Nadjara Martins
repórter
Se os olhos são a janela da alma, para Victor Manoel* eles também são a porta por onde entra o mundo. São o tato, o paladar, o caminhar. A visão inquieta da criança – de apenas nove anos – pula da técnica de enfermagem, à televisão que toca videoclipes, aos estranhos que visitam a Unidade de Dependentes de Ventilação Mecânica (UDVM) do Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes. Nada lhe escapa aos olhos – única parte do corpo que é capaz de mexer devido à atrofia muscular, que lhe algemou a uma cama desde o parto. Victor, considerado paciente neurológico, entrou pela primeira vez em uma UTI aos oito meses de vida, e não mais saiu de lá.
É seguindo o olhar de Victor que a equipe médica da UDVM consegue descobrir o que ele deseja. “Se franze os olhos é porque não gostou, se está com raiva fica vermelho, e com ódio fica roxo; quando está feliz, ele pisca”, elenca a pediatra Élida Medeiros, uma das seis “mães” adotivas do garoto. A única televisão da UDVM fica aos pés da cama de Victor Manoel, quase sempre ligado em alguma música da banda paraense Calypso. Quando o aparelho de DVD quebrou, Élida levou o de casa para o garoto. “Aqui, ele é filho de todo mundo, o hospital adotou”, aponta a médica.
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Se os olhos são a janela da alma, para Victor Manoel* eles também são a porta por onde entra o mundo. São o tato, o paladar, o caminhar. A visão inquieta da criança – de apenas nove anos – pula da técnica de enfermagem, à televisão que toca videoclipes, aos estranhos que visitam a Unidade de Dependentes de Ventilação Mecânica (UDVM) do Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes. Nada lhe escapa aos olhos – única parte do corpo que é capaz de mexer devido à atrofia muscular, que lhe algemou a uma cama desde o parto. Victor, considerado paciente neurológico, entrou pela primeira vez em uma UTI aos oito meses de vida, e não mais saiu de lá.
É seguindo o olhar de Victor que a equipe médica da UDVM consegue descobrir o que ele deseja. “Se franze os olhos é porque não gostou, se está com raiva fica vermelho, e com ódio fica roxo; quando está feliz, ele pisca”, elenca a pediatra Élida Medeiros, uma das seis “mães” adotivas do garoto. A única televisão da UDVM fica aos pés da cama de Victor Manoel, quase sempre ligado em alguma música da banda paraense Calypso. Quando o aparelho de DVD quebrou, Élida levou o de casa para o garoto. “Aqui, ele é filho de todo mundo, o hospital adotou”, aponta a médica.
Há alguns meses, a criança comoveu a equipe do Maria Alice, durante uma das (escassas) visitas da mãe biológica. “As meninas que o acompanham contam a história de que, quando a família veio visitá-lo, uma lágrima desceu dos olhos dele. Ele sente a falta da família”, conta o diretor médico do hospital, Renilson Rodrigues. Na ocasião, fazia quatro meses que a família do garoto não o visitava. Há duas semanas, os pais retomaram as visitas, após o hospital recorrer à mídia para encontrar os responsáveis.
Victor é uma estatística não computada: a de pacientes abandonados nos leitos de hospitais do Rio Grande do Norte. Não há uma estatística na Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), ou mesmo um cadastro desses pacientes – seja daqueles que “moram” nos hospitais e há tempos não recebem visita, ou daqueles que já receberam alta e a família não buscou. Quando os hospitais identificam situação de abandono, o diálogo acontece diretamente com os conselhos tutelares ou com o Ministério Público.
Na unidade de crônicos do Maria Alice Fernandes habitam cinco crianças: duas meninas e três meninos. O mais velho tem 13 anos, e o mais novo apenas seis meses. Todas são incapazes de se manter fora da respiração mecânica. A maioria não consegue responder aos estímulos. A UDVM, instalada pela Sesap no hospital em novembro de 2013, acolhe pacientes crônicos de toda a rede pediátrica.
Victor é uma estatística não computada: a de pacientes abandonados nos leitos de hospitais do Rio Grande do Norte. Não há uma estatística na Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), ou mesmo um cadastro desses pacientes – seja daqueles que “moram” nos hospitais e há tempos não recebem visita, ou daqueles que já receberam alta e a família não buscou. Quando os hospitais identificam situação de abandono, o diálogo acontece diretamente com os conselhos tutelares ou com o Ministério Público.
Na unidade de crônicos do Maria Alice Fernandes habitam cinco crianças: duas meninas e três meninos. O mais velho tem 13 anos, e o mais novo apenas seis meses. Todas são incapazes de se manter fora da respiração mecânica. A maioria não consegue responder aos estímulos. A UDVM, instalada pela Sesap no hospital em novembro de 2013, acolhe pacientes crônicos de toda a rede pediátrica.
Segundo o diretor técnico do Maria Alice Fernandes, Renilson Rodrigues, diferentemente de um pronto-socorro pediátrico, a presença permanente dos familiares ou responsáveis pela criança não é exigida – até por ser uma área de cuidados intensivos, em que não se pode ter trânsito constante. Porém, a ausência dos parentes não só é sentida pelo paciente como pela equipe médica, que passa a arcar com as despesas pessoais, como material de higiene e brinquedos.
“De vez em quando, é o amor de um funcionário que faz com que eles permaneçam conosco. A forma com que eles aprendem a se comunicar, o olhar, o choro, são emoções que aprendemos a identificar”, afirma.
Há cerca de duas semanas, faleceu Miguel, que tinha sete anos. “Cria” do Hospital Infantil Varela Santiago, também era dependente de ventilação mecânica, e também pouca visita recebia da família. “Vinha uma pessoa a cada dois meses. Ele deu uma piorada no início e tivemos medo de que ninguém aparecesse. Foi quando o Conselho Tutelar apareceu e encontrou os pais”, conta Zoraide Vegado, assistente social.
*Nomes fictícios para preservar a integridade das crianças
“De vez em quando, é o amor de um funcionário que faz com que eles permaneçam conosco. A forma com que eles aprendem a se comunicar, o olhar, o choro, são emoções que aprendemos a identificar”, afirma.
Há cerca de duas semanas, faleceu Miguel, que tinha sete anos. “Cria” do Hospital Infantil Varela Santiago, também era dependente de ventilação mecânica, e também pouca visita recebia da família. “Vinha uma pessoa a cada dois meses. Ele deu uma piorada no início e tivemos medo de que ninguém aparecesse. Foi quando o Conselho Tutelar apareceu e encontrou os pais”, conta Zoraide Vegado, assistente social.
*Nomes fictícios para preservar a integridade das crianças
FONTE: TRIBUNA DO NORTE
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