pontos, um ponto abaixo do registrado no 2º trimestre. No período de julho a setembro, o índice de satisfação com o lucro operacional ficou em 45,4 pontos, uma queda de 0,2 ponto, revelando insatisfação.
O aumento do preço médio de insumos e matérias-primas também foi um ponto de destaque, com o indicador alcançando 61,3 pontos, acima da linha divisória de 50 pontos. No entanto, os empresários observaram uma alta dos preços menos intensa e disseminada em comparação ao 2º trimestre. O índice de facilidade de acesso ao crédito, por sua vez, avançou 1,2 ponto no 3º trimestre, mas ainda está em 40,3 pontos.
Otimismo
A Sondagem Indústria da Construção também apontou que, apesar das dificuldades, o Índice de Confiança do Empresário Industrial da Construção (ICEI) cresceu 1,2 ponto em outubro, alcançando 54,5 pontos, o segundo maior valor do indicador em 2024, o que demonstra otimismo.
Herika Arcoverde, diretora executiva do Sinduscon/RN, pondera que essa confiança pode ser momentânea e restrita ao contexto local. “Se compararmos o Rio Grande do Norte com a Paraíba, a construção civil lá está muito mais em ascensão do que aqui. Mas isso é circunstancial”, afirma ela.
No entanto, há motivos para otimismo em solo potiguar, especialmente em Natal, onde o Plano Diretor foi revisado. “Começamos a ver a construção civil inverter os gráficos de crescimento, com o lançamento de novos empreendimentos. Há um novo PAC lançado que impacta o setor, além de questões específicas de cada cidade, como projetos de obras públicas, mudanças nos planos diretores e de leis ambientais”, explica.
Ela destaca que, quando a construção civil vai bem, o reflexo na geração de empregos é imediato. O Rio Grande do Norte encerrou o ano de 2023 com um saldo de 22,6 mil empregos com carteira assinada, dos quais 3.824 foram na construção civil, o terceiro setor que mais empregou no ano, posição mantida em 2024. No acumulado até agosto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, aponta que o saldo da construção já superou o de 2023, com 1.855 empregos formais.
“Esse ecossistema em torno da construção civil, quando eficiente, cria um ambiente pujante. E isso tem sido percebido desde 2023. Ainda há etapas a serem alcançadas, como a da lei ambiental, um tema em pauta que precisa evoluir”, conclui a diretora do Sinduscon/RN.
Números
Ranking dos problemas enfrentados na construção civil no 3º trimestre de 2024, de acordo com citações dos empresários do setor
29,2%
Elevada carga tributária
25,4%
Falta ou alto custo de trabalhadores qualificados e taxa de juros elevada
22%
Falta ou alto custo da mão de obra não qualificada
20,5%
Burocracia excessiva
Fonte: Sondagem Indústria da Construção/CNI/CBIC
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