Ainda assim, as autoridades dos EUA alertam que a Rússia deve intensificar ataques de sabotagem contra alvos europeus como forma de retaliação. Angela Stent, especialista em estudos russos da Universidade de Georgetown, destacou que tal resposta russa “preocupa”. E acrescentou: “A chance de escalada nunca deixou de existir. Agora, é ainda maior.”
Desde o início da invasão da Ucrânia, em 2022, a possibilidade de um ataque nuclear tem sido uma constante nas deliberações da Casa Branca. Contudo, os temores diminuíram após Putin não cumprir as ameaças iniciais, permitindo que os EUA continuassem a enviar bilhões de dólares em assistência militar a Kiev.
Um ponto de virada foi a entrada de tropas norte-coreanas no conflito ao lado da Rússia, com cerca de 12 mil soldados enviados ao front. Isso levou a administração Biden a liberar o uso de mísseis de longo alcance pelos ucranianos, interpretando o reforço como uma escalada por parte de Moscou que exigia uma resposta proporcional.
Apesar das preocupações com retaliações nucleares ou ataques diretos a bases militares americanas, análises sugerem que o arsenal nuclear é visto como último recurso pela Rússia. Para Putin, medidas como sabotagem e ataques cibernéticos seriam as primeiras opções em caso de escalada.
A Rússia já mobilizou agentes de inteligência para realizar operações clandestinas em países europeus, pressionando aliados ocidentais da Ucrânia. Um diplomata europeu declarou que Moscou está conduzindo uma campanha internacional massiva para intimidar nações que apoiam Kiev.
No entanto, dentro do governo americano, opiniões divergentes permanecem. Enquanto alguns acreditam que os temores de escalada foram exagerados, outros alertam que a situação na Ucrânia continua extremamente perigosa.
Flexibilização nuclear
Embora não tenha colocado seu arsenal nuclear em ação, Moscou adotou outras medidas preocupantes. A principal delas foi a flexibilização da doutrina nuclear do país, que passou a considerar qualquer ataque de um Estado não nuclear, mas que conte com o apoio de um país com armas nucleares, como um “ataque conjunto”.
Tal inciativa se enquadra no cenário da guerra da Ucrânia e na prática flexibiliza o uso por Moscou de seu arsenal de destruição em massa. Até então, a doutrina nuclear russa previa o uso do arsenal de destruição em massa do país somente em resposta a um eventual ataque nos mesmos moldes realizado por outra nação, ou então para reagir a uma situação extrema que colocasse a própria existência do Estado russo em risco.
Outra atitude relevante da Rússia foi a realização de exercícios militares com armas nucleares táticas, algo incomum. Tais manobras geralmente envolvem armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram contra Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, em manobras recentes, Moscou usou armas nucleares táticas, menos poderosas e voltadas a neutralizar posições inimigas, sinal de que cogita implantá-las na Ucrânia.
Em setembro, o chefe das instalações secretas em que a Rússia costumava realizar testes nucleares, contra-almirante Andrei Sinitsyn, disse que o local está pronto para voltar à atividade. Segundo ele, basta o “sim” de Putin para o país retomar as detonações.
Moscou interrompeu os testes nucleares no início dos anos 1990, pouco antes da dissolução da União Soviética. Agora, a retomada dos procedimentos surge como uma alternativa de dissuasão para o Kremlin em meio ao aumento da tensão com o Ocidente.
O país costumava realizar seus testes no arquipélago de Novaya Zemlya, no Oceano Ártico, onde inclusive foi detonada a bomba mais poderosa do mundo em 1961. Embora os experimentos tenham sido interrompidos nas últimas décadas, imagens de satélite registraram recentemente a realização de obras na região.
A REFERÊNCIA
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