Foto: Tania Krämer/DW
Diante do campo de refugiados de Jenin, alguns moradores dessa cidade da Cisjordânia observam, a distância segura, ambulâncias palestinas e veículos militares israelenses entrando e saindo. Outros moradores se retiram, de rosto cansado, carregando suas poucas posses.
Ala'a Aboushi, que vive perto da entrada do campo, distribui copinhos de papel com café árabe aos jornalistas que assistem à cena. "Eles terminaram lá em Gaza, e agora vieram aqui à Cisjordânia para se vingar da gente", comenta. "Nós, civis, não sentimos nenhuma segurança aqui."
Em 21 de janeiro de 2025, logo após a entrada em vigor do cessar-fogo temporário e do acordo de libertação de reféns, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou uma "operação militar significativa e em grande escala" contra os militantes palestinos de Jenin – dos quais o campo de refugiados é considerado um reduto.
Desde então, a ofensiva militar tem se expandido gradativamente para outras localidades da área, como Tulkarem, outra cidade de porte maior do noroeste da Cisjordânia, que abriga dois acampamentos (o segundo se chama Nur Shams), construídos após a criação do Estado de Israel, em 1948, para abrigar palestinos desalojados.
Há tempos o território palestino na margem oeste do rio Jordão tem sido alvo de operações "antiterrorismo" das Forças de Defesa Israelenses (IDF), mas sua intensidade e âmbito aumentaram desde o ataque terrorista do grupo Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023.
Possível mudança de curso de Tel Aviv para a Cisjordânia
A última operação das IDF incluiu ofensivas aéreas e incursões por terra, com a destruição de infraestrutura e residências, expulsões em massa, mortes e prisões. Ela coincidiu com a posse presidencial de Donald Trump nos Estados Unidos – o qual anunciou que em breve se pronunciará sobre os planos israelenses de anexar a Cisjordânia. A população teme que o território ocupado vá se transformar na segunda Faixa de Gaza.
"As IDF estão operando fortemente no campo de refugiados de Jenin para coibir os terroristas e destruir a infraestrutura do terror, como vimos aqui hoje", comentou o ministro da Defesa Israel Katz em 29 de janeiro, sinalizando uma possível mudança de curso. "O campo de Jenin não voltará a ser o que era. Depois de completada a operação, as tropas da IDF permanecerão lá para assegurar que o terrorismo não volte."
Foto: Tania Krämer/DW
Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 40 mil refugiados palestinos foram retirados à força de seus acampamentos. Em Tulkarem, pelo menos nove foram mortos, entre os quais uma grávida de 23 anos e seu bebê não nascido.
Umm Mohammed, residente nesse campo, conta que já viu muitas incursões israelenses, mas a tendência é um aumento da violência: "Cada vez é mais forte do que a anterior. A gente toda estava chorando de medo e terror." Os disparos eram a esmo e por toda parte e, passados alguns dias, o exército ordenou que ela, seus filhos e netos abandonassem sua casa.
Desde então, a família vive em duas dependências de um clube esportivo local que se ofereceu para acolher os desabrigados. Doações privadas de roupas e cobertores estão empilhadas na entrada. Na televisão veem-se imagens ao vivo de casa: a cidade, os campos de refugiados Tulkarem e Nur Shams. As crianças tentam seguir online pelo menos em parte o currículo escolar, já que a maioria das escolas da ONU está fechada.
DW
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