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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Crise política prolonga incerteza e eleva risco financeiro na França


 A sucessão de primeiros-ministros em pouco mais de um ano transformou a França em um laboratório de instabilidade política no coração da zona do euro. A fragilidade institucional se soma a um quadro fiscal deteriorado, que já começa a reverberar nos mercados. O resultado é um risco crescente de que Paris se torne o elo frágil da moeda única, deslocando para si a pressão que por décadas se concentrou sobre Roma.

O país convive hoje com uma dívida pública equivalente a 115,6% do PIB, segundo o Insee, e com taxas de juros de 10 anos em 3,5%, acima das cobradas da Itália. A agência Fitch, que em setembro rebaixou a nota soberana francesa de AA- para A+, reforçou a percepção de que o governo perdeu a capacidade de transmitir confiança a investidores.

A instabilidade ganhou força após a queda de François Bayrou, quarto primeiro-ministro em um ciclo de sucessões aceleradas. Bayrou não conseguiu costurar maioria em torno de um plano de economia de € 44 bilhões, peça central da promessa feita a Bruxelas de cortar € 120 bilhões em gastos ao longo de cinco anos.

Seu sucessor, Sébastien Lecornu, assumiu o cargo em setembro de 2025 já sob intensa pressão. Em meio ao impasse orçamentário, descartou retomar o imposto sobre os ultrarricos e reafirmou a meta de reduzir o déficit para 4,7% do PIB em 2026, promessa vista como difícil de cumprir diante de uma dívida crescente e de um Parlamento fragmentado. O Partido Socialista já ameaça moções de desconfiança contra o novo premiê.

O diagnóstico acadêmico permanece duro. A professora Anne Sophie Alsif, da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, lembra que a França usou anos de crédito barato para financiar despesas correntes, sem investir em setores capazes de sustentar crescimento e produtividade. O resultado é um endividamento pesado, mas sem ativos correspondentes. “As despesas de planejamento do futuro estão sendo sacrificadas para financiar gastos imediatos. Enquanto isso, os Estados Unidos apostam em produção para gerar crescimento”, observa.

Com expansão prevista em apenas 0,6% em 2025 e 1,0% em 2026, segundo o FMI, o país permanece preso a um círculo vicioso: baixo crescimento limita receitas, déficits se ampliam e a dívida se retroalimenta. O Le Monde definiu o cenário como uma verdadeira “escalada do Himalaia orçamentário”.

O dilema da tributação

Para tentar aliviar a pressão, voltou ao debate a taxação dos ultrarricos. A medida, porém, encontra resistências tanto entre economistas quanto dentro do próprio espectro político francês. Eric Heyer, pesquisador da OFCE, sintetiza o problema: “Ninguém está de acordo sobre qual trajetória seguir. Os partidos não reconhecem a necessidade do esforço nem o ritmo em que ele deveria ser feito”.

O quadro francês preocupa não apenas pela magnitude da economia, mas também porque sinaliza um deslocamento do centro de risco dentro do euro. Se antes o mercado temia a sustentabilidade das contas italianas, agora vê na França – segunda maior economia da região – um ponto de fragilidade.

Segundo a Comissão Europeia, a dívida da zona do euro deve cair para 89% do PIB em 2025. A França, porém, nada contra a corrente: deve ampliar o endividamento para 118,4% em 2026, consolidando-se como o maior desafio fiscal entre as grandes economias do bloco.

A mensagem para investidores é que a instabilidade já não é periférica, mas pode atingir o núcleo do projeto europeu.

Euro News

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