Foto: Adriano Abreu
Com 54% da população utilizando inteligência artificial generativa em 2024, o Brasil superou a média global de 48%, segundo a pesquisa “Our Life with AI: From innovation to application” divulgada pela Ipsos em parceria com o Google. O levantamento mostra que o otimismo com a tecnologia cresce no País, onde a IA já é vista como uma ferramenta transformadora em áreas como ciência, educação e trabalho. No Rio Grande do Norte, a adesão à IA também avança, impulsionada por startups, parcerias acadêmicas e uso profissional.
Ainda segundo o estudo, o Brasil tem se consolidado como um dos líderes globais na adoção de inteligência artificial (IA), especialmente na versão generativa, que cria conteúdos como textos, imagens e músicas. O estudo foi feito com 21 mil pessoas em 21 países. O Brasil apresenta não só um uso elevado, mas também otimismo em relação ao potencial transformador da tecnologia. De acordo com o especialista em IA aplicada Fábio Figueroa, esse destaque é reflexo de uma cultura tecnológica que sempre abraça inovações rapidamente.
“Por exemplo, a gente é o terceiro País do mundo que tem mais uso de redes sociais. O brasileiro, por padrão, gosta muito de tecnologia, ele gosta muito de usar tecnologia, de novidade. Acredito que por isso que a gente está ali entre os primeiros países que usam mais IA generativa. A IA generativa veio como uma grande novidade, viralizou nas redes sociais. Eu acredito que isso impulsionou o uso de muita gente”, diz Figueroa.
No Rio Grande do Norte, o cenário segue a tendência nacional, dizem os especialistas. O estado já conta com startups que desenvolvem soluções baseadas em IA, além de iniciativas educacionais que promovem o uso da tecnologia. O professor Patrick Terrematte, especialista em aprendizado de máquina do Instituto Metrópole Digital (IMD), destaca que as parcerias acadêmicas e público-privadas estão impulsionando o uso da IA na região.
“Há diversos mercados emergentes importantes surgindo no uso da Inteligência Artificial aqui no Rio Grande do Norte, em especial, através de parcerias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e iniciativas públicas e privadas, através do Metrópole Parque, polo referência em startups, inovação, empreendedorismo e capacitação no Rio Grande do Norte”, explica Terrematte.
Apesar dos avanços, especialistas apontam adversidades. Muitos usuários ainda utilizam IA de forma experimental, sem explorar todo o seu potencial estratégico. Fábio Figueroa observa que, embora haja um interesse crescente, falta formação específica para transformar a IA em uma ferramenta prática de aumento de produtividade e inovação. “Tem muita gente usando nessa onda da novidade, mas talvez ainda falte aquele ‘estalo’ de como é que eu faço isso ser algo útil e me retornar, por exemplo, uma eficiência maior no meu trabalho”, destaca.
Impactos econômicos e sociais
A pesquisa destaca que 60% dos brasileiros acreditam que a inteligência artificial pode gerar maior expectativa de ganhos econômicos, enquanto 68% confiam que as mudanças causadas pela tecnologia no mercado de trabalho serão positivas. Esses dados colocam o Brasil à frente da média global em termos de otimismo e aceitação da IA como ferramenta transformadora.
Para o especialista em IA aplicada Fábio Figueroa, o otimismo dos brasileiros é justificável, mas precisa ser acompanhado de estratégias de qualificação e incentivo. “A inteligência artificial pode ser uma tecnologia estratégica e tem o potencial de trazer excelentes benefícios econômicos. Isso é fato, mas para a gente poder colher esses benefícios, precisamos de uma formação educacional adequada. É fundamental qualificar a mão de obra, porque a IA vai dominar o mercado como um todo nos próximos anos”, afirma Figueroa.
O impacto econômico também é percebido no mercado de trabalho, onde a pesquisa indica que apenas 15% dos brasileiros que se veem impactados pela IA acreditam que precisarão buscar um novo emprego, número que caiu de 20% em 2023. Em vez disso, 44% esperam que a tecnologia permita que realizem mais tarefas em menos tempo. Casos como o da Lize Edu, empresa potiguar que utiliza IA no setor educacional, exemplificam como a tecnologia pode aliviar a carga de trabalho e aumentar a eficiência.
Segundo Luiz Gonzaga Carvalho, fundador da Lize Edu, a IA já transforma o dia a dia de professores ao otimizar tarefas como a elaboração de provas e listas de exercícios. “A gente começa a usar inteligência artificial para potencializar o trabalho do professor. Ele manda um comando no sistema e já recebe sugestões de questões com base no nosso banco de dados. Reduzimos em 35% o tempo de criação de provas, ajudando o professor a focar em outras demandas importantes”, explica Carvalho.
No Rio Grande do Norte, o impacto econômico e profissional da IA também começa a ser sentido em outros setores. Gabriella Aguiar, empreendedora na área de comunicação em Natal, destaca os benefícios da tecnologia em sua rotina diária. “Hoje, a maioria dos textos que produzo para o digital é otimizada pelo ChatGPT. Acho incrível pela praticidade, mas também preocupante, porque não dá para metrificar até onde esse uso é benéfico em termos de produção”, relata.
Para Patrick Terrematte, o fortalecimento dessas iniciativas é essencial para consolidar o estado como referência regional em inovação tecnológica. “A combinação entre acesso à internet, redes sociais e o gosto da população brasileira por inovação são fatores que explicam o crescimento do uso da IA no país. No Rio Grande do Norte, vemos mercados emergentes importantes surgindo a partir de parcerias acadêmicas e empresariais, o que reforça o potencial local”, pontua.
- Desafios
Embora o Brasil tenha avançado na adoção da IA, especialistas alertam para desafios relacionados à formação e à infraestrutura. Figueroa destaca que o país precisa seguir o exemplo dos Estados Unidos e da China. “Já tem uma disputa geopolítica muito forte acontecendo, porque se entende que a inteligência artificial é uma tecnologia divisora de águas. O Brasil precisa andar para essa tecnologia com uma formação de mão de obra adequada”, argumentou. No âmbito local, Figueroa acredita que o RN tem potencial para se destacar, mas ressalta a necessidade de incentivos. “Muita gente fala que a próxima empresa de US$ 1 bilhão vai ser uma empresa de IA. Pode ser uma empresa potiguar? Pode. A gente tem cabeças para isso, excelentes programadores e profissionais, mas precisa de incentivo”, avaliou.
Tribuna do Norte
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