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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Economia: “É preciso planejar, saber o que fazer para quando a crise passar”


A economista Tânia Bacelar fala sobre desafios e oportunidades de crescimento para o Brasil e o Nordeste, em tempos de turbulências

Fonte: Tribuna do Norte 

A economista Tânia Bacelar defende ajustes na economia, mas opina que o debate mais importante neste momento é sobre o que fazer após o período de turbulências e que o Nordeste precisa estar atento para não ficar de fora da agenda de projetos e investimentos. Ela esteve em Natal esta semana, quando apresentou um raio-x do cenário atual e das oportunidades de crescimento que existem ao Conselho Deliberativo  do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa no Rio Grande do Norte (Sebrae RN) e a gerentes e técnicos da entidade. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, após a apresentação, a economista também falou sobre o papel da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que considera enfraquecido. A Superintendência  foi criada em 1959 dentro de uma estratégia do governo federal para fomentar o desenvolvimento nordestino, reduzindo as disparidades  entre a região e as demais do país. Chegou a ser extinta no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e foi recriada anos depois, no governo Lula (em 2007). “O problema é que a Sudene foi recriada, mas não tem instrumento e nem apoio político”, diz Tânia, que foi economista da autarquia durante 20 anos. Confira a entrevista:m meio a crise econômica, como a senhora analisa 2015?
A perspectiva é que 2015 seja um ano de ajuste fiscal. A inflação continuará em alta. O Brasil não aceita uma inflação em 8% ao ano. No passado, já tivemos índices maiores, com inflação em 84% ao mês, mas esse tempo já passou e hoje a população não suporta isso. O ajuste precisa mesmo ser feito, mas é muito difícil resolver a inflação só com a questão monetária.

E o que mais precisa ser feito?
O grande debate que está faltando é: O que fazer para além do ajuste? Para onde a economia vai? O Brasil tem grandes potencialidades. E temos uma história com períodos curtos de recessão, devido a estes potenciais. Mas é preciso planejar, ter alternativas, se preparar, saber o que fazer para quando esta crise passar. Falta debater quais são os cenários pós-ajuste? Quais são as prioridades para 2016, 2017, 2018...?

E o que deve ser prioridade, na avaliação da senhora?
Investimentos. A grande discussão é onde e que tipo, porque a natureza do investimento é que define onde vai ser aplicado. Como o meu estudo é mais voltado para o Nordeste, isso ás vezes me preocupa. Porque se for investimento em infraestrutura por este modelo de concessão pode ser que saiamos prejudicados, porque poderemos ficar fora da agenda. Pelo mapa de concessões rodoviárias de 2012, o que se vê que as ligações da malha se concentram no Centro-Oeste e Sudeste  chegando até  a Bahia onde já há um volume de carga sendo transportadas e, por isso, há interesse dos investidores. Mas se não houver investimento em infraestrutura no restante, como fazer para o Nordeste ficar mais produtivo, mais competitivo? Como irá escoar a produção? Não se pode isolar e limitar o investimento e a infraestrutura onde já se tem fluxo e, sim,  ampliar para que este desenvolvimento atinja todos os patamares. O modelo tende a concentrar os investimentos em infraestrutura onde a competitividade já é maior.

O crescimento da economia vinha sendo puxado pelo consumo das  famílias, nos últimos anos. Com a recessão e queda no consumo, qual o cenário sobretudo para o Nordeste?
O consumo é muito importante para todo o país, quando se lê a composição do PIB pela lado da demanda  quem puxa o crescimento é o consumo das famílias. O Brasil não é um Japão ou uma Coreia que cresce para fora. O Brasil cresce para dentro. O consumo das famílias é uma variável estratégica e que precisa estar no eixo de  crescimento daqui pra frente.

Mas que já sofre uma retração?
Sofreu  em um período recente. Mas ainda há demanda insatisfeita no Brasil e precisamos avançar mais, não podemos regredir à concentração de renda no Brasil. O Brasil de antes comportava um modelo em que quanto mais a renda crescia, maior era a concentração. E essa experiência com as políticas sociais mostra que a gente conseguiu reverter esta situação. A renda cresceu, mas a concentração diminuiu, houve uma distribuição maior desta renda e isso bateu no Nordeste com muita força.  O que é uma herança importante deste período.  Nas políticas sociais o Nordeste foi bastante beneficiado, porque concentramos um 50%  dos pobres do Brasil e por isso levamos 55% do Bolsa Família, seguido pelo Sudeste com 25% que é o segundo maior bolsão de pobreza do país está na periferia das grandes cidades do Sudeste brasileiro. E na política do salário mínimo, o impacto foi maior no Nordeste e o Norte, que estão nesta faixa de renda. Isso fez o Nordeste crescer em uma média maior que a Nacional, mas não foi só por isso.

A que mais?

Aqui no Nordeste, o modelo funcionou mais do que no restante do país, porque conseguiu aliar o crescimento da renda a um incremento com um bloco de investimento que foi montado recente. E também mudanças nas estruturas produtivas. As bases tradicionais perderam peso relativo, a economia no Semiárido e no Litoral. Há uma mudança nos arranjos. Com avanços significativos do terciário, em serviços de educação, saúde, um comércio mais moderno, serviços às empresas, houve um  fortalecimento da indústria de transformação e da construção civil, porque para voltar os investimentos precisa da construção civil, e o dinamismo do agronegócio, mais voltado para a produção de grãos e de frutas.

Há linhas de pesquisadores que defendem que as políticas sociais adotadas pelo governo, distribuíram renda, mas não foi acompanhada por uma política de geração de riqueza, do PIB, deixando essa conta pra ser paga pela iniciativa privada. Como a senhora avalia...
Eu discordo totalmente dessa linha. Porque a maior política de distribuição de renda do Brasil mais impactante, o Bolsa Família, leva 0,5% do PIB do Brasil. Não foi ter colocado ali que fez falta em outro lugar. E para as famílias que recebem faz uma diferença gritante, a mudança na migração das bases do estrato social foi muito significativa nos últimos anos com a redução da pobreza no país. Uma mãe que não sabe se vai ter como alimentar o filho no dia seguinte é insuportável no século XXI. É meio por cento do PIB, não foi isso que atrasou o Brasil como alguns dizem. A gente paga 45% do orçamento da União de juros. É o mesmo país. E foi a política social?

Já que a senhora falou nos  juros, como estas elevações seguidas nas taxas básicas devem repercutir na economia, no consumo?O aumento de juros retrai ao consumo porque encarece o crédito. Quem já está bastante endividado, condição de boa parte das famílias deve colocar ainda mais o pé no freio...

Com mais um aumento nos próximos dias, dentro deste pacote de medidas para tentar conter inflação, a tendência deve ser essa até o final do ano?
Acredito que a tendência agora é trabalhar para reduzir a taxa de juros, que destoa do cenário mundial.

A senhora defende uma política diferenciada  para o Nordeste. O que deve conter? E como hoje atua a Sudene neste sentido?
É necessária uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional, que considere e respeite as variáveis e também as desigualdades, não só em relação ao restante do país, mas as desigualdades internas, entre os estados nordestinos. E deve ser explicitada em várias escalas, pois a desigualdade regional do país se reproduz em escala macro. A Sudene já desempenhou esse papel. O problema é que a Sudene foi recriada, mas não tem instrumento e nem apoio político. Os governadores acabam se reunindo fora dela. Por outro lado, a Sudene hoje tem um grande instrumento que é o FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) para investimentos em infraestrutura.

Na apresentação do estudo Nordeste perspectivas para 2022, a senhora aborda várias áreas potenciais a serem trabalhadas...
Há muitos nordestes no Nordeste. E agendas a serem trabalhadas para que a região e o país voltem a crescer. São atividades ligadas a mineração, no dinamismo da economia agrícola moderna, a ampliação de investimentos em turismo face ao grande potencial, principalmente o turismo interno o que é uma mudança no modelo praticado antes voltado para o turista estrangeiro. Há as oportunidades em eólica, onde o Rio Grande do Norte desponta com grande potencial, além de inovação, e com, o fortalecimento das micro e pequenas empresas. Uma ampla agenda.

O que é preciso para viabilizar esta agenda?

É preciso que a economia retome e tenha investimentos em infraestrutura que deixaram de ser feitos em duas décadas.


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