Fonte: O Globo
SÃO PAULO - Nem mesmo a atuação mais agressiva do Banco Central nesta terça-feira faz consegue segurar o dólar comercial. A autoridade monetária fez uma intervenção de US$ 6 bilhões para retirar a liquidez do mercado de câmbio, ainda assim, a divisa perdeu força. A moeda americana encerrou o pregão negociada R$ 3,492 na compra e a R$ 3,494 na venda, uma pequena variação negativa de 0,02% ante o real - na máxima, chegou a R$ 3,563. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 3,66%, aos 52.001 pontos, sustentada pela recuperação do preço das matérias primas no exterior e pelo crescimento do apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ao todo, a autoridade monetária ofertou neste pregão contratos financeiros que equivalem a uma retirada de US$ 6,355 bilhões do mercado de câmbio. A maior parte, US$ 6 bilhões, é resultado de quatro leilões de swap cambial reverso, que equivalem a uma compra de moeda no mercado futuro da moeda. Já uma parcela menor, de cerca de US$ 355 milhões, é referente a swps tradicionais (que equivalem a uma venda de moeda) que não foram renovados. Após o encerramento do horário de negociação do dólar comercial, o BC realizou um novo leilão de 40 mil contratos de swap cambial reverso, equivalente a US$ 2 bilhões.
Na avaliação de Ítalo Abucater, gerente de câmbio Icap do Brasil, o BC está aproveitando fluxo de entrada da moeda para fazer essas atuações no câmbio, evitando uma queda ainda maior da moeda.
— O BC está sendo agressivo e aproveitando as janelas de oportunidade, quando há entrada de recursos, para comprar o excesso de dólares do mercado. Também pode ser uma saída para que empresas que estão expostas ao dólar realizarem um hedge. Se o mercado inteiro está vendedor (esperando uma queda da cotação) essa empresa precisa de uma contraparte. O BC tem que dar uma ponta de saída — explicou.
Segundo operadores, não é possível dizer se o BC está tentando estabelecer algum patamar para a divisa, mas a autoridade monetária já sinalizou que não está confortável com essa queda acentuada da cotação.
Na segunda-feira, a divisa recuou 2,83%, a R$ 3,495, impulsionada pelo cenário externo e expectativa do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Essa foi a menor cotação desde 20 de agosto do ano passado, mesmo com as intervenções do BC, que chegaram a pouco mais de US$ 1 bilhão.
— O mercado reagiu ao BC. O dólar ficou abaixo de R$ 3,50 na segunda-feira e o BC entrou hoje fazendo os leilões. Talvez o mercado interprete essa atuação como uma sinalização do BC de que R$ 3,50 é um patamar mínimo, mas se não houver continuidade de atuação, pode voltar a cair se houver fluxo positivo — afirmou Hideaki Iha, operador de câmbio Fair Corretora.
Os leilões de swap reverso estão sendo ofertados desde março - o BC ficou três anos sem utilizar esse instrumento -, em geral em lotes de 20 mil contratos. Além dos leilões reversos, o BC deixou de rolar de forma integral os swaps tradicionais, que equivalem a uma venda de moeda. Nesta terça-feira, não foi feito nenhum leilão de rolagem para esse tipo de swap.
O cenário político, com os investidores acreditando no impeachment da presidente Dilma, impedem uma alta maior do dólar. A expectativa é que o plenário da Câmara aprove a recomendação de impedimento da presidente até o final de semana.
No exterior, o “dollar index”, calculado pela Bloomberg, registra leve alta de 0,03%.
VALE E PETROBRAS FAZEM BOLSA SUBIR
As ações de empresas ligadas à produção de commodities operaram em alta devido à recuperação do preço das matérias primas no exterior. Além disso, a perspectiva de um menor apoio ao governo, com a saída do PP da base governista, animam os investidores. Em sua grande maioria, os agentes do mercado financeiro desejam uma mudança no governo.
No caso da Petrobras, as ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) fecharam em alta de 7,62%, cotadas a R$ 9,03, e as ordinárias avançaram 8,92%, a R$ 11,35. No exterior, o petróleo tinha alta de 3,99% no barril do tipo Brent, a US$ 44,54, próximo ao horário de fechamento dos mercados no Brasil. Os analistas já esperam que nos próximos meses o óleo alcance o patamar de US$ 50.
Os papeis da Vale também ficaram em terreno positivo. Os preferenciais registraram alta de 14,20% e os ordinários fecharam com valorização de 10,43%.
A Bolsa também segue o otimismo externo - embora lá fora o otimismo não seja tão acentuado. Nos Estados Unidos, o Dow Jones tem alta de 0,91% e o S&P 500 tem alta de 0,70%. Entre os índices europeus, o DAX, de Frankfurt, fechou em alta de 0,81%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, subiu 0,77%. No caso do FTSE 100, de Londres, a valorização foi de 0,68%.
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