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sábado, 27 de dezembro de 2014

Quatro meses após fim da ofensiva de Israel, Gaza respira caos e desesperança


Getty

fonte: bbc

Em Gaza, parece que o relógio avança muito lentamente desde que terminou a última ofensiva israelense, em 26 de agosto.
A operação Margem Protetora, lançada por Israel em 8 de julho com o objetivo de deter os ataques com mísseis lançados por palestinos e destruir os túneis utilizados para entrar no território israelense, durou 51 dias.
Segundo a ONU, morreram 2.104 palestinos e 73 israelenses.
A infraestrutura em Gaza foi quase totalmente destruída. De acordo com a Autoridade Palestina, são necessários US$ 7,8 bilhões (R$ 20,8 bilhões) para a reconstrução.
Desde a trégua entre Israel e o grupo mlitante Hamas em agosto, Gaza pouco mudou. As fronteiras seguem fechadas e, como contam correspondentes no local, os apagões e a falta de remédios e combustível continuam. Em meio a tudo isso, a vida segue.
Adnan Al Borsh, do serviço árabe da BBC, compilou quatro momentos de um dia comum em Gaza, quatro meses depois do fim da ofensiva mais longa de Israel contra o Hamas nos últimos cinco anos.

8h40: Mercado al-Ramal, centro de Gaza

O conceito de intercâmbio comercial em Gaza é muito limitado e escasso, devido ao bloqueio que Israel impôs sobre o território oito anos antes.
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A maioria dos produtos disponíveis é de fabricação local. Os demais são importados através do único posto de fronteira que segue aberto, Marak Abu Salem, que é controlado pelos israelenses.
Segundo declaração do subsecretário do ministério que cuida das finanças do governo local, Taysir Amru, Gaza precisa de, no mínimo, US$ 5 milhões em investimentos.
Os moradores de Gaza estão apreensivos e têm medo de novo conflito com Israel, a polarização política e as divisões internas, diz Mohamed Haj, um comerciante do mercado al-Ramal.
Ele traduz a instabilidade cotidiana que afeta tudo. "O comércio e a economia estão mortos. Nós, comerciantes, estamos desolados pelos problemas que sofremos aqui", diz.

9h30: Escola Rafai'i, em Jibalia, norte de Gaza

A educação em Gaza enfrenta vários problemas. Por um lado, carência de recursos materiais. Muitas escolas foram destruídas total ou parcialmente. Algumas que ficaram em pé foram convertidas em refúgios para desabrigados.
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Segundo o Ministério da Educação, os danos e prejuízos no setor alcançam US$ 33 milhões, incluindo escolas públicas e as do órgão da ONU para refugiados palestinos (UNRWA).
Devido ao conflito, o ano escolar começou com atraso de muitas semanas. Mas, de acordo com quem trabalha com educação em Gaza, o problema mais difícil de superar talvez seja o efeito psicológico que os ataques aéreos deixaram nos estudantes – sobretudo nos mais novos.
Na escola primária Rafai'i, no vilarejo de Jibalia, o professor de inglês Asad Abu Hosni conta que precisou se adaptar a mudanças ocorridas após o conflito. Os alunos ficaram irritadiços e temerosos, muitos urinam de forma involuntária.
"Tive de mandar muitos (alunos) para casa devido à incontinência (urinária) repetida", diz.

12h00: Construção de hospital em Maqousa, a oeste de Gaza

O atraso na reconstrução de Gaza após cinco meses do fim da ofensiva gera ira e frustração entre os milhares de habitantes cujas casas ficaram destruídas.
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Segundo a UNWRA, 100 mil casas foram destruídas ou ficaram inabitáveis, o que deixou 600 mil pessoas sem teto.
As manifestações em frente ao escritório da ONU em Gaza se repetem semana após semana.
A trégua que assinaram Israel e as facções palestinas incluía a autorização para a entrada de todo tipo de material de construção ao território, mas o acordo não se materializou.
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Israel permitiu a entrada de caminhões de cimento para a reconstrução de edificações parcialmente destruídas e, recentemente, começou a aceitar a chegada de todo material de construção destinado a projetos patrocinados pela UNWRA.
Durante nosso percurso por Gaza, vimos um grupo de pedreiros e engenheiros que trabalhavam na construção de um novo hospital da UNWRA em Maqousa, a oeste da Faixa de Gaza. A maioria dos recursos se destina à infraestrutura pública.

14h00: Hospital de Beyt Hanon, norte de Gaza

As dificuldades no setor de saúde são anteriores à ofensiva deste ano. Há uma carência grande de material médico e remédios, cuja entrada é limitada pelas restrições impostas por Israel.
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Muitos hospitais foram bombardeados diretamente durante a guerra, como o de Beyt Hanon, e outros foram destruídos totalmente, como o de Wafaa, em Shajaaiya.
Segundo Jawad Awad, ministro da Saúde palestino, os danos causados pelo conflito à infraestrutura hospitalar custarão US$ 100 milhões. No total, 36 hospitais e centros médicos ficaram destruídos.
No hospital de Beyt Hanon, foram efetuados reparos básicos. As paredes estão pintadas e há camas novas para os pacientes.
Ali, encontramos com Abdulrahman Suleiman, um jovem que sofre de diabetes e cuja condição piorou muito. O pai diz que o filho precisa de tratamento fora do país.
Mas, com as fronteiras fechadas, a circulação complicada pelo território e os custos muito altos, a viagem se torna impossível.
"Não tenho trabalho, tenho oito pessoas para sustentar e o preço do tratamento é de mais ou menos 18 mil dólares", lamenta o pai de Suleiman.


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