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segunda-feira, 28 de julho de 2025

Ultraprocessados são quase 19% das calorias diárias no RN


  Foto: Anderson Régis

O ritmo acelerado da vida moderna tem empurrado a população para escolhas alimentares rápidas, práticas e nem sempre saudáveis. No Rio Grande do Norte, os alimentos ultraprocessados — ricos em açúcares adicionados, gorduras trans, sódio, conservantes e outras substâncias sintetizadas em laboratório — já representam 18,7% do total de calorias consumidas diariamente pela população. O dado é de um estudo do Núcleo de Estudos Epidemiológicos em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP).

Para determinar esses percentuais, os cientistas combinaram informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017–2018) com dados do Censo de 2010. Embora a média brasileira gire em torno de 20%, algumas cidades potiguares ultrapassam esse índice. É o caso de Natal, onde os ultraprocessados representam 21,2% das calorias diárias e Parnamirim 20,3%. O estudo aponta ainda que, em geral, as capitais tendem a registrar percentuais mais altos de consumo do que os demais municípios de seus respectivos estados.

Em comparação com outras regiões do país, o Nordeste apresenta uma das médias mais baixas de consumo de ultraprocessados: apenas 14,4% das calorias diárias vêm desse tipo de alimento. Entre os estados com menor participação estão, em ordem crescente, Piauí, Maranhão e Paraíba.

Outras cidades em destaque no consumo de ultraprocessados são Mossoró 18,0%, Caicó 17,5% e Extremoz 17,3%. Por outro lado, os municípios que menos consomem são Paraná e Jardim de Angicos com 13,2%.

A classificação Nova, criada para agrupar alimentos conforme seu grau de processamento industrial, divide-os em quatro grupos. Os mais saudáveis são os in natura, obtidos diretamente de plantas ou animais sem alterações. Os minimamente processados são os que passam por etapas como moagem, secagem ou pasteurização, sem adição de substâncias, como arroz e feijão. Já os processados recebem adição de sal, açúcar ou outros ingredientes para aumentar a durabilidade e o sabor, como conservas.

De acordo com a nutricionista Leticya Almeida, os ultraprocessados são formulações industriais feitas, em grande parte, de substâncias extraídas ou sintetizadas, com aditivos como corantes, aromatizantes e emulsificantes. Esse tipo de alimento tem baixa densidade nutricional, ou seja, oferece pouco ou quase nenhum nutriente essencial, como vitaminas, minerais e fibras. “Eles apresentam alta densidade calórica, concentrando muitas calorias em porções pequenas. Isso quer dizer que em um baixo volume do alimento tem alta quantidade de calorias. Esses alimentos têm impacto direto na saúde dos indivíduos”, explicou.

Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, revelam que até maio de 2025, 42,09% da população adulta do Rio Grande do Norte apresentava algum grau de obesidade. Conforme a pesquisa, o estado tem o segundo maior índice de obesidade entre adultos em todo o país.

O aumento da ingestão de alimentos ultraprocessados acende um alerta sobre os impactos desse padrão alimentar na saúde pública. “O excesso pode contribuir diretamente para doenças crônicas não transmissíveis, a exemplo da diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares”, explica a nutricionista

Em contrapartida, aos ultraprocessados, Almeida reforça que os alimentos in natura ou minimamente processados são ricos em nutrientes essenciais, além de contribuírem para o fortalecimento da saúde e para a prevenção dessas doenças. “Alimentos in natura têm propriedades anti-inflamatória, antioxidante, antidiabética, anti-obesidade, anticancerígena”, conta.

Aditivos para atrair o cérebro

De acordo com Almeida, esses produtos são desenvolvidos para serem altamente atrativos ao paladar. “Contêm aditivos como corantes, aromatizantes, emulsificantes e estabilizantes. Esses compostos conferem cor, sabor, textura e cheiro mais intensos, tornando-os hiperpalatáveis, que é justamente para atrair os consumidores e fazer com que eles consumam cada vez mais”, disse.

O açúcar é um ingrediente comum e muitas vezes escondido em alimentos ultraprocessados. O consumidor Gil França é católico e fez recentemente o voto de passar 40 dias sem consumir açúcar. Ele aproveitou a oportunidade para adotar um estilo de vida mais saudável, com atividade física e alimentação. Ele conta que seu esposo gosta muito de doces e, por isso, costuma levar guloseimas do supermercado para agradá-lo, como biscoitos recheados. “Acho que tem que existir o equilíbrio, né? Eu vivi esse amor radical, mas foi meu propósito mesmo”, contou.

Dicas para comer mais saudável

A principal dica é evitar levar ultraprocessados para casa. “Se esses alimentos estão disponíveis, em um momento de fome, as pessoas acabam cedendo e consumindo”, alerta. A dona de casa Maria Lourdes segue bem essa dica e evita o máximo produtos industrializados no carrinho. “ Aconselho que não comprem. Não gosto quando vejo o pessoal dando salgadinho para crianças comerem. Tem que comprar coisas que façam bem”, disse enquanto enchia o carrinho de verduras.

Segundo a nutricionista, é comum que a praticidade dos ultraprocessados seduza quem tem pouco tempo disponível, mas ela defende que há alternativas viáveis e saudáveis mesmo para as rotinas mais corridas. “Uma dica é já deixar porcionado e cortado. Por exemplo, comprou fruta no supermercado, quando chegar, já higieniza e já deixa separado”. Ela indica ainda uma opção de lanche saudável: “É só pegar aquela fruta que já está cortada, com iogurte e uma aveia, pronto. Já tem uma opção de lanche prático, saudável e bem rapidinho”, explica.

O rótulo dos produtos industrializados pode ser uma importante ferramenta de avaliação. Ela orienta que os consumidores observem a lista de ingredientes: “por lei é obrigatório que esses ingredientes sejam dispostos em ordem decrescente de quantidade, isso quer dizer que, quando a gente olha na lista de ingredientes, o que aparece primeiro quer dizer que está presente em maior quantidade e o último em menor quantidade.”

Os alimentos in natura ou minimamente processados são ricos em nutrientes essenciais, além de contribuírem para o fortalecimento da saúde e para a prevenção de doenças crônicas. “Alimentos in natura têm propriedades anti-inflamatória, antioxidante, antidiabética, anti-obesidade, anticancerígena”, conclui.

  • Como identificar alimentos ultraprocessados

Um dos sinais mais evidentes de que um produto é ultraprocessado está na embalagem. Enquanto alimentos in natura chegam à mesa sem rótulos, os industrializados vêm cercados de informações que, quando bem interpretadas, ajudam a identificar sua composição e nível de processamento.

A leitura da lista de ingredientes é essencial. Produtos com muitos itens, nomes técnicos ou substâncias pouco familiares ao cotidiano doméstico — como espessantes, emulsificantes, aromatizantes ou realçadores de sabor — são fortes candidatos a ultraprocessados. Esses ingredientes, muitas vezes produzidos exclusivamente para uso industrial, dificilmente seriam usados em uma cozinha comum.

Outro indício importante está na complexidade do produto. Alimentos como salsichas, biscoitos recheados, salgadinhos e sucos em pó são exemplos clássicos de itens que não podem ser reproduzidos em casa com ingredientes simples. Isso acontece porque sua fabricação depende de processos e substâncias que extrapolam a culinária convencional.

A proporção entre ingredientes naturais e artificiais também deve ser observada. Em ultraprocessados, frutas, cereais ou leite costumam aparecer em quantidade mínima ou diluída, apenas como atrativo comercial. O destaque, nesses casos, vai para o açúcar, sal, gordura e aditivos, usados em excesso para acentuar sabor, textura e durabilidade.

Por fim, o impacto no consumo diário ajuda a reconhecer esse tipo de alimento: os ultraprocessados tendem a substituir refeições completas ou itens nutritivos, como frutas e leite, por versões empobrecidas e calóricas. Essa substituição, muitas vezes imperceptível na rotina, é um dos maiores desafios para uma alimentação realmente saudável.

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