Foto: Sethas
A indústria de laticínios do Rio Grande do Norte defende que o Programa do Leite seja institucionalizado em lei para garantir continuidade, segurança jurídica e previsibilidade aos produtores. Atualmente, o programa tem suas regras definidas em decreto, que pode ser alterado a qualquer momento pelo Governo do Estado, sem necessidade de passar pela Assembleia Legislativa.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Leite do RN (Sindleite-RN), Túlio Veras registra que houve avanços recentes na execução do programa. Ele destacou a implantação de um aplicativo de acompanhamento de estoques, que trouxe mais transparência e controle sobre os recursos públicos.
Apesar dos avanços, ele defende novos aprimoramentos. Um deles é criar legislação própria para o programa, a fim de dar estabilidade e segurança jurídica aos participantes. “As gestões vêm e vão, e o programa continua. Nós precisamos mesmo de uma lei para garantir. Porque você imagina uma empresa fazer todo esse investimento, o produtor manter uma produção lá nos rincões… E o produtor está lá produzindo. Qual é a garantia? Um decreto? Não. Nós precisamos de uma lei.”
As declarações de Veras foram dadas em entrevista ao podcast “Fala, Indústria!”, que é veiculado no canal no YouTube da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern).
O dirigente ressaltou que o leite distribuído pelo programa chega aos 167 municípios do Estado, beneficiando mais de 75 mil famílias. “Se esse leite alimenta quatro pessoas numa casa, você está trabalhando com 300 mil pessoas”, explicou. O programa é hoje abastecido por 11 indústrias locais, que compram exclusivamente de produtores potiguares.
“O leite potiguar é padrão, mas precisa evoluir”
Túlio Veras afirmou que o leite produzido no Rio Grande do Norte tem qualidade padrão, mas enfrenta perdas de competitividade em relação a estados do Sul e Sudeste, especialmente pela distância dos centros consumidores e pela menor produtividade média das propriedades.
“Nós temos um leite padrão. Agora, quando a gente fala de rendimento, transporte, distância e quantidade de propriedades, aí a gente perde competitividade.”

Ele mencionou o avanço de tecnologias no setor leiteiro nacional, como o melhoramento genético e a produção de leite com mais sólidos e proteínas, o chamado “leite do futuro”. “A população está procurando isso. Nós não podemos ficar aqui no trivial. A gente tem que ir lá fora buscar, porque são detalhes que fazem a diferença no final.”
O dirigente alertou que o setor precisa acelerar a modernização para não perder espaço. “A luta é para chegar nesse mercado que tem um nível de profissionalismo e tecnologia muito mais avançado. A gente precisa acelerar sob pena de a cadeia produtiva estagnar ou diminuir.”
Leite Genético e modernização na cadeia
Na busca por competitividade, o Sindleite tem apostado em projetos de melhoramento genético em parceria com o Sebrae-RN e outras entidades. O programa Leite Genético, como explicou Veras, tem foco em pequenos produtores e busca elevar a produtividade e a qualidade nutricional do leite.
“Na pecuária de leite, a gente precisa ser um excelente agricultor para ser um bom pecuarista. No ano passado, nós contratamos 500 inseminações artificiais, distribuídas entre pequenos produtores, com até 10 ou 15 animais.”
O dirigente destacou que a parceria entre indústria e produtor é essencial para que os resultados sejam sustentáveis. “Quando você tem um produtor parceiro, fiel, que compreenda o contexto, você estimula. Assim como o produtor precisa de uma indústria parceira, que entenda e se comprometa.”
Veras propôs ainda a criação de um Conselho de Leite potiguar, com representantes da indústria, dos produtores, da Federação da Agricultura e das universidades. O modelo, já adotado em outros estados, serviria para definir preços com base em dados técnicos e insumos, promovendo maior equilíbrio na cadeia.
Clandestinidade e risco sanitário: “O mercado precisa estar atento a isso”
Um dos pontos mais contundentes da entrevista foi o alerta de Túlio Veras sobre o avanço da produção clandestina de leite. Segundo dados citados pelo presidente do sindicato, apenas 22% do leite produzido no RN passa por indústrias inspecionadas. “Quem mais prejudica a bacia leiteira do Rio Grande do Norte hoje é o clandestino”, afirmou.
Ele destacou que o cumprimento das 77 instruções normativas e exigências sanitárias representa custo e responsabilidade para as indústrias legalizadas, enquanto produtores informais atuam à margem da lei. “O clandestino faz de qualquer jeito, em qualquer lugar, e chega para competir no mercado. O mercado precisa estar atento a isso. O consumidor também.”
Veras lembrou que o leite é um alimento extremamente perecível, exigindo controle rigoroso de temperatura e higiene. “Leite é bactéria viva. No calor, acima dos 26 graus, ela vai comendo o que tem de bom do leite e vai diminuindo a qualidade. Quando você baixa a temperatura, você paralisa essa bactéria.” Ele explicou que em sistemas modernos de resfriamento, o leite é reduzido a 4°C em menos de um minuto, preservando suas propriedades.
O dirigente reforçou que o descuido sanitário pode gerar doenças transmitidas de animais para humanos, e pediu mais fiscalização e conscientização do consumidor. “No leite é muito mais grave, porque é um alimento perecível, mas que vem de animais. Então nós temos uma responsabilidade, não só de dar longevidade aos produtos, mas de manter a segurança do alimento.”
Empregos e estrutura do setor leiteiro
O Rio Grande do Norte conta hoje com 30 indústrias de beneficiamento de leite, sendo 18 filiadas ao Sindleite-RN. O número chega a 58, considerando as unidades registradas no Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (Idiarn). “O leite está nos 167 municípios do Estado. Nós temos uma curva ascendente. Hoje temos de 550 a 600 mil litros de leite processados diariamente em unidades regulamentadas”, afirmou.
A cadeia produtiva gera um emprego a cada 50 litros de leite produzidos, segundo ele. “Em muitas regiões do Estado, a única atividade funcionando no campo que tem é o leite”, observou. Essa presença capilar dá ao setor um papel social e econômico de destaque, sobretudo em áreas rurais do semiárido.
Com informações Agora RN
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