Ainda assim, a conscientização sobre a doença é limitada e o diagnóstico precoce, raramente acontece. Estima-se que cerca de sete milhões de brasileiros convivam com a DPOC, mas apenas 12% dos casos são diagnosticados, e menos de 20% dos pacientes seguem tratamento, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). A DPOC é uma síndrome que engloba a bronquite crônica e o enfisema pulmonar.
Ambas as condições causam estreitamento persistente das vias aéreas e lesões nas estruturas pulmonares. De acordo com a pneumologista Suzianne Lima, do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/Ebserh), o impacto dessa perda é significativo. “A DPOC provoca um estreitamento persistente das vias aéreas e destruição dos alvéolos, que são essenciais para a troca de oxigênio. Esse comprometimento causa sintomas debilitantes, como falta de ar e cansaço extremo”, explica.
Os sintomas incluem tosse persistente, chiado no peito, cansaço e falta de ar progressiva, que começa com atividades físicas intensas e pode evoluir para dificuldades em tarefas simples, como subir escadas ou tomar banho. O pneumologista Sérvulo Júnior (HUOL/Ebserh) reforça que a evolução da doença é lenta, mas implacável. “Os pacientes demoram a buscar ajuda porque acreditam que o cansaço é normal. Quando percebem que a falta de ar afeta tarefas cotidianas, a doença já está avançada”, alerta.
Tabagismo é principal causa
O tabagismo é disparado o principal fator de risco para a DPOC, sendo responsável por cerca de 80% dos casos, segundo o Ministério da Saúde. A fumaça do cigarro causa inflamação crônica nos pulmões, que destrói os alvéolos progressivamente. Quando o alvéolo é destruído, ele não se regenera. É como se os pulmões perdessem pedaços da sua capacidade de respirar”, explica Sérvulo.
É o caso de Maria Antônio Lopes, 61 anos, que faz tratamento para frear a DPOC enquanto enfrenta uma longa batalha contra o vício. “Fumei desde os meus 12 anos. Fiz um tratamento e, infelizmente, tive uma recaída depois de oito anos sem fumar. Voltei por causa de um evento traumático, que foi a perda do meu pai”, relata Maria, que mora em Canguaretama, na Região Metropolitana de Natal.
Apesar das dificuldades, Maria diz que se apega na fé e na ajuda dos profissionais da saúde. “É importante a gente buscar ajuda, se apegar em Deus, nas pessoas próximas, nos profissionais que sabem tratar esse problema. Voltei ao tratamento, estou na batalha e tenho certeza de que irei vencer o vício de uma vez por todas. Para quem está na mesma situação, deixo a mensagem: tenham força de vontade e procurem ajuda, porque é possível, sim”, acrescenta.
Outros fatores de risco incluem exposição prolongada a fumaça de fogões a lenha, queima de biomassa e vapores químicos. “Churrasqueiros que trabalham muito próximo à fumaça, que não se protege bem e ficam inalando fumaça durante muito tempo, também podem desenvolver. É mais raro, mas também os agentes de trânsito que ficam predominantemente em vias de grande fluxo de carros podem desenvolver a longo prazo DPOC, devido a fumaça da combustão de combustíveis fósseis”, alerta o especialista.
Além disso, a DPOC não se limita ao sistema respiratório, estando associada a complicações cardiovasculares graves. “Um paciente com DPOC que sofre um infarto tem muito mais chances de morrer do que alguém sem a doença, porque o pulmão já comprometido agrava a recuperação do organismo. A DPOC tanto é a causa quanto é a comorbidade que aumenta a mortalidade de outras doenças.”, destaca Sérvulo.
Detecção precoce é crucial para interromper progressão
A detecção precoce da DPOC é crucial para interromper sua progressão. A espirometria, um exame simples e não invasivo, é o principal método diagnóstico e permite identificar alterações na função pulmonar mesmo em estágios iniciais. Suzianne Lima reforça a importância de monitorar a saúde respiratória, especialmente entre fumantes e grupos expostos a fatores de risco.
“É possível adotar várias medidas preventivas: evitar o tabagismo; evitar a exposição a poluentes, como poeira, fumaça e gases irritantes; vacinar-se anualmente contra a gripe e a pneumonia; adotar um estilo de vida saudável, com uma alimentação equilibrada e rica em frutas, verduras e legumes; controlar o peso, pois o ganho de peso pode prejudicar a respiração; realizar um diagnóstico precoce, que pode ser feito com exames como a espirometria”, detalha a especialista.
Embora não tenha cura, a DPOC pode ser controlada com tratamentos adequados.Os medicamentos incluem broncodilatadores e anti-inflamatórios administrados por dispositivos inalatórios, conhecidos como “bombinhas”. Essas medicações aliviam os sintomas e ajudam a melhorar a qualidade de vida. “As bombinhas agem diretamente nos pulmões, com poucos efeitos colaterais. Isso permite que o paciente respire melhor e realize suas atividades diárias com menos limitações”, explica Sérvulo Junior.
No mundo, mais de 210 milhões têm a doença
A DPOC é a terceira causa de óbitos, no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em 2019, a DPOC foi a terceira causa de mortes no mundo, correspondendo a mais de 3 milhões de casos. A mesma entidade estima que 210 milhões de pessoas no Mundo têm a doença. Ainda segundo a organização global, cerca de 80% dessas mortes acontecem em países de renda média a baixa, porque as estratégias de prevenção não são tão efetivas e os tratamentos não estão disponíveis ou não são acessíveis para todos.
Por ser uma doença crônica com alta taxa de complicações, é importante conscientizar a população quanto às formas de prevenção e controle da DPOC, a fim de evitar também as exacerbações pela doença (piora da tosse, expectoração ou falta de ar). No último dia 20 de novembro, foi celebrado o Dia Mundial da DPOC, onde médicos e organizações de saúde aproveitam a data para reforçam a necessidade de ampliar a conscientização sobre a doença.
“Os sinais do corpo não devem ser ignorados. Se você sente falta de ar, tosse persistente ou cansaço extremo, procure um pneumologista e até mesmo fazer um exame. Diagnosticar a DPOC precocemente faz toda a diferença no controle da doença e na qualidade de vida do paciente. Apesar de ser uma das principais causas de morte no mundo, muitas pessoas ainda desconhecem os sintomas e a gravidade da DPOC”, destaca o pneumologista Sérvulo Júnior.
TRIBUNA DO NORTE
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