Na abertura do seminário Comunicação e Mercado no Brasil: Desafios e Oportunidades, promovido pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), no Rio, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia disse que há no Brasil "uma intolerância enorme para tudo o que seja diferente" e que "não adianta querer ser livre e abrir mão de pensar". Para professores e alunos da instituição a ministra parodiou o que Millôr Fernandes usava como título de uma seção de sua coluna: "Livre pensar é só pensar". Ela disse: "Temos um Estado Democrático, mas a pergunta é se temos uma sociedade tão democrática quanto a Constituição pressupõe. Hoje noto uma intolerância enorme para tudo que seja diferente, é uma tragédia para a democracia e o exercício da liberdade".
O tema da intolerância está em destaque no noticiário esportivo, por causa de manifestações de racismo em gramados de futebol e quadras de basquetebol. Recentemente, o craque negro Tinga, do Cruzeiro de Belo Horizonte, foi insultado ao substituir um companheiro num jogo contra o Real Garcilaso, no interior do Peru. O árbitro gaúcho Márcio Chagas da Silva, mulato, encontrou o automóvel depredado e com bananas sobre o capô depois de ter apitado uma partida em Bento Gonçalves entre o time local Esportivo e o Veranópolis pelo campeonato estadual do Rio Grande do Sul. E não se trata de um fenômeno sul-americano ou brasileiro. O torcedor do Villarreal que atirou uma banana no lateral-direito da seleção brasileira, Daniel Alves, que joga no Barcelona, foi identificado e será indiciado pela polícia por haver infringido uma lei espanhola. Donald Sterling, dono do time de basquete Los Angeles Clippers, foi expulso da liga de basquete norte-americana por ter ofendido adversários negros.
A presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, explicou a iniciativa, ao destacar que "a defesa da liberdade de expressão é uma luta cotidiana porque todos os dias aparecem novos desafios". A respeito do que ela disse, é o caso de lembrar que insistentes tentativas de grupos próximos ao comando do PT - principal legenda da coalizão governista - para restaurar a censura têm sido rechaçadas, primeiro pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora por sua sucessora, Dilma Rousseff.
Outro dos desafios dos defensores da liberdade é a tentativa de alguns setores da sociedade de contrapor o direito da privacidade do cidadão ao exercício da liberdade pelos veículos de comunicação. Sobre o tema, muito citado recentemente no debate sobre a necessidade de autorização do biografado para a publicação da própria biografia - neste momento sub judice no STF -, discorreu o professor da USP Eugênio Bucci, também diretor de pós-graduação em Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "A privacidade é uma conquista da liberdade", esclareceu. E ainda pontuou: "Não podemos cair na armadilha de acreditar que a liberdade é relativa por força da privacidade".
Os conceitos expressos no seminário contribuem, de forma expressiva, para o aprimoramento do debate sobre a prática da democracia no Brasil hoje. A pluralidade de ideias e projetos políticos é o oxigênio sem o qual a democracia poderá sangrar até a morte.
Com O Estado de S.Paulo
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domingo, 4 de maio de 2014
LIBERDADE COM TOLERÂNCIA
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