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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Falta de concorrência no refino eleva preços dos combustíveis no RN, diz Sindipostos


Magnus Nascimento

Na última quinta-feira (20), a 3R Petroleum, empresa que controla os poços petrolíferos maduros do Rio Grande do Norte e a refinaria Clara Camarão, em Guamaré, na Costa Branca, anunciou um novo reajuste no preço do litro da gasolina tipo A (pura). O aumento, o segundo consecutivo, em julho, é de R$ 0,13. Maxwell Flor, presidente do Sindipostos-RN, disse ainda não saber se ou quando a alta chegará ao consumidor final, mas admitiu que a margem de lucro dos postos está “muito sacrificada”. Para ele, a falta de concorrência no mercado, com a privatização de refinarias, é o principal motivo para as elevações.

Conforme anunciado pela 3R, o litro da gasolina, que já havia aumentado R$ 0,34 – de R$ 2,61 para R$ 2,95 no dia 13 deste mês, passou para R$ 3,08 na quinta passada, quando foi comemorado o Dia do Revendedor de Combustíveis. Para comemorar a data, na sexta-feira (21), o ClubPetro – aceleradora de resultados para postos de combustíveis, realizou o “Conexão Revenda”, uma feira de negócios para o ecossistema, em parceria com o Sindispostos-RN.

Durante o encontro, que reuniu mais de 300 participantes, Maxwell Flor, do Sindicato, comentou sobre o aumento, que representa uma alta de 18,4% em relação ao dia 29 de junho, quando o litro na refinaria era vendido a R$ 2,60. Desde que assumiu as operações, a 3R fez sete reajustes de preço, a maioria para menos, sendo que o valor mais baixo foi registrado exatamente no dia 29 do mês passado. O valor atual é o mais alto desde o início da exploração da empresa nos campos do RN. Se comparado ao início da operação, no dia 8 de junho, quando a 3R anunciou a venda do litro a R$ 2,91 na refinaria, o aumento é de 8,4%.

“Mãos atadas”

Com os aumentos, Maxwell Flor, do Sindipostos, diz que o setor se sente de “mãos atadas”, porque a alta é considerada ruim para a margem de lucro dos revendedores. “O que acontece é o seguinte: o modelo de negócio para abastecimento no Brasil foi de refinarias complementares – no nosso caso, além da Clara Camarão, se complementam as refinarias da Paraíba, de Pernambuco e da Bahia. Com as privatizações [além da refinaria do RN, a da Bahia também foi vendida], fica uma espécie de monopólio na região, porque não tem concorrente próprio”, explica Flor.

“Nossos revendedores até tentam buscar combustível em outros estados, mas existem limitações, porque a distribuidora local tem contrato de fornecimento com a refinaria Clara Camarão e é preciso cumprir esse contrato. Quando o posto é bandeirado, só é possível pegar combustível onde a distribuidora disser que tem. E quando se consegue a opção de buscar a gasolina fora, mais barata e com uma condição melhor, o frete é alto. Então, a melhor coisa para o preço melhorar é aumentar a concorrência”, detalha.

De acordo com Maxwell Flor, quando existe a tentativa de comprar combustível fora, as opções, geralmente, são os estados de Pernambuco e Paraíba, onde, após o mais recente anúncio da 3R, o litro da gasolina é vendido nas refinarias, segundo o Sindicato, a R$ 0,68 (PB) e R$ 0,67 (PE) mais baratos do que no Rio Grande do Norte. “Desde que assumiu, a empresa fez várias mudanças e, hoje, a gente vê  que ela está cobrando quase R$ 0,70 centavos a mais do que é cobrado na Paraíba e em Pernambuco, nossos vizinhos”, diz.

Refinaria do RN tem preços acima de outros estados

A refinaria Clara Camarão ainda não entrou em sintonia com o mercado após a privatização e os preços daqui estão bem maiores do que os do Complexo Industrial de Suape (PE). Este é um dos fatores responsáveis pela diferença nos valores cobrados pelo litro da gasolina no Rio Grande do Norte e no Estado pernambucano, de acordo com o vice-presidente da Fecombustíveis no Nordeste, Alfredo Ramos. Além disso, para ele, Pernambuco possui uma oferta de produtos e distribuição bem superior à do RN, o que permite preços mais em conta ao consumidor final.

Ramos também é presidente do Sindicombustíveis-PE e esteve em Natal para participar do “Conexão Revenda” na última sexta-feira. Questionado sobre o porquê das diferenças de valores entre as duas unidades federativas, Alfredo Ramos foi enfático:  “Pernambuco é um polo distribuidor, desde o Norte da Bahia, passando por boa parte de Alagoas, Sergipe e RN, além de Cariri (CE)  e toda a cadeia dentro do próprio Estado. Em Pernambuco, existe muito produto, então, o preço é mais barato, ao contrário daqui. Hoje, com a monofasia [novo modelo de cobrança de impostos para a gasolina], está mais barato pegar o combustível na Paraíba e principalmente em Pernambuco, onde a oferta é bem maior”, explicou.

“Além disso, com a privatização da refinaria no RN, que ainda não entrou em sintonia [com o mercado], os preços estão muito maiores do que os de Suape. Esse é outro diferencial”, acrescentou Ramos. Já no âmbito nacional, de acordo com James Thorp, presidente da Fecombustíveis, a avaliação é de o mercado está altamente competitivo. “Hoje quase 50% dos postos, segundo a Agência Nacional do Petróleo, são bandeira branca, ou seja, têm liberdade de escolher as próprias distribuidoras de fornecimento. São mais de 42 mil postos que competem entre si em todo o Brasil”, frisa Thorp.

Apesar disso, o presidente da Fecombustíveis avalia que existem gargalos, como a alta carga tributária para o setor.  “Nós passamos por um momento de desoneração no ano passado, muito importante para a população e para os postos. Ao contrário do que se acredita – de que quanto mais caro, melhor para o posto – a verdade é que, quanto mais barato, melhor, porque a tendência é ter um volume de vendas maior, como também de capital de giro”, sublinha.

James Thorp diz que enxerga com preocupação o retorno da carga e afirma ter boas expectativas em relação à reforma tributária. “A volta da carga de impostos acaba ocasionando a elevação dos preços, o que é muito ruim. Com relação à reforma, a gente observa que não haverá grandes mudanças, mas como o texto ainda está sendo votado no Senado, a gente aguarda para ter um posicionamento mais seguro”, disse, durante o Conexão Revenda.

Ricardo Passos, CEO do Clubpetro, que organizou a feira de negócios em Natal, chamou atenção para o fato de que, mesmo sendo um dos setores que mais geram tributos para o País, as mudanças que vêm ocorrendo nos últimos anos, indicam para a necessidade de novas formas de atuação dos revendedores. “Isso significa que o setor precisa entregar o melhor atendimento, além do melhor produto para que haja um diferencial para o motorista, que é o consumidor final”, explica.

No Rio Grande do Norte, o segmento de revenda e distribuição de combustíveis foi o que teve o maior aumento de operações de vendas em maio deste ano, se comparado com igual período do ano passado. O crescimento foi de 18% com vendas que atingiram R$1,67 bilhão no quinto mês de 2023, segundo a organização da feira. O Conexão Revenda é um evento itinerante e atende aos revendedores de diversas cidades do Brasil. Neste ano, a feira já passou por Imperatriz (MA), Cariri (CE) e Feira de Santana (BA). A edição potiguar contou com o apoio do Sindipostos-RN, Sindipostos-PB e Sindipostos-PE.

Bate-papo com Ricardo Pires - CEO do Clubpetro e vice-presidente do Minas Petrobras

Como o setor se posiciona hoje no mercado econômico brasileiro?
O setor de combustíveis é um dos maiores geradores de tributos do País, por meio do ICMS e no Conexão, nós temos a oportunidade de discutir melhorias para ele. Estamos passando por várias transformações, como a transição energética e as mudanças de tributação. Outra coisa: o valor do combustível hoje acompanha o mercado internacional e o posto de abastecimento virou o elo mais fraco da cadeia, porque muitas vezes é somente quem o motorista enxerga. Nunca se  enxerga a distribuidora e a rentabilidade dela, ou a refinaria. Também não se sabe quanto o Governo arrecada, porque o que dói para o consumidor é o preço de bomba. Então, o revendedor fica, a cada dia, em uma situação mais complicada. Estamos buscando discutir melhorias, oportunidades de negócio e transição energética. 

Nós tivemos vários aumentos para a gasolina em 2022. Depois os preços caíram e voltaram a subir este ano. Você avalia que os preços  poderiam ser melhores?
Apesar de o Governo atual dizer que os preços não iriam acompanhar o mercado internacional, o que acontece, de fato, é o contrário. Por isso, esses aumentos agora. O combustível é uma commodity, segue o preço internacional, a variação do dólar e a arrecadação de impostos. Muitas vezes os governos – estaduais e federal, querem que os postos diminuam valores, mas não abrem mão da própria margem. Hoje, com a guerra na Ucrânia e o cenário de mudança energética, os pontos de abastecimento ficam vulneráveis. Então, é preciso pensar no futuro e buscar novas oportunidades, seja com loja de conveniência, com troca de óleo ou serviços agregados, porque o combustível é algo que tem uma rentabilidade baixa.

Então, os preços poderiam ser melhores? 
Isso só seria possível se houvesse uma tributação melhor. A carga tributária do setor é altíssima. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela é de 7%. No Brasil, chega a 50%, muitas vezes. E o posto coloca a margem em cima do produto que chega para ele com toda a carga de impostos. Mas essa margem, repito, normalmente é baixa.

Números

Confira a evolução de preços da gasolina na refinaria de Guamaré, após início das operações da 3R em 8 de junho.

08/06: R$ 2,91
15/06: R$ 2,85
22/06: R$ 2,83
29/06: R$ 2,60
06/07: R$ 2,61
13/07: R$ 2,95
20/07: R$ 3,08

TRIBUNA DO NORTE





 

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