Natal tem um novo dique flutuante para atender os barcos e navios que precisam de reparo. Instalado no Terminal Pesqueiro de Natal, ele começou os primeiros testes nesta quinta-feira (19). O objetivo é atender a uma demanda local dos proprietários de embarcações, que até então não possuíam um dique flutuante na cidade para realizar esses serviços. O dique pode suportar embarcações de até 200 toneladas e receber um barco por vez. Já o tempo médio estimado para cada reparo é de 15 dias.
Anteriormente, os donos de embarcações precisavam se deslocar a outras cidades para fazer os reparos, o que gerava altos custos. Segundo Lessany Nassiff, um dos engenheiros mecânicos responsáveis pelo dique, a instalação vai permitir a geração de renda no seu próprio estado, “evitando maiores desperdícios, maiores custos de logística, o transporte até outros estados”, explica. “O comércio local de Natal é bem defasado em relação a outros estados, mas devido a não ter certas indústrias e certos tipos de empreendimento. Então agrega muito ao estado porque hoje a gente está movimentando muito o comércio local”, afirma. Natal já possuiu um dique flutuante da Marinha. Porém, de acordo com Nassiff, o dispositivo está desativado desde 2015 após sofrer uma avaria e ficar inoperante.
“Antes, qualquer armador [proprietário] que precisasse fazer uma revisão no seu barco de pesca, tinha que levar a sua embarcação para ser revisada em Belém do Pará ou então em Itajaí-SC. Só por aí você vê tamanho do prejuízo e que logística anormal”, diz Antonio-Alberto Cortez, professor da UFRN e especialista em pesca e aquicultura, destacando o potencial potiguar na pesca do atum. “Tendo-se um estaleiro aqui, essas viagens para tão longe serão dispensadas. E todos os insumos relativos à necessidade da recuperação da embarcação são adquiridos no comércio local”, diz.
Um dos primeiros reflexos do dique flutuante é a geração de empregos diretos. Hoje, 19 funcionários atuam na embarcação. São funcionários como soldadores, montadores, caldeireiros, eletricistas, mecânicos, dentre outros. “Para operar o estaleiro, você vai ter uma série de técnicos, de pessoas capacitadas para atuar nos diversos segmentos laborais que a recuperação de uma embarcação exige”, diz Cortez. “Na medida em que a recuperação da embarcação vai sendo procedida, toda uma demanda de insumos passa a ocorrer. Isso dinamiza, por exemplo, uma loja comercial no Alecrim que vende chapas de aço, por exemplo, e agora vai vender toneladas”, explicou.
Outra vantagem está na aquisição até mesmo de peças pequenas, como parafusos, até peças maiores, que podem impulsionar a economia local. “Então são peças nem sempre muito baratas, e que você vai adquirir aqui no mercado natalense. Quer dizer, isso vai dar uma dinâmica que você não imagina”.
Porém, segundo o especialista, ainda não é possível dizer os impactos exatos dessa vinda: “à medida que a gente for acompanhando é que vai calculando a dimensão que a economia, e que a geração de postos de trabalhos terão a partir daí”.
Nassiff relaciona os cuidados de um barco ou navio ao de um automóvel, que eventualmente precisa de conserto. “Imagina se a gente tivesse uma frota de veículos, e tivesse que ir pra outro estado e levar os veículos para fazer manutenção. É muito complexo. Então faz um bom tempo que os armadores não só da pesca, mas de cabotagem, transporte, apoio de Natal vinham sofrendo com isso, por não ter esse tipo de estrutura na região”, reflete. “Natal é uma das cidades onde a pesca é mais intensa no Brasil e não tinha um ‘hospital’ para as embarcações”, fala Cortez.
Manutenções eram realizadas fora do Estado
As embarcações precisavam ir para estaleiros ou diques flutuantes em estados como Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pará e Ceará. Um dos principais para docagem é em Itajaí, em Santa Catarina. Porém, ao fazer esse deslocamento, havia os custos do transporte. Por isso, o empresário Alceu Couto é um dos animados com a nova instalação. Proprietário de sete embarcações, ele está atualmente com o barco Fênix no dique natalense. Até então, suas manutenções eram feitas em Areia Branca-RN ou Fortaleza-CE, o que gerava gastos “altíssimos”, afirma. “Deslocamento de pessoal, da manutenção. Todo mundo tem a família aqui, então, eles se afastavam de casa, além do custo de combustível, rancho, hospedagem”, explica.
Couto diz que, como empresário, o custo de cada viagem para reparo era relativo. Porém, calcula em quase R$ 50.000. Agora, isso vai ser diferente. “Você vai ter agilidade, você vai ter economia, você vai ter satisfação. Isso gera bons resultados, indiscutivelmente”.
“Natal vai ser realmente um polo de desenvolvimento especializado, mas com uma interferência altamente positiva no comércio local. E naturalmente tudo que dinamiza uma atividade econômica induz a formação de novas oportunidades de trabalho e consequentemente de agregação de renda”, diz Antonio-Alberto Cortez. “Todo mundo ganha. O estado ganha, o empresário ganha, o funcionário ganha”, resume Lessany.
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