Foto: Adriano Abreu
O novo prefeito ou prefeita de Natal terá entre os desafios da gestão promover o desenvolvimento econômico da cidade. Segundo o IBGE, considerando apenas o valor do PIB dos municípios das capitais, Natal apresentou uma queda de 1,5%, passando de 31,7% em 2020 para 30,2% em 2021. No ano de 2002, a cidade tinha 36,3% em participação do PIB dos municípios das capitais no PIB do Brasil.
A queda de posições já vinha sendo percebida nos anos anteriores. Com R$ 23,8 bilhões, a capital potiguar tinha o 40º maior PIB do país em 2018. No ano anterior, ocupava o 31º lugar. Para o presidente do Conselho Regional de Economia do estado (Corecon/RN), Helder Cavalcanti, o prefeito (a) precisará olhar para a gestão com a visão de um executivo, identificando os problemas imediatos, cuja solução repercuta nos outros, numa espécie de efeito dominó.
A mobilidade urbana será fundamental nesse processo e pode ajudar a conter o esvaziamento das tradicionais áreas comerciais, que necessitam de incentivos fiscais, segundo ele. Helder também sugere implementar o Plano Diretor, garantindo segurança jurídica para novos investimentos. Também entram no processo as Parcerias Público Privadas (PPP), com uma clara parametrização das regras. Tudo isso para impulsionar a economia natalense que, avalia, ficou estagnada.
Quais os desafios econômicos que a nova gestão municipal de Natal precisará enfrentar?
O primeiro dia desse gestor é para um olhar sobre o orçamento. Seria um olhar para a estrutura administrativa para ver o que é que pode otimizar em termos de secretarias, de órgãos que podem ser melhor utilizados e que gerem resultados financeiros. De posse disso, é observar os problemas mais críticos que a gente tem. Há discussões sobre essa necessidade de se ligar à zona Norte com uma nova ponte, de ligar a cidade como um todo, mas é preciso ter o olhar sobre geração de renda, de economia. Se construirmos uma ponte que interligue a zona Norte ao centro da cidade, eu trago a população que consome para os ambientes de consumo, como o Alecrim e a Cidade Alta, até à Ribeira, que estão hoje num processo crítico de abandono
Falando nesses centros de consumo ficando ociosos, o que falta para que mude esse quadro de esvaziamento neles?
A cidade cresceu, ganhou uma dimensão, a zona Norte hoje é uma cidade à parte. E, assim, esse consumidor está ali e eu preciso trazer ele para cá. Aquilo que é falado nas campanhas, precisa ter essa conotação mais clara e objetiva. Então eu preciso fazer algum mecanismo para isso. Aí entra a questão do trem urbano, a questão da ponte, que dê flexibilidade às pessoas de uma forma mais fácil, mais barata e que a gente traga essa população para ser os trabalhadores desses espaços também. A própria malha viária não acompanhou o desenvolvimento da cidade. Tem determinadas linhas de determinadas regiões que não te atende se você trabalhar lá, como para quem mora na zona Norte e trabalha na Via Costeira, ou em Ponta Negra.
Então, o senhor vê o transporte público como importante para manter esses centros pujantes?
Isso precisa ser percebido, precisa ser mapeado. Então, assim, toda essa dinâmica precisa de uma leitura para poder a gente tornar a Natal também uma capital à altura do que o turista que venha para cá espera.
Políticas de incentivos fiscais podem contribuir nesse processo?
Podem e devem, dentro do orçamento. Épapel do setor públicoatrair investimentos para a cidade. Esse incentivo fiscal precisa ser dado e segurança jurídica também. Nós temos um Plano Diretor que é uma oportunidade de trazer novos investidores e precisa ser trabalhado e amplamente divulgado. Nossa Via Costeira é linda, mas ela é pouco acessível. Então, esses espaços precisam ser pensados, precisam ser humanizados e integrados.
Como o senhor mencionou, o Plano Diretor com os instrumentos que ele traz contribuem?
Contribuem se forem bem trabalhados. Porque assim, a segurança jurídica é o Plano Diretor. O investidor que vai aportar um recurso considerável precisa ter todo o aparato, a segurança jurídica, transparência para o negócio. Um hotel, ele precisa de garantias ambientais, legais, para não acontecer como aconteceram com algumas estruturas que a gente tem hoje embargadas. A legislação é muito rígida, tem lá as suas justificativas, mas que aí entra o papel do gestor de tentar criar mecanismos de atração.
Nesse sentido, o Plano Diretor precisa ser uma lei revisada com mais freqüência?
Exatamente. Ela precisa ser revisada. A nossa economia passa por uma transformação. Hoje os mercados estão muito integrados. A globalização tem alguns aspectos que não são tão bem aceitos, mas tem outros que são fundamentais. Cidades como a nossa têm toda uma característica de hotelaria, de eventos e tem soluções que já foram desenvolvidas. Então, é sair daqui, olhar e se inspirar no que já foi feito
Como o senhor avalia o comportamento da economia de Natal nas últimas décadas?
Lamentavelmente, não me deixa feliz colocar essa afirmação, mas ela estagnou. Em diversos indicadores de desempenho, você percebe o salto de João Pessoa/PB, Maceió/AL, Fortaleza/CE, que já é uma estrutura maior, mas o salto é muito grande. Eu sempre coloco que não precisa criar nada novo que, apesar de ser muito legal. Mas você também pode copiar, entender aquele modelo e adequá-lo à sua realidade.
O que aconteceu para a economia natalense estagnar, na sua visão?
Eu acho que faltou um olhar mais ousado, mais inovador, mais atento às características da nossa economia, especificamente, o nosso poder de renda, toda a realidade que a gente tem hoje. O meio circulante hoje é muito intenso, é muito forte. Você tem um dinheiro rodando. Então precisa ter um olhar mais aguçado sobre isso. Existe na zona Norte uma região que é semelhante ao comércio de rua de São Paulo. Aquilo ali nasceu empiricamente. O que é que é aquilo? O que é que gira naquele comércio? Como é que as coisas acontecem ali? Aí o setor público pode chegar ali e ajudar. Ou seja, o município não consegue chegar junto.
Se refere à mais receita para o Município?
Muito além da arrecadação, é a circulação do dinheiro. Porque aquele cidadão ali vai pagar imposto, ele vai gerar emprego, ele fomenta novos negócios. Onde tem esse comércio estabelecido, precisa de uma escola, precisa de uma farmácia. Então, o dinheiro começa a girar em torno. Na hora que o Estado chega como um braço para auxiliar aquele mecanismo ali, ele pode aumentar todo esse poderio econômico que nasceu ali.
Como o senhor vê a questão das Parcerias Público Privadas? É o caminho?
É uma solução viável porque já é implementada em vários outros municípios. Agora, como tudo, precisa ser bem gerido. Tem que haver todo um processo de parametrização das regras. O que é que o privado tem que fazer, o que é que o público tem que fazer, quais são os resultados que nós estamos buscando. E veja só, tudo que a gente está falando aqui é gestão. Então, se a gente for colocar um elemento que falta dentro de todo o processo, é gestão, gestão efetiva. Os nossos recursos são maravilhosos. O nosso clima é único, o nosso oxigênio é maravilhoso, é um dos melhores do mundo, essa é a qualidade de vida, você pode trazer investidores, moradores para cá.
Mas a cidade tem algumas limitações, como por exemplo, o Porto numa cidade que gira em torno desse turismo de sol e mar…
Sim, sim, estão se tomando as atitudes que deveriam ser tomadas já há algum tempo e isso é muito salutar, como a questão da construção das defensas da ponte. Na hora que eu venho para cá e vou aportar meu negócio, eu tenho que escoar a minha produção, então uma das coisas que eu vou olhar é porto e aeroporto. O nosso aeroporto está tomando uma outra dimensão, mas precisa de mecanismos de acesso ao aeroporto que está faltando também, infraestrutura, a mão do poder público de uma forma que seja um impulsionador da economia, não limitador. Na economia a gente sempre diz que o dinheiro quanto mais rápido ele gira, mais riqueza ele gera.
Desenvolvimento econômico está ligado ao desenvolvimento social, especialmente no quesito educação?
Sim. A gente hoje vive uma sociedade em que a educação está além da sala de aula. O empresariado já entende a necessidade de trabalhar educação no ambiente de negócios, por exemplo. No Conselho de Economia, estamos levando educação financeira para escolas, igrejas, empresas para as pessoas aprenderem a gerir suas finanças de forma mais saudável. Nossa preocupação é para as pessoas aprenderem a fazer bom uso do recurso financeiro, gerando riqueza.
Quem
Helder cavalcanti é o economista presidente do Corecon/RN, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com especialidade em Gestão Empresarial e Gestão Estratégica de Comunicação. Dentre outras atuações, ele foi gerente de Comunicação Institucional, Marketing e Sustentabilidadeda Neoenergia Cosern, entre 2008 a 2010; e diretor regional do SENAC/RN de 2011 a 2014.
Tribuna do Norte
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