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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Escalada de crimes digitais leva à criação de delegacia especializada no RN


  Foto: Alex Régis

O Brasil ocupa a vice-liderança global quando o assunto é vulnerabilidade cibernética, com 1.379 golpes digitais registrados por minuto, segundo o Panorama de Ameaças para a América Latina, estudo de 2024, divulgado pela Kaspersky. Nesse contexto, o Rio Grande do Norte se destaca negativamente: lidera os casos no Nordeste, de acordo com a pesquisa DataSenado/Nexus. O levantamento revelou que um em cada quatro potiguares já perdeu dinheiro em fraudes digitais. O cenário motivou a criação da Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), inaugurada no último dia 14.

Localizada no prédio da antiga Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro Nossa Senhora de Nazaré, zona Oeste de Natal, a unidade foi criada para investigar delitos como fraudes eletrônicas, invasão de dispositivos informáticos, estelionato virtual, disseminação de conteúdos ilícitos e crimes contra a propriedade intelectual. A criação da divisão coincide com o avanço da tecnologia e a sofisticação dos golpes digitais, impulsionados pelo uso de inteligência artificial.

De acordo com o delegado titular da DRCC, Felipe Botelho, diversos fatores contribuem para a alta incidência de crimes digitais no Rio Grande do Norte. “O avanço da digitalização da economia, o crescimento do uso de dispositivos móveis e a popularização de transações online aumentam a vulnerabilidade da população a golpes digitais. Além disso, criminosos têm utilizado técnicas cada vez mais sofisticadas, explorando a falta de conhecimento técnico de parte da população”, explica.

Os tipos de crimes cibernéticos mais recorrentes no Estado vão desde fraudes eletrônicas e extorsão online até roubo de identidade digital e invasão de dispositivos. Botelho detalha que os golpes mais comuns incluem falsos investimentos, phishing, clonagem de WhatsApp, vazamento de dados pessoais e até golpes de falsos advogados. “A Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos tem investigado essas práticas, especialmente os crimes que envolvem grandes prejuízos financeiros e impacto social significativos”, acrescenta.

O delegado explica que a DRCC opera com foco em três eixos: investigação e repressão, monitoramento e inteligência cibernética, e prevenção por meio de campanhas educativas. “Nossa atribuição se dá em casos acima de 30 salários mínimos, mas mesmo em crimes menores, se houver ligação com outras ocorrências, centralizamos as investigações para otimizar os resultados. É muito importante o registro de boletins de ocorrência, seja em delegacias distritais ou pela Delegacia Virtual”, afirma.

Baixa cultura digital

O especialista em segurança da informação e forense computacional, Ramon Fontes, alerta que o crescimento dos crimes cibernéticos no Brasil é impulsionado por fatores como a baixa cultura de segurança digital e o fácil acesso às ferramentas de ataque na internet. “Golpistas utilizam inteligência artificial para criar mensagens convincentes e manipular vítimas. Além disso, a baixa fiscalização e a dificuldade em punir criminosos, que muitas vezes atuam de forma anônima ou em outros países, agravam o problema”, pontua.

Ramon também destaca o impacto da inteligência artificial nos golpes digitais. “Os criminosos estão usando deepfakes e clonagem de voz para aplicar golpes mais sofisticados. A tecnologia também permite ataques avançados, como o teste automatizado de milhões de senhas para encontrar vulnerabilidades”, ressalta. Em contrapartida, a mesma tecnologia pode ser usada para combater fraudes, por meio de sistemas preditivos que identificam padrões suspeitos e previnem ataques antes que aconteçam.

As redes sociais, segundo Ramon, são um ambiente propício para golpes. Ele orienta os usuários a ficarem atentos a sinais de perfis falsos, como poucos seguidores, pouca interação, imagens genéricas e solicitações suspeitas. “Já existem perfis falsos que utilizam vídeos gerados por IA, geralmente com pessoas em destaque e o fundo desfocado propositalmente para parecer mais real”, alerta. “Verifique se o nome tem muitos números ou letras aleatórias. Golpistas também imitam perfis oficiais trocando um caractere (ex: @suporte_ofic1al)”.

O especialista em segurança digital Rodrigo Jorge chama atenção para o impacto dos golpes financeiros decorrentes de furtos de celulares. “Com acesso ao aparelho desbloqueado, criminosos podem entrar em aplicativos bancários, realizar transferências, empréstimos e até alterar senhas”, diz. Ele também menciona o golpe da maquininha adulterada como um dos mais prejudiciais, além da clonagem de WhatsApp, que possibilita fraudes em nome de contatos da vítima.

Rodrigo recomenda sempre confirmar solicitações financeiras por outros meios, como ligação ou encontro presencial. “Os golpes com maquininhas adulteradas podem ser identificados conferindo o visor do aparelho, pois criminosos podem usar telas quebradas ou coladas para ocultar informações. No caso do Pix, é importante desconfiar de pedidos urgentes de transferência, principalmente se vierem de contatos com um novo número”, alerta.

Golpes nas redes sociais são comuns

O estudante Johnnatan Mota, de 24 anos, morador de Mossoró, foi uma das vítimas desses crimes virtuais. Em dezembro de 2023, ele teve o e-mail invadido, o que permitiu que criminosos acessassem a conta dele no Instagram, mesmo com autenticação em dois fatores ativa. “Eles conseguiram entrar no meu ‘hotmail’ e antes que eu conseguisse recuperar o e-mail, eles hackearam meu Instagram”, relata.

Durante o controle da conta, os invasores publicaram conteúdos fraudulentos e tentaram aplicar o golpe do falso investimento por meio de transferências via Pix. Um amigo chegou a acreditar nos falsos anúncios e perdeu R$ 1 mil para os golpistas. “Eles invadiram minhas contas e conseguiram fotos pessoais, então eles postavam prints forjados de contas bancárias com dinheiro, além de postar fotos minhas, como forma de enganar os meus seguidores para que o golpe não ficasse tanto na cara”, relembra.

O caso de Johnnatan se agravou quando, após recuperar sua conta, ele teve o perfil suspenso pelo Instagram por supostas violações de termos de uso, mesmo com a plataforma ciente da invasão. A conta ficou inativa por mais de duas semanas, gerando danos à imagem e à rede de contatos, de acordo com o estudante. Além disso, ao ter o acesso restabelecido, ele se deparou com diversas restrições impostas pela plataforma, como a proibição de transmissões ao vivo e a limitação de exibição do perfil.

Johnnatan busca, na Justiça, a responsabilização das plataformas envolvidas. Ele exige uma indenização por danos morais, alegando que tanto a Microsoft quanto o Facebook falharam em garantir a segurança de seus dados, mesmo com as ferramentas de proteção em funcionamento. “Estou no último período da graduação em Direito. Hoje em dia as redes são importantes ferramentas de trabalho e eu não consigo utilizá-las para divulgação profissional porque minha conta ainda tem várias restrições”, diz.

O delegado Felipe Botelho reforça que a população precisa adotar medidas preventivas para se proteger dos crimes digitais. “Não clicar em links desconhecidos, habilitar a autenticação em dois fatores e desconfiar de ofertas e ganhos fáceis são algumas das medidas básicas. É importante também denunciar qualquer incidente às autoridades e fornecer o máximo de informações possível para facilitar as investigações.”, orienta.

Para evitar golpes financeiros, Rodrigo Jorge recomenda o uso de aplicativos como gerenciadores de senhas e autenticação em dois fatores. “Além disso, o aplicativo ‘Celular Seguro’, criado pelo governo federal, permite bloquear o aparelho, o chip e os aplicativos bancários em caso de roubo, minimizando os danos causados por criminosos”, explica.

Ramon Fontes reforça a importância de um comportamento preventivo e recomenda que os usuários realizem o monitoramento de CPF e fiquem atentos a vazamentos de dados. “Ferramentas como o Registrato, do Banco Central, ajudam a acompanhar movimentações financeiras suspeitas e garantem maior controle sobre contas bancárias e informações pessoais”, completa.

  • Dicas essenciais
  • Habilite a autenticação em dois fatores, usando apps como Google Authenticator ou Authy.
  • Não clique em links desconhecidos enviados por e-mail, SMS ou redes sociais.
  • Use senhas fortes e diferentes para cada conta, com o auxílio de gerenciadores como Bitwarden ou 1Password.
  • Evite compartilhar informações bancárias por telefone ou mensagem, mesmo que o pedido pareça urgente.
  • Fique atento a perfis suspeitos em redes sociais: desconfie de perfis com poucas postagens ou seguidores falsos.
  • Desative o pagamento por aproximação (NFC) quando não estiver em uso.
  • Monitore seu CPF e dados bancários utilizando o serviço Registrato do Banco Central (https://www.bcb.gov.br/cidadaniafinanceira/registrato/).
  • Instale aplicativos de segurança como Find My Device (Android) ou Find My iPhone (iOS) para bloquear remotamente o aparelho em caso de roubo.
  • Sempre confirme pedidos de transferência de dinheiro por uma segunda via, como ligação ou encontro presencial.
Tribuna do Norte

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