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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Turquia retalia EUA e dólar no Brasil ecoa crise mais uma vez


Cidadãos turcos junto a uma casa de câmbio nesta segunda-feira.

Por Elpáis

As espadas continuam em alto no enfrentamento entre Washington e Ancara. Na quarta-feira, a Turquia publicou sem anúncio prévio no Boletim Oficial a decisãode dobrar as tarifas sobre 20 produtos norte-americanos. Entre as importações afetadas estão os automóveis (cujas tarifas chegarão a 120%), bebidas alcoólicas (que terão que pagar uma taxa de 140%) e folhas de tabaco (60%), além de arroz, carvão, cosméticos, bombas centrífugas, derivados de celulose e plástico.
“As tarifas sobre certos produtos de importação foram aumentadas sob o princípio da reciprocidade e como resposta aos ataques deliberados dos EUA contra nossa economia”, escreveu o vice-presidente turco, Fuat Oktay, em sua conta do Twitter. Diferentemente da decisão tomada na semana passada por Donald Trump, que afeta o aço, um dos produtos turcos mais exportados para os EUA, neste caso as medidas decretadas por Ancara não afetam os artigos made in USA com maior penetração na Turquia. Da produção sancionada, a mais volumosa é o tabaco norte-americano, cuja exportação para o país euroasiático somou 51 milhões de dólares (199 milhões de reais) em 2016.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tinha insinuado na terça-feira um possível boicote aos produtos eletrônicos norte-americanos, apontando diretamente a marca Apple, embora isso afinal não tenha sido contemplado no decreto publicado nesta quarta. A imprensa turca observou que o boicote é apenas um apelo à população turca para que consuma tecnologia nacional em vez da norte-americana. “Se eles têm os iPhones, também existem os Samsung. Nós temos o Venüs da Vestel”, disse o mandatário islâmico. Entretanto, mesmo este último modelo de telefone celular da marca turca Vestel utiliza componentes e software desenvolvidos nos EUA, o que torna arriscado um aumento de tarifas sobre esses produtos. Não por acaso, entre as principais importações que a Turquia faz dos EUA se encontram as patentes tecnológicas e o software informático.
“A melhor resposta que podemos dar a esses pistoleiros econômicos é trabalhar com renovado esforço. Produzir e exportar mais do que nunca. Não faz sentido que os armazéns fechem ou a produção seja reduzida. A solução é produzir, produzir, produzir. Exportar, exportar, exportar”, exigiu Erdogan, dirigindo-se aos empresários. “Devemos produzir mais e melhor do que aquilo que importamos de fora e vendê-lo ao estrangeiro.”
Por outro lado, o agente regulador do mercado financeiro da Turquia (BDDK) reduziu o limite das transações de swap cambial com investidores estrangeiros. No domingo, havia fixado o teto em 50% do capital bancário próprio, e a partir desta quarta-feira será de 25%. O objetivo é reduzir as operações especulativas, como a contração de empréstimos em liras para a compra de dólares e outras moedas fortes.
A disposição, junto com a injeção de liquidez aprovada na segunda-feira pelo Banco Central turco e com o apoio oferecido pelos líderes europeus – que criticaram as medidas tomadas contra Turquia pela Administração Trump –, deu fôlego à lira nos mercados. Na terça-feira a moeda turca se recuperou das perdas sofridas na segunda-feira, e na manhã desta quarta-feira se valorizava 6% em relação ao dólar. Contudo, sua cotação continua sendo 38% menor que no começo do ano.
O ministro turco de Finanças, Berat Albayrak, que é genro de Erdogan, advertiu que os ataques contra a lira podem provocar um “efeito borboleta” e contagiar a Europa, por causa da exposição dos seus bancos, e o resto do mundo, através de mercados emergentes cujas moedas se viram arrastadas pelas quedas da lira.
No Brasil os reflexos ainda são sentidos. Nesta quarta-feira, o dólar terminou em alta e na casa de 3,90 reais, com os investidores reagindo ao cenário externo, ainda afetado pela situação da Turquia, e à cena eleitoral brasileira após nova pesquisa eleitoral.
Uma análise da consultoria Eurasia Group acredita que a exposição europeia à crise turca é limitada, já que, embora bancos europeus como BBVA, UniCredit e BNP Paribas possuam importantes investimentos na Turquia, eles são “pequenos” em comparação com o balanço global dessas empresas. Contudo, a consultoria adverte que a crise turca “está longe de solucionada”, já que os planos econômicos apresentados por Albayrak são “cosméticos” e “insuficientes”.
Na vertente política tampouco há sinais de solução. Na noite de segunda-feira, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, recebeu na Casa Branca o embaixador turco, Serdar Kiliç e lhe deixou claro que, a menos que Ancara liberte o pastor evangélico Andrew Brunson, detido há dois anos, Washington não afrouxará a pressão sobre a Turquia. Nesta quarta-feira o tribunal turco que conduz o caso rejeitou um novo recurso do advogado de Brunson exigindo sua libertação.

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