(Foto: WikiCommons)
O canal Health Insight, um dos poucos veículos informativos chineses focados na cobertura de questões de saúde, publicava seu conteúdo em redes sociais como WeChat e Weibo. As páginas foram bloqueadas por determinação do órgão estatal de censura digital, a Administração do Ciberespaço da China.
Entre os trabalhos mais marcantes do Health Insight estão a cobertura do início do surto de Covid-19 na cidade de Wuhan, em 2020, e o funeral do médico Li Wenliang, importante personagem da pandemia que foi repreendido por Beijing por informar em primeira mão sobre a disseminação da doença, que mais tarde causou a própria morte dele.
Ao longo de toda a pandemia, o canal também desmentiu informações amplamente divulgadas pelo governo chinês. Por exemplo, negou a eficácia de um tradicional medicamento local indicado pelo Estado para tratar a doença. Também destacou os problemas emocionais enfrentados pelos cidadãos chineses em razão dos radicais bloqueios impostos à população até dezembro de 2022.
Diversos relatórios publicados pelo Health Insight já haviam sido removidos pelo governo, tema da maioria deles. Havia nos documentos denúncias como a manipulação de preços de medicamentos, a falta de infraestrutura adequada para pessoas com deficiência no sistema de saúde e o fato de que hospitais estatais são geridos com fins lucrativos.
O outro canal bloqueado é o Media Camp, que através do WeChat denunciava os desafios enfrentados pelos jornalistas para trabalhar na China. Em uma das mais recentes publicações, o veículo revelou que um jornalista chinês havia sido agredido por policiais quando cobria um duplo assassinato na província de Guizhou, no sul do país.
A imprensa é um dos alvos preferenciais da censura na China. No final de junho, o governo censurou um renomado jornalista financeiro que comparou os desafios econômicos enfrentados pelo país atualmente à Grande Depressão de 1929. Como ocorreu com os dois canais bloqueados nesta semana, Wu Xiaobo teve suspensa sua página no Weibo, seguida por mais de 4,7 milhões de pessoas.
Por que isso importa?
Na China, qualquer manifestação de critica ao governo é censurada, e o simples fato de citar a democracia leva à repressão do Estado. Algo que ficou claro nos protestos de 2019 em Hong Kong, que até hoje rendem prisões e denúncias contra seus organizadores e participantes.
Segundo a ONG Hong Kong Watch, baseada no Reino Unido, até o dia 31 de janeiro deste ano, 10.294 pessoas foram presas por motivação política em Hong Kong, sendo que cerca de 2,3 mil foram posteriormente processadas pelo Estado.
A internet também deixa claro que os valores democráticos não têm vez na China, que bloqueia as redes sociais dos EUA e utiliza suas próprias versões, estas submetidas à censura do Partido Comunista Chinês (PCC). É o caso do Weibo.
E a repressão imposta pela China a seus cidadãos já ultrapassa as próprias fronteiras. Artigo publicado pela revista Foreign Policy em outubro do ano passado mostra como o PCC, fazendo uso da lei de segurança nacional de Hong Kong, tem poder para calar críticos que vivem a milhares de quilômetros de distância.
Aconteceu, por exemplo, com o empresário britânico Bill Browder, alertado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a não viajar para países que honrem os tratados de extradição com Hong Kong.
Browder pedia que sanções fossem impostas a funcionários do governo britânico cúmplices de abusos dos direitos humanos cometidos pela China. Por seu discurso crítico, entrou na mira de Beijing e poderia ser preso e extraditado para Hong Kong.
A lei de segurança nacional prevê punição contra qualquer pessoa, em qualquer lugar, que tenha discurso considerado hostil aos interesses de segurança chineses. “Os ditames da China afetam os esportes, Hollywood, o mundo editorial, os meios de comunicação e o jornalismo, o ensino superior, as empresas de tecnologia e mídia social e muito mais”, diz o artigo da Foreign Policy.
A REFRÊNCIA
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