Em meio a tensões crescentes com os Estados Unidos, a China vem promovendo a maior expansão de seu arsenal atômico da história, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação ao seu rival, disseram especialistas do think tank sueco Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, da sigla em inglês). As informações são do portal The Defense Post.
O estoque de cerca de 350 ogivas nucleares de Beijing ainda é considerado pequeno se comparado a potências nucleares como Estados Unidos e Rússia, que segundo o Sipri têm 3.708 e 4.477 ogivas, respectivamente, o que corresponde a 90% desse tipo de armamento no mundo. Mas o arsenal chinês vem crescendo exponencialmente como o de nenhum outro país, podendo chegar a 1.500 até 2035, estima o Pentágono.
O investimento é astronômico: o país asiático gastou US$ 11,7 bilhões em seu programa nuclear em 2021, segundo a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican, da sigla em inglês) – menos de um terço do que se acredita que Washington tenha gastado.
“A China parece não estar mais satisfeita com apenas algumas centenas de armas nucleares para garantir sua segurança”, disse à agência AFP Matt Korda, da Federação de Cientistas Americanos (FAS, da sigla em inglês).
Beijing, que fez seu primeiro teste nuclear no anos 1960, se contentou em ter um arsenal nuclear modesto nos últimos 60 anos. Também já afirmou que não seria a primeira a apertar o botão em caso de envolvimento em um conflito. No entanto, sob o governo do presidente Xi Jinping – no poder desde 2013 –, vem avançando na modernização militar e consequente atualização de armas de destruição em massa.
A doutrina nuclear chinesa prevê que o país só terá um estoque mínimo de bombas não apenas para dissuadir os inimigos, mas também para ter capacidade de contra-atacar caso a dissuasão falhe.
Além da produção de ogivas, o governo chinês tem aperfeiçoado a capacidade de lançá-las em terra, na água e no ar com mísseis, aeronaves e submarinos.
“As mudanças que estão ocorrendo ou em andamento são muito significativas” e “transformarão a China de um Estado que tem uma capacidade de retaliação nuclear para um que é a terceira maior potência nuclear do mundo”, disse à AFP Eric Heginbotham, cientista do Centro de Pesquisa de Estudos Internacionais do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Heginbotham acrescentou que a evolução chinesa marcará a primeira vez na história que as grandes potências nucleares, que tanto levantaram temores no mundo durante a Guerra Fria, precisarão considerar não um concorrente nuclear em potencial, mas dois. “E isso terá implicações para o planejamento nuclear e a estabilidade em todos os lugares, diz ele”.
A China enfatizou que mantém “sua força nuclear no nível mais baixo necessário para a segurança nacional”. E o discurso de Xi em relação ao eventual uso do arsenal atômico, ao julgar por uma declaração conjunta feita com o chefe do Kremlin Vladimir Putin durante encontro entre os líderes no mês passado, é o de que uma guerra nuclear “nunca deve ser desencadeada”.
No mesmo encontro, Beijing e Moscou alinharam um acordo de cooperação nuclear. As principais autoridades de energia atômica russas concordaram em ajudar a China a concluir “reatores rápidos”.
“Seria tecnicamente possível para a China aumentar substancialmente seus estoques de plutônio com seus novos reatores civis de desenvolvimento rápido usando combustível fornecido pela Rússia”, disse Korda.
E a China tem boas razões para aumentar suas capacidades nuclares. Particularmente por questões que envolvem sua província rebelde.
“Um fator importante é provavelmente uma avaliação de que uma força nuclear maior é necessária para dissuadir o envolvimento dos Estados Unidos em um futuro conflito potencial no Estreito de Taiwan”, disse à AFP Ankit Panda, do Carnegie Endowment for International Peace.
No ranking de maiores arsenais nucleares, que tem Rússia, EUA e China nas primeiras três posições, aparecem a seguir França, 290, Reno Unido, 225, Paquistão, 165, e Índia, 156.
Paridade
Assim como a Rússia e os EUA durante a Guerra Fria, as armas nucleares podem impedir o conflito entre a China e os EUA, já que Beijing busca expandir agressivamente sua influência em todo o Pacífico, eventualmente rivalizando com os norte-americanos por seu papel como superpotência global.
A China ainda tem um longo caminho a percorrer, mas não mostrou nenhum sinal de desaceleração de suas capacidades nucleares. É provável que, antes do final desta década, a China tenha armas nucleares e sistemas de entrega quase semelhantes aos dos Estados Unidos – uma paridade preocupante não vista desde a Guerra Fria, décadas atrás.
Por que isso importa?
Armas nucleares à parte, a vertiginosa modernização das forças armadas da China, em geral, é motivo de preocupação no Ocidente. Beijing ostenta o segundo maior orçamento de Defesa do mundo, tendo investido US$ 293 milhões no setor em 2021, segundo o site Statista. Somente os EUA gastaram mais, US$ 801 bilhões. Índia (US$ 76,6 bilhões), Reino Unido (US$ 68,4 bilhões) e Rússia (US$ 65,9 bilhões) aparecem a seguir.
Atualmente, a China tem a maior marinha do mundo, à frente da norte-americana, o maior exército permanente do mundo e um arsenal balístico e nuclear capaz de rivalizar com qualquer outro. Tal avanço ocorreu durante o governo de Xi Jinping, que assumiu o poder quando a reformulação já havia começado, mas então optou por ampliá-la e acelerá-la.
Hoje, a marinha chinesa tem dois porta-aviões ativos, um terceiro em construção e 360 navios, superando inclusive os EUA, que têm 300 embarcações militares. Já o exército permanente chinês tem cerca de dois milhões de soldados, mais que qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,4 milhão de tropas, contra 1,35 milhão dos EUA, de acordo com o site World Atlas.
Diante desses números, o Pentágono afirmou em sua recente estratégia de defesa nacional disse que a China é o maior desafio de segurança para os Estados Unidos. E que a ameaça de Beijing determinará como as forças armadas norte-americanas serão equipadas e moldadas com vistas ao futuro.
A REFRÊNCIA
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