Ana Carolina Nunes
O economista e professor chinês Andy Xie tem uma visão sobre os efeitos da inteligência artificial menos nebulosa que muitos alardeiam. Para ele, o impacto da tecnologia na economia e no mundo do trabalho ainda é “limitado” – pelo menos, por enquanto.
Mas, no momento que esse impacto for, de fato, a substituição do trabalho humano, o resultado estará na redução do custo de produtos e serviços.
“Quando penso sobre, digamos, o setor de turismo. Quando os sistemas autônomos substituírem muito do trabalho, como um carro autônomo, e até mesmo um avião poderia ser autônomo, ou o check-in no hotel, ou os chefs de um restaurante poderiam ser robôs. Muitos empregos podem ser perdidos. Mas a questão é que se esses sistemas autônomos forem muito baratos, o custo do turismo se tornará muito baixo. Então, haverá uma demanda muito maior. Certo? Então, haverá muito mais oportunidades em outros lugares”, acredita.
Xie foi um dos principais palestrantes do primeiro dia da Global Labour Market Conference (GLMC), conferência promovida pelo governo da Arábia Saudita sobre o mercado de trabalho e seus desafios atuais e futuros, e que reúne professores, economistas, especialistas e autoridades em Riade entre hoje e amanhã. O economista falou com exclusividade ao site IstoÉ Dinheiro após deixar o palco.
O economista, especializado em Ásia e China, hoje atua de forma independente em Shangai, como consultor de economia e finanças, mas foi diretor do Morgan Stanley entre 1997 e 2006. Ele também foi economista do Banco Mundial por cinco anos.
Contudo, para o professor Xie, o que tem se observado é que a tecnologia, nos Estados Unidos, tem se tornado cada vez mais cara, dando o exemplo do iPhone. “Se ela ficar cada vez mais cara, temos um problema”.
Xie então coloca Estados Unidos e China em posições opostas nessa corrida tecnológica – e aproveitando a repercussão da notícia sobre a DeepSeek, inteligência artificial desenvolvida na China.
Ele diz que a China segue o modelo econômico tradicional, em que produtos e serviços devem ficar mais baratos conforme o avanço da tecnologia, citando os carros BYD em oposição aos da Tesla, enquanto nos Estados Unidos tem se desenvolvido tecnologias cada vez mais caras e empresas cada vez mais lucrativas e rompendo tetos no mercado de ações.
“Acho que a China e os Estados Unidos são muito diferentes nesse aspecto. Se um produto é digital, o preço supostamente deve cair a cada ano, certo? Você olha para os carros BYD na China. Eles ficam muito mais potentes a cada ano e mais baratos. A tecnologia deve reduzir os preços e beneficiar os consumidores, e os consumidores têm mais dinheiro para gastar em outro lugar.”
Nesta semana foi lançada a DeepSeek, que teria consumido US$ 5,6 milhões em seu desenvolvimento e teria a mesma performance de IAs similares, como o ChatGPT, e que custou US$ 100 milhões à OpenIA.
“Nos Estados Unidos, eles querem criar monopólios para obter mais lucros, como a Apple. Então o preço das ações vai para as alturas. Ao mesmo tempo em que muitos trabalhadores pagam alto na aquisição de um iPhone, por exemplo, e não direcionam dinheiro para gastar em outras coisas e ainda precisam acumular trabalhos”.
Apesar de ter sido um dos economistas que apontou para os riscos de bolhas econômicas, como a crise financeira do Sudeste Asiático em 1997, a bolha das pontocom em 1999 e a crise do subprime dos EUA, que levou crise financeira de 2008, não apontou sobre que fim terá esse embate.
“O modelo dos EUA é um capital financeiro para criar monopólios e ter um alto lucro. E a China é de competição criativa, em que as empresas competem entre si e não ganham muito dinheiro, mas há muito progresso tecnológico. Então esses dois modelos estão em jogo e em algum momento o mundo verá uma resposta”.
*A jornalista acompanha a conferência a convite da organização da GLMC
Fonte: istoedinheiro
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