Gigante da produção de energia eólica onshore (em terra) no Brasil, o Rio Grande do Norte espera, com bastante otimismo, pelo início das instalações em mar (eólica offshore), algo que, conforme fontes ouvidas pela reportagem, deve ocorrer a partir dos próximos quatro anos. De acordo com informações repassadas pelo Ibama à TRIBUNA DO NORTE na última sexta-feira (13), foram abertas, junto ao órgão, Fichas de Caracterização de Atividade (FCA) para nove projetos no mar do RN, os quais somarão, juntos, uma capacidade instalada de 17,8 gigawatts (GW). A FCA é o formulário eletrônico para a solicitação de licenciamento ambiental para uma atividade ou empreendimento.
O Ibama informou ter emitido um Termo de Referência para balizar a elaboração dos estudos ambientais que precisam ser apresentados pelas empresas. Somente após a apresentação desses mesmos estudos, é que o órgão irá proceder às analises de cada projeto. Em todo o Brasil, detalha o Ibama, são 70 projetos com solicitação de abertura de FCA, que juntos apresentam capacidade de produção de 176,58 GW.
No caso do RN, os 17,8 GW divididos entre os nove projetos estão distribuídos da seguinte forma: dois complexos com capacidade de gerar 3 GW; um projeto com previsão de gerar 2,4 GW; um projeto com 2 GW; além de complexos que devem produzir 1,9 GW, 1,8 GW, 1,7 GW e 1,1 GW de energia eólica. O menor parque tem capacidade de produção de 624 MW.
Em território potiguar, segundo o Atlas Eólico e Solar do RN, o potencial para futura geração offshore alcança 54,5 GW, o suficiente para suprir cerca de um terço de toda energia elétrica brasileira de 2020 (aproximadamente 651TWh).
No total, os projetos eólicos candidatos à implantação no RN, preveem instalar, juntos, 1.221 aerogeradores, sendo que o maior deles deverá contar com 215 turbinas e o menor, com 52. A perspectiva de abertura de inúmeros novos negócios, emprego e renda na área anima as entidades do setor, que esperam uma revolução na economia do RN.
“É uma área que gera empregos de longo prazo. Se a gente conseguir se tornar um exportador de produtos e serviços para atender ao mercado, a gente tem como, de fato, alavancar nosso cenário econômico e nosso PIB”, afirma Sérgio Azevedo, membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Rodrigo Mello, diretor do Senai e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), também ressalta a possibilidade de bons negócios para o setor, com aumento da necessidade de mão de obra. “O que vem por aí, nesse sentido, é algo entre 5 e 15 vezes maior do que tudo o que a gente já ocupou em terra”, aposta.
Mello ressalta, ainda, o crescimento da injeção de recursos para a área. “Para se ter uma ideia, um projeto de eólica offshore demanda cerca de 80% mais investimentos do que aqueles para exploração onshore. É complicado falar de valores reais, porque é algo que depende da negociação entre fornecedores e das condições de demanda de mercado”, diz. Sérgio Azevedo, da ABEEólica, analisa que todo o otimismo em torno da área se justifica pelo fato de que a expansão do setor é um caminho sem volta e cita o que, na opinião dele, é o maior desafio hoje para o Rio Grande do Norte se tornar um polo competitivo no offshore.
“A produção de energia eólica é um processo irreversível. O Brasil terá vários projetos na próxima década e o nosso Estado precisa estar atento, urgentemente, à implantação de um porto para atender a esse mercado. Fazendo isso, a gente consegue um diferencial competitivo a baixo custo, em razão das nossas águas rasas e com excelente capacidade de produção. O Governo do Estado está trabalhando nesse sentido e, se a gente for rápido e eficiente, acredito que o RN pode marcar um golaço”, pontua Azevedo.
As projeções do membro da ABEEólica e de Rodrigo Mello, do Senai, dão conta de que os primeiros projetos em mar devem ser instalados no Estado a partir dos próximos quatro anos. De acordo com Mello, ainda nesta década teremos parques em operação, o que reforça, segundo ele, a necessidade de fortalecer os debates em torno de um marco regulatório para o setor.
“Hoje existe tecnologia e capital, mas estamos ainda na reta final de discussões sobre nosso marco regulatório em alguns pontos que são importantes para destravar o início dos investimentos, algo que considero natural e que vai acontecer com a mesma celeridade dos últimos dois anos”, explica Rodrigo Mello.
Litoral Norte tem melhor capacidade instalável
O número de projetos com perspectivas de atuação no Estado cresceu de sete, em junho de 2022, para nove, segundo mais recente divulgação do Ibama. Dos 54,5 GW de capacidade instalável capitaneados pelo Estado, estima-se que 32,8 GW estejam localizados no Litoral Norte, o que representa o dobro da estimativa oficial do governo brasileiro para todo o País, divulgada no Plano Nacional de Energia, documento que traz projeções até 2050. É nesta região litorânea que estão concentrados os primeiros complexos offshore cadastrados no Ibama para licenciamento no Rio Grande do Norte.
As informações constam no Altas Eólico e Solar do RN, desenvolvido pelo Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) em um projeto conjunto com o Governo do Estado, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), e a Federação das Indústrias (Fiern). O Atlas é o primeiro levantamento com dados disponibilizados ao público sobre o offshore no RN e aponta onde estão as melhores áreas para energia eólica e solar. Traz textos, mapas e outras imagens com informações inéditas sobre o potencial do Estado e regiões mais promissoras para investimentos em terra, no mar e, no caso da energia solar, também em lagos, açudes e barragens monitorados pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O documento ressalta que o Rio Grande do Norte apresenta os melhores locais para a geração de energia eólica offshore e se consolida como a nova fronteira a ser explorada no setor de energia eólica. Com a descoberta da capacidade instalável, o Estado teria condições de produzir um terço de toda energia elétrica brasileira de 2020, que era de aproximadamente 651 Terawatts-hora (Twh). Segundo frisa o Atlas, o Estado se destaca pela localização privilegiada, aliada a uma plataforma continental extensa, com profundidades adequadas para a instalação de turbinas eólicas. A avaliação foi realizada considerando diferentes níveis de batimetria (profundidade), totalizando 24 milhas náuticas em uma faixa de distância da linha de costa de 2 km até 45 km. Os resultados também foram separados considerando a parte do mar ao Norte do Estado (litoral setentrional) e a porção do mar oriental.
Rodrigo Mello, diretor do Senai e do ISI-ER, avalia que a compilação de informações é fundamental para atrair investimentos ao Rio Grande do Norte. “Nossos dados foram intensamente medidos. O Atlas, da forma como foi apresentado, é uma ferramenta viva, com informações de muito boa qualidade e que ajudarão na tomada de decisão e captação de recursos para o RN”, descreve.
“Além disso, o documento mostra um volume importante de dados de tecnologias disponíveis no mercado. Temos a maior torre de medição do País voltada para analisar informações meteorológicas destinadas ao setor, que funciona em Jandaíra, com altura de 170 metros”, completa Rodrigo Mello.
Com o surgimento de uma nova cadeia produtiva que promete ser tão significativa para a economia do Estado, a qualificação de mão de obra para atender às especificidades do mercado se torna fator indispensável. No Senai, de acordo com Rodrigo Mello, mais de 4 mil pessoas foram formadas nos últimos quatro anos, com foco na exploração de energia eólica onshore. Este ano, segundo ele, a capacitação de novas ocupações voltadas à produção em mar, começa a ser trabalhada.
“Para o setor de eólica, de modo geral, há uma demanda por eletrotécnicos, eletricistas, especialistas nesse tipo de energia, profissionais de automação e de instrumentação e atividades que volteiam as operações mecânicas (soldadores, mecânicos de manutenção, mecânicos gerais), tanto para a montagem quanto para operação e manutenção”, detalha o diretor do Senai e do ISI-ER.
“No mar, além de todo o arcabouço de trabalho nas alturas, como acontece com quem atua com os aerogeradores, tem-se também a questão do espaço marítimo, com a chegada e saída de equipamento em barcos de transporte ou em helicópteros, que requer certificação especial. Este ano a gente começa a trabalhar, aqui no Senai, novas ocupações e, certamente, em três anos, atenderemos ao que o mercado brasileiro precisa”, finaliza Rodrigo Mello.
Cenário - A eólica offshore no RN
9 é o número de projetos com pedido de licença no Ibama
17,8 GW é a capacidade de produção dos projetos
54,5 GW é a capacidade de produção no RN
32,8 Gw é a capacidade instalável no Litoral Norte.
Fontes: Ibama / Atlas Eólico do RN
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