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sábado, 27 de agosto de 2016

Paraibanos são achados trabalhando como escravos e dormindo em celas no RS


Paraibanos são achados trabalhando como escravos e dormindo em celas no RS

Fonte: Hallan Azevedo 

Treze paraibanos foram resgatados, na manhã dessa quarta-feira (24), após serem flagrados trabalhando em situação análoga à escravidão no município de Lajeado, a 120 km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. As vítimas estavam trabalhando para outros dois paraibanos há pouco mais de um ano e sofriam com condições precárias de moradia, falta de assistência e alimentação adequada. A situação ocorria porque as vítimas deviam entre R$ 1,5 mil e R$ 14 mil aos suspeitos, que foram presos.

Todas as vítimas e suspeitos são naturais do município de Patos, que fica no Sertão paraibano, a 317 km de João Pessoa.

Em Lajeado, os paraibanos foram localizados após uma denúncia feita para a Polícia Civil por moradores da cidade. A operação policial também contou com o trabalho de equipes do Ministério do Trabalho, da Brigada Militar e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Ao Portal Correio, o delegado Mauro Mallmann, da Delegacia de Pronto Atendimento de Lajeado, disse que a polícia monitorou os suspeitos e conseguiu abordar o caminhão onde as vítimas eram levadas.

“Encontramos o caminhão quando ele iria recolher as vítimas no fim do dia. Ao abordarmos o veículo, constatamos que, além de ser o meio de transporte dos trabalhadores, ele também servia como moradia de alguns deles”, contou o delegado.

À polícia, os trabalhadores informaram que se sujeitavam a trabalhar em condições precárias para poder quitar uma dívida de adiantamento de salário que haviam recebido antes de sair da Paraíba.

Durante o depoimento, os trabalhadores também informaram que aqueles que não cabiam dentro do caminhão na hora de dormir passavam a noite do lado de fora do veículo, dormindo em redes, sem proteção contra o frio ou contra uma possível ação de bandidos. 

“Vimos que o pessoal estava vivendo de forma degradante, qualificado como trabalho  análogo à escravidão. Não recebiam alimentação adequada, não tinham a carteira assinada, não tinham um local adequado para dormir, passavam necessidades quando não conseguiam bater a meta de vendas e, quando vendiam a mais do que o estipulado, o valor era descontado da dívida inicial. Eles sobreviviam com muito pouco. Além disso, o que mais chocou foi a constatação de uma cela dentro do caminhão. Esse espaço servia para punir quem fosse avaliado com mau comportamento ou não atingisse a meta de vendas”, afirmou o delegado.

Eles não podiam voltar para casa

O delegado Mauro Mallmann também informou ao Portal Correio que os trabalhadores já estavam passando pelo trabalho análogo à escravidão há muito tempo, já que alguns deles relataram ter dívidas superiores a R$ 14 mil e que haviam retornado à Paraíba quatro meses após saírem, mas eram obrigados a voltar ao trabalho pouco tempo depois.

“No caminhão, localizamos livros e uma caixa com a dívida total das vítimas. Elas também relataram que iam ao Rio Grande do Sul para trabalhar dessa maneira e voltavam à Paraíba após quatro meses, onde passavam um tempo com a família. Porém, esses trabalhadores eram obrigados a viajar novamente até quitar todo a dívida com os suspeitos. Mesmo aqueles que não se adaptavam ao clima ou não conseguiam vender, eram obrigados a permanecer aqui”, contou o delegado.

Após o depoimento das vítimas, a polícia prendeu em flagrante o motorista do caminhão e o empregador, que era o proprietário do veículo e comandava as vendas. Eles vão responder criminalmente por manter pessoas em condições de trabalho análogas à escravidão.

Já as 13 vítimas foram encaminhadas a hotéis da cidade e permanecem por pelo menos mais quatro dias em Lajeado.

“As vítimas ainda estão aqui, mas estão instaladas em um hotel da cidade. Eles estão sendo atendidos pelo Ministério do Trabalho, que vem organizando a legalização dos contratos de trabalho e negociando um valor de rescisão contratual. Acredito que eles sejam liberados para voltar à Paraíba dentro de mais três ou quatro dias”, concluiu o delegado.



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