Foto: Magnus Nascimento
No segundo trimestre de 2025, a renda de trabalhadores informais e autônomos avançou em ritmo superior à dos empregados com carteira assinada, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com o órgão, em comparação com o segundo trimestre de 2024, os celetistas tiveram aumento médio de 2,3%, enquanto os informais cresceram 6,8% e os autônomos, 5,6%. Apesar disso, a renda média dos trabalhadores CLT ainda é mais alta, alcançando R$ 3.171, contra R$ 2.955 dos autônomos e R$ 2.213 dos informais.
Os números do IPEA apontam, no entanto, que a distância salarial entre CLT e autônomos, que em 2021 era de 25%, caiu para 7,3% em 2025, o que reflete uma mudança estrutural no mercado de trabalho. Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do RN (Corecon-RN), Helder Cavalcanti, o país vive um reordenamento no mercado ocupacional.
“Aquele modelo fixo do empregado celetista, com carteira assinada, que construía uma carreira de longo prazo numa mesma empresa, hoje está sendo superado. Atualmente, as pessoas estão muito mais abertas às novas possibilidades. A informalidade chega como uma alternativa imediata ao desemprego, abrindo novos cenários e atendendo ao desafio do desemprego”, avalia o economista. Ele lembra que esse formato já vem substituindo atividades tradicionais, como o serviço de táxi, e se consolidando como um caminho de sobrevivência para diferentes setores.
Essa transformação no mercado de trabalho provoca efeitos diretos sobre a previdência e as contas públicas. Em 2024, a renúncia fiscal com os microempreendedores individuais (MEIs) alcançou R$ 6,44 bilhões, alta de 24,4% em um ano. No Rio Grande do Norte, a expansão da informalidade se reflete nas ruas do bairro Alecrim, onde bancas e pontos improvisados de comércio se tornaram a principal fonte de renda para centenas de famílias.
“A produção de marmitas, doces, bolos gera renda e oportuniza uma circulação maior de bens e riquezas. A economia tem como base a velocidade da circulação da moeda, e isso fortalece a economia”, avalia Helder Cavalcanti.
Comércio informal
No comércio popular de Natal, a realidade confirma os números da pesquisa. Aos 63 anos, Manoel Francisco mantém uma banca no Alecrim há mais de 15 anos. Informal, ele conta que já esteve registrado, mas viu na rua a alternativa para seguir trabalhando após perder o emprego. “Já estou perto da aposentadoria por idade, então já vou ter um salário mínimo garantido, mas vou continuar aqui para complementar”, afirma Manoel, que mantém uma rotina de trabalho de segunda a sábado.
Situação parecida vive Janiere de Melo, 49, que atua no camelódromo do Alecrim. Depois de experiências formais, optou pela informalidade como modo de sustento para a família. Ela diz que todo o patrimônio que conquistou veio da atividade atual, mas reconhece o peso da rotina. “Às vezes a gente chega sem um real no bolso, mas daqui sempre sai alguma coisa. Quero me formalizar até 2026 para garantir mais segurança nos meus direitos”, avalia.
Na opinião de Helder Cavalcanti, o desafio para os trabalhadores é conciliar essa realidade com a proteção social. “A questão previdenciária surge como um grande desafio. É preciso pensar em políticas públicas de forma integrada, tanto na esfera fiscal quanto na previdenciária”, defende o economista.
Tribuna do Norte
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