Adriano Abreu
Principal atividade econômica do Rio Grande do Norte, o Turismo tem sido fortemente afetado pelos ataques criminosos que começaram no Estado há dez dias. O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do RN (SHRBS-RN), Habib Chalita, afirmou que, na semana passada, o segmento de hospedagem em Natal operou com apenas 15% de ocupação. Para a Semana Santa, segundo ele, 40% das reservas foram canceladas. Braço importante do setor, o ramo de alimentação fora de casa acumula prejuízos no faturamento que chegam a 80%, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no RN (Abrasel/RN).
Habib Chalita, do SHRBS demonstrou intensa preocupação com a situação do Estado e disse que o RN precisa garantir uma imagem de segurança para o País o quanto antes, a fim de evitar impactos ainda mais drásticos para o Turismo. “Estamos em um momento de juntar forças. Não podemos continuar por 15 dias reféns de uma situação que não está agradável para nenhum dos setores do RN, afinal, nenhum turista vai para um destino que não tenha segurança”, disse ele.
Questionado se o setor corre risco de demitir em função da crise provocada pela insegurança, Chalita respondeu que é preciso saber antes quando a ordem será restabelecida no Estado. “Não queremos demitir, mas tudo tem um limite. Nós precisamos saber quando teremos uma reestruturação na segurança para que todos possam trabalhar e dizer que ninguém será demitido”, respondeu. O presidente do SHRBS ressaltou preocupação ainda maior porque, segundo ele, os efeitos da crise na segurança levam meses para cessar, o que deve prolongar os impactos para o Turismo.
“Dentro da nossa cadeia, o que se planta hoje, começa a ser colhido somente três meses depois. Então, temos que implementar agora essa imagem de estado seguro para, daqui a três meses, conseguirmos colocar na cabeça do nosso cliente que nós estamos seguros”, indica. Sem a iniciativa, aponta, o RN perderá turistas para destinos vizinhos. “A Paraíba e o Ceará estão dizendo que estão seguros e surgem como saída para os agentes de viagem, que precisam oferecer uma opção aos clientes. E, no momento o RN não é uma opção”, afirma Habib Chalita.
Para ele, os esforços que o Governo do Estado fez nos últimos dias para divulgar o Rio Grande do Norte perdem efeito diante da crise. “A governadora se esforçou para vender a imagem do RN, com festas para artistas e participação em feira internacional, mas nossa imagem está bastante arranhada. Acho que deveria haver pulso firme em cima das facções que estão atrapalhando, decididamente, nosso trabalho. A Força Nacional e a PM estão presentes, mas é necessário uma reação enérgica”, sugeriu.
O setor de bares e restaurantes também amarga fortes prejuízos. De acordo com a Abrasel, para quem trabalha no almoço, houve perda de faturamento na faixa dos 30% aos 40%. Já para os estabelecimentos que atuam à noite, a redução chegou a 80%. É caso do restaurante Panela e Aromas, que possui três unidades (duas no Shopping 10, no Alecrim, e uma no Partage Norte Shopping).
“O maior problema foi o transporte público, não só por causa dos funcionários, mas dos clientes também, porque muitos deles utilizam os ônibus para ir ao restaurante”, disse Pedro Henrique Palomino, proprietário do Panela e Aromas. Segundo ele, a queda no faturamento oscilou entre 50% e 80% na semana passada.
Pedro conta que na loja do Partage, o funcionamento do restaurante, que segue até às 22h, foi reduzido para as 20h na última semana. No Alecrim, não houve alterações de funcionamento, mas o movimento baixo afetou as vendas. “Abrimos das 11h às 16h no Shopping 10, mas hoje, a gente só consegue vender até 13h30 mais ou menos”, detalhou Palomino.
Na zona Leste da capital, o gerente de um estabelecimento que preferiu não se identificar, disse à reportagem que o funcionamento no local tem sido mantido, mas conta que, nos primeiros dias de ataque o faturamento caiu entre 30% e 40% por causa do baixo movimento. “Esta semana, a situação tem melhorado”, comentou. Moisés Queiroz, gerente do bistrô Le Paradis du Café, em Petrópolis, também reclama da redução de faturamento em razão da baixa circulação de clientes registrada nos últimos dias.
“Semana passada o movimento foi muito fraco e, por isso, estávamos fechando mais cedo, às 17h – nosso funcionamento é até 20h. Agora está um pouco melhor, mas ainda estamos fechando uma hora mais cedo, às 19h. Com isso, o faturamento caiu 60%. A escassez de clientes acontece mais quando anoitece, porque as pessoas ficam com medo de sair de casa. Assim é difícil fechar as contas no final do mês e toda a cadeia é impactada (logística, armazenamento de produto, funcionários)”, relata Queiroz.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no RN (Abrasel/RN), Paolo Passariello disse que os estabelecimentos localizados em regiões periféricas são os mais afetados. “Esta semana a situação aparenta uma melhora. Tudo depende muito dos bairros onde os estabelecimentos estão localizados. Quem está instalado em uma região com maior participação de forças policiais, passa por uma situação menos complicada, ao contrário dos situados em áreas mais periféricas”, afirmou Passariello.
“Na semana passada, alguns estabelecimentos não abriram porque não tinha ônibus e os funcionários não conseguiam ir ou retornar do trabalho”, completou. Segundo ele, o horário de operação do transporte continua sendo o maior gargalo para o setor atualmente. “Isso tem aumentado os custos, porque os valores dos transportes por aplicativo estão exagerados. E tem ainda os funcionários que não conseguem ir trabalhar”, disse.
Prorrogação de imposto
A prorrogação das datas para o pagamento dos impostos do regime Simples Nacional referentes ao mês de fevereiro iria aliviar parte do setor de Turismo e ajudaria alguns segmentos no equilíbrio das contas, segundo fontes ouvidas pela reportagem. O pedido para ampliação dos prazos foi direcionado aos governos Estadual e Federal, no entanto, a solicitação não foi atendida na esfera nacional. Já no âmbito estadual, a prorrogação é aguardada em publicação do Diário Oficial.
“Nós não queremos isenção, queremos uma prorrogação para que a gente consiga respirar”, sublinhou o presidente do SHRBS, Habib Chalita. Segundo ele, 55 segmentos da cadeia são afetados pela crise. “Estamos em um momento com impactos econômicos muito difíceis de comensurar”, diz Paolo Passariello, da Abrasel. Para Pedro Henrique Palomino, proprietário do Panela e Aromas, a decisão de não prorrogar as datas é um fator que pesa bastante nas contas do restaurante, especialmente porque já existem acúmulo de dívidas.
“Em uma das unidades do Alecrim, não consegui pagar o Simples, que venceu no dia 20. Não não teve prolongamento de prazo ou qualquer outro tipo de ajuda. Nós estamos com dividas parceladas da pandemia, que acumulam agora com mais uma. Isso está sendo uma das maiores dificuldades para a gente. O atraso do pagamento pode provocar a perda do CNPJ e a saída do sistema, o que está nos deixando muito ansiosos, porque sem faturamento, não há como pagar os 20% do Simples”, relata.
A prioridade, segundo ele, tem sido o pagamento de salários dos colaboradores. “Eu não estou conseguindo nem quitar o aluguel do condomínio. Estou dando prioridade ao salário dos funcionários e eu sei que as contas vão continuar a chegar. Meu questionamento é: quanto tempo vai demorar para as coisas voltarem à normalidade?”, indaga.
TRIBUAN DO NORTE
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