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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Leilão de Transmissão dará segurança à expansão de renováveis no RN


 Foto: JUNIOR SANTOS

Cláudio Oliveira
Repórter

Previsto para ocorrer em 31 de outubro, o Leilão de Transmissão nº 4/2025, que tem como foco a expansão e modernização da rede de transmissão de energia, é apontado pelo governo como fundamental para reforçar a confiabilidade do sistema elétrico e permitir maior segurança à expansão das energias renováveis no Rio Grande do Norte. O certame traz como novidade para o estado a instalação de três compensadores síncronos – dois na Subestação Assú III e um na Subestação João Câmara III – o que também deve afastar o risco de possível apagão elétrico ocasionado pelo excesso de produção de energia. Apesar do temor que há no setor, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) esclareceu que “não se trata de previsão de colapso”, mas sim de alertas técnicos para o planejamento.

“Os compensadores síncronos vão contribuir para o controle da tensão e da estabilidade da rede, minimizando os cortes de energia que vêm sendo registrados. E isso, consequentemente, cria um ambiente mais seguro para novos investimentos em geração renovável”, destacou Hugo Fonseca, secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN.


O Leilão de Transmissão, previsto para ocorrer na sede da B3, em São Paulo, licita 11 lotes, distribuídos por 13 estados (incluindo o RN), com investimentos estimados em R$ 7,6 bilhões, 1.178 km de novas linhas e seccionamentos, além de 4.400 mega-volt-ampere (MVA) em capacidade de transformação, controle automático rápido de reativos e compensadores sincronizados. O Ministério de Minas e Energia também publicou o cronograma – com cinco certames previstos até 2027 – reforçando a previsibilidade e segurança para o setor.


Hugo Fonseca explica que o governo Federal vem trabalhando através da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) com a adoção de medidas para aumentar a confiabilidade de sistema. “Como é o caso do leilão de transmissão 04/2025, que contempla a ampliação e o reforço do sistema elétrico em vários estados do Brasil, incluindo o Rio Grande do Norte”, diz.


Ele enfatiza que o RN acompanha os estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), por meio do Grupo de Estudos da Transmissão – GET Nordeste, focados na expansão e reforço da rede, no escoamento da geração renovável e no impacto de novas cargas, como projetos de hidrogênio, com previsão de conclusão em dezembro deste ano.


No entanto, o cenário traz preocupações: um relatório divulgado no início deste ano pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), parte do Plano de Operação Elétrica de Médio Prazo – PAR/PEL – até 2029, aponta que 11 estados (entre eles o RN) correm risco de sobrecarga devido ao crescente uso de geração distribuída, especialmente solar fotovoltaica.


Parques eólicos e solares vêm sofrendo com cortes de geração impostos pelo sistema elétrico. Isso acontece porque, a cada segundo, o ONS precisa acionar o parque gerador de energia em volume exatamente igual à demanda do país naquele momento. Por isso, há situações em que é preciso determinar o corte da geração para não haver excesso de oferta, que pode causar sobrecargas e apagões.


No caso das eólicas e solares, ocorre quando há alta incidência de sol e vento, levando a geração total a superar a demanda, principalmente no Nordeste. Também pode acontecer por falta de disponibilidade de linhas de transmissão, sendo necessário interromper a geração para evitar sobrecarga.

Alerta


Contudo, o próprio ONS esclareceu, em nota publicada em fevereiro passado, que isso não representa um risco de apagão iminente, mas que o relatório traz um alerta de planejamento para os próximos cinco anos. O órgão reforçou que esses fenômenos técnicos são mapeados e estão sendo tratados em conjunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Ministério de Minas e Energia (MME) e ANEEL para garantir a modernização da infraestrutura da rede elétrica.


Essa combinação de alerta e atuação preventiva reforça a relevância do leilão com a adoção de equipamentos como compensadores síncronos, reforços estruturais e exigências de disponibilidade (mínimo de 95%) que fortalecem a rede elétrica e aumentam a segurança operacional.


No contexto do RN, estado estratégico para a expansão de energias renováveis, a presença dos compensadores síncronos e o acompanhamento contínuo dos trabalhos da EPE e do GET Nordeste demonstram a busca por alinhar investimento, inovação e resiliência. A perspectiva otimista impulsiona novas oportunidades de geração renovável e eventualmente de hidrogênio, reforçando a transição energética com robustez técnica.


A reportagem procurou o ONS e o Ministério de Minas e Energias, mas não houve retorno para a demanda até o fechamento desta edição.

Geração de renováveis no Nordeste

A repercussão do Leilão de Transmissão nº 04/2025, previsto para outubro, reforça a avaliação de que o certame se insere em uma estratégia maior para dar vazão à crescente geração renovável no Nordeste e, especialmente, no Rio Grande do Norte. Representantes da Abrate (Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica) e da APER (Associação Potiguar de Energias Renováveis) destacam que o evento dá continuidade ao ciclo iniciado em 2022, antecipando investimentos em infraestrutura para acompanhar o avanço das fontes renováveis, sobretudo eólica e solar.

Mario Miranda (Abrate) diz que a entidade tem atuado para apoiar a viabilidade dos leilões| Foto: Divulgação


“O leilão deste ano está previsto para alcançar R$ 7,6 bilhões, mas devemos analisá-lo como parte de um plano contínuo. De 2022 a 2024, foram leiloados cerca de R$ 78 bilhões em projetos, com foco justamente em acelerar a implantação da infraestrutura de transmissão no Nordeste, que tem um crescimento rápido na geração renovável”, afirmou Mario Miranda, presidente da Abrate.


Segundo ele, o tradicional descompasso entre o ritmo da geração e da transmissão exigiu mudanças na estratégia regulatória e de planejamento. “Enquanto uma usina eólica pode ser construída em dois anos, uma linha de transmissão leva cinco. Por isso, antecipamos os leilões nos últimos anos. O de 2025 é a continuidade dessa estratégia”, aponta.


Assim como o Governo do Estado, a Abrate diz que tem atuado junto à EPE, ANEEL e Ministério de Minas e Energia para apoiar a viabilidade dos leilões, inclusive com estudos sobre a cadeia logística. “Não vemos hoje impedimentos técnicos ou logísticos. O grande desafio agora é garantir celeridade no licenciamento ambiental”, afirmou Mario.


Ainda segundo a entidade, o limite atual de exportação de energia da região Nordeste para outras regiões do Brasil é de 13 mil megawatts, número que deverá praticamente dobrar até 2030, chegando a 25 mil megawatts, o que exigirá reforços massivos na rede básica nacional. A ANEEL, por sua vez, já admite a possibilidade de o valor total do leilão ultrapassar R$ 8 bilhões, segundo declaração recente do diretor-geral Sandoval Feitosa à imprensa.


No Rio Grande do Norte, estado líder na geração eólica e com projeção de R$ 30 bilhões em novos investimentos em energia solar até 2029, a necessidade de expansão da rede de transmissão é vista como fator limitante para o pleno aproveitamento do potencial energético. Para Williman Oliveira, presidente da APER, a realização do leilão é importante, mas não suficiente. “O RN já é destaque nacional em renováveis, mas enfrenta gargalos estruturais. O leilão de outubro é um passo importante, porém precisa ser acompanhado de ações contínuas e arrojadas”, afirma.

Williman Oliveira (APER): leilão de outubro precisa ser acompanhado de ações contínuas| Foto: Divulgação


Ele defende maior diálogo entre o setor público e os agentes locais. “É fundamental ampliar o diálogo com estados líderes como o RN para que suas demandas sejam incluídas no planejamento nacional”, frisa o dirigente da APER.


A entidade também defende a adoção de tecnologias complementares, como armazenamento em larga escala, inteligência artificial na gestão do sistema e infraestrutura offshore, para garantir estabilidade e segurança à expansão renovável. Também chama atenção para a ascensão do mercado livre de energia, onde empresas optam por contratar diretamente de geradores – cenário que demanda planejamento proativo de infraestrutura.

Tribuna do Norte

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