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sábado, 13 de agosto de 2016

Uber chega a Natal enfrentando rejeição política e dos taxistas



Fonte: Novo 

O serviço de “carona remunerada” Uber pode ser impedido de entrar em funcionamento em Natal antes mesmo de ser lançado oficialmente na cidade. Tramitam pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final da Câmara Municipal de Natal três Projetos de Lei que solicitam o veto da permissividade de operação da empresa na capital potiguar. 
 
A Procuradoria Legislativa está analisando a legalidade das propostas e deve apresentar o seu parecer no início da próxima semana. De acordo com o presidente da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final da Câmara, Felipe Alves, relator do PL, apenas depois dessa avaliação da Procuradoria é que a discussão sobre o tema entrará na pauta do legislativo municipal.
 
Um dos três projetos foi enviado a casa pelo prefeito Carlos Eduardo Alves. Os outros dois são de autoria dos vereadores Adão Eridan e Dagó. Todas as propostas estão direcionadas a impedir o funcionamento do aplicativo na cidade, partindo do pré-suposto de que o Uber criaria uma concorrência desleal com os taxistas que operam no município. 
 
“Acredito que esse projeto seja de interesse público e precise ser avaliado com cautela exigida. Não podemos excluir a possibilidade da população usufruir desse serviço, mas também não podemos permitir a concorrência desleal entre Uber e taxistas”, avaliou Felipe Alves.
 
Ainda não há uma previsão de quando a discussão sobre a Uber entrará em debate no plenário da Câmara dos Vereadores. Felipe Alves, contudo, avalia que a pauta precisa ser apreciada com urgência pela casa. “Temos a informação que a empresa tem sondado motoristas em Natal e acreditamos que em breve ela deve começar a atuar na cidade”, disse Alves.
 
Recentemente, a Uber liberou em seu site o cadastro de colaboradores para Natal. Além disso, a empresa vem oferecendo “sessões de informações” na capital potiguar, no Hotel Majestic, em Ponta Negra. Os encontros acontecem nas terças e quintas-feiras e nos sábados. Nessas sessões são passadas orientações básicas para possíveis futuros colaboradores do serviço.
 
A empresa, contudo, não confirma quando começará a operar na capital potiguar. Limitando-se a informar que as sessões não significam a entrada imediata da Uber em Natal. “Quando houver algo definitivo, faremos um anúncio oficial”, comunicou a empresa.
 
Todavia, o cadastro para começar a operar em Natal já está disponível no site da Uber. Para realizar um registro prévio e entrar em uma espécie de lista de espera basta fornecer dados básicos, como nome, telefone para contato e e-mail. 
 
Em seguida, a empresa entra em contato e pede que sejam enviados documentos específicos, como a digitalização da Carteira Nacional de Habilitação com observação Exerce Atividade Remunerada e documentos pessoais. Todo esse trâmite burocrático, de acordo com o site da empresa, demora cerca de 10 dias.
 
Permissionários divergem sobre sucesso do serviço na capital potiguar
 
A impementação do Uber nas principais capitais do Brasil suscitou um clima de conflito entre taxistas e motoristas do aplicativo. Os primeiros sentem-se prejudicados com os baixos preços praticados pela concorrência e a falta de rigor em sua fiscalização.
 
Tony Xavier é motorista de táxi há aproximadamente cinco anos. Em tom de brincadeira, quando perguntado sobre a implementação do Uber em Natal, Tony sai caminhando por sua praça dizendo não querer ouvir falar do assunto.
 
“É uma questão muito complexa. A princípio, o Uber ia prestar um serviço diferenciado com carros de luxo e profissionais uniformizados oferecendo água, doces e até café. É uma ideia muito bonita, mas na prática não funcionou assim”, diz Tony. 
 
“Eles perceberam que este segmento não trazia uma sustentabilidade financeira e criaram outras categorias mudando os critérios. Agora qualquer carro pode se cadastrar. Nós temos cadastro na Semob, fazemos curso de reciclagem a cada dois anos. O Uber tem o que?”, questiona o taxista, que diz não crer no retorno financeiro prometido pela empresa. 
 
“Eu não sei como eles vão manter o serviço aqui em Natal com os preços que prometem cobrar. Todo mundo quer trabalhar com o Uber, mas Natal não tem passageiro suficiente para essa demanda. Aqui em Natal as pessoas querem o que é novidade. Todo mundo vai querer andar de Uber porque em São Paulo as pessoas andam, mas lá os dois segmentos estão com dificuldade”, ressalta Tony.
 
O presidente da Cooptax (Cooperativa dos Proprietários de Táxi de Natal), Genário Torres, acredita que a chegado do aplicativo vai prejudicar as famílias que dependem do trabalho como taxistas sem trazer maiores benefícios para a população. 
 
“Aqui em Natal existem mais de 3 mil famílias que dependem do taxi. São 1.010 veículos cadastrados na cidade e eu não acredito que existe demanda para aumentar esse fluxo. Tivemos um evento grande que foi a Copa do Mundo e não faltou táxi. Todos os anos temos o Carnatal, que é o maior evento da cidade, e nunca faltou taxi. A cidade não aumentou sua população então como vai existir espaço para o Uber?”, declara Genário, taxista há 34 anos.
 
Além dos questões sobre a demanda da capital potiguar para implementação do Uber, os taxistas também questionam o rendimento prometido pelo aplicativo. Em seu site oficial, a empresa declara que os motoristas cadastrados para executar o serviço de “carona-remunerada” podem apurar até R$ 4 mil reais por mês.
 
De acordo com Genário Torres, esta é a média de rendimento bruto de um taxi que circula 24h por dia em Natal. Isso significa que o valor ainda será dividido entre duas ou três pessoas já que os carros costumam ser compartilhados entre os motoristas. “As pessoas usam o argumento de que o Uber gera empregos, mas não contabilizam o desemprego que pode gerar para as famílias que dependem do taxi”, ressalta Genário.
 
Em contraponto, Michel Souza - taxista há 16 anos - declara que o Uber é uma concorrência válida desde de que seja fiscalizado pelo poder público. 
“Eu acho que esses problemas acontecem porque os taxistas se orgulhavam de ser a única profissão sem concorrência. Então muitos não tratavam os clientes bem ou não cuidavam do carro como uma ferramenta de trabalho. Um atendimento ruim ou um carro sujo geram insatisfação nos passageiros. Se o Uber for fiscalizado eu não acredito que isso será um problema porque estou preparado para a concorrência”, diz Michel Souza.
 
Página presta consultoria a interessados em ser Uber
 
O engenheiro Cláudio Leme é parceiro da Uber desde 2014, quando a empresa começou a operar no Rio de Janeiro. Um dos primeiros a apostar nos serviços da empresa na capital fluminense, Cláudio concilia o trabalho em uma empresa formal com viagens pela Cidade Maravilhosa, conduzindo passageiros entre às 17h e 22h.
 
Por semana, Leme consegue obter um lucro de R$ 1.100, em média. O suficiente para garantir uma renda extra ao fim do mês. Todavia, ele faz um alerta: “os caras [da Uber] não têm pena. Já vi muitos colegas meus afundarem em dívidas por causa do serviço”, disse.
 
Cláudio se refere aos motoristas que fazem altos investimentos, apostam pesado no serviço, mas acabam não obtendo o lucro esperado. Com taxas elevadas, a Uber chega a cobrar até 30% em viagens da categoria Pool, serviço de viagens compartilhadas, onde a corrida é dividida entre mais de um passageiro.
 
“Com o alto preço da gasolina, muitos colegas ficam no prejuízo. Quando eles colocam na ponta do lápis o que recebem e comparam o que gastam a conta muitas vezes não fecha. É preciso ter muita organização”, disse Cláudio. “A Uber também não estabelece vínculos trabalhistas, então você não tem a segurança de ter uma reserva caso aconteça algum problema”.
 
Para evitar que muitas pessoas percam dinheiro com o serviço, Cláudio criou uma página no Facebook onde presta consultoria aos interessados em se filiar à empresa. Cláudio revela que já recebeu mais de 300 mensagens de pessoas interessadas em se cadastrar na capital potiguar.
 
“As pessoas querem comprar carros novos para trabalhar com a Uber. Elas estão dispostas a fazer de tudo para se tornar motorista do Uber. A nossa intenção é auxiliar essas pessoas para evitar que elas cometam esse erro, façam compras caras e acabem ficando no prejuízo”, conta Cláudio.
 
A página, intitulada “Uber Natal e Parnamirim” está ativa desde maio. Cláudio, que tem avaliação de 4,8 no aplicativo da empresa (o máximo é 5), afirma manter contato direto com a direção do Uber, mas diz fazer o trabalho de orientação apenas como forma de ajudar novos cadastrados na empresa. “É um trabalho voluntário, sem nada em troca”, conta.


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