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domingo, 25 de janeiro de 2015

Há dois meses, fugitivos da guerra da Síria estão presos em Natal



fonte: novo jornal 

Tentaram fugir da guerra e entraram num inferno.  Cinco fugitivos da guerra civil da Síria permanecem presos na Cadeia Pública de Natal Raimundo Nonato, na Zona Norte, há dois meses e 19 dias, após tentarem embarcar com passaportes falsos para a Europa e serem presos no Aeroporto Internacional Aluízio Alves.    Sem falar português, inglês ou espanhol, convivendo com dezenas de detentos brasileiros sem nem mesmo conseguirem se comunicar, o grupo espera uma decisão da Justiça Federal para pedir refúgio no Brasil ou voltar para o seu país de origem.   O capítulo brasileiro do drama de Salah Aldeen, 35, Masoud, 27, Azzam, 35s, e de outros dois homens chamados Ahmad, um de 47 anos e outro de 23, começou em outubro do ano passado. Vindos da Síria, eles chegaram ao Rio de Janeiro, onde permaneceram por cerca de três semanas. De lá, adquiriram passagens para a Holanda.    No entanto, ao fazerem conexão em Natal foram presos pela Polícia Federal por falsificarem os passaportes. Naquele momento, eles não eram Salah, Masoud, Azzam e Ahmad. Mas Eban, Dudel, Dahan, Abia e Achisar. Nomes presentes nos documentos falsificados, com os quais pretendiam entrar na Europa, como oriundos de Israel.    A partir da prisão, no dia seis de novembro, iniciaram uma nada agradável estadia no sistema carcerário potiguar. Convivem com os mais variados tipos de criminosos, comunicam-se por meio de gestos e aguardam notícias da família: mulheres e filhos deixados na Síria, em meio à guerra, à espera de uma oportunidade para também se juntarem aos seus na Europa.    Por conta da barreira linguística – só falam a língua árabe – o grupo teve dificuldades para compreender o que se passava e para providenciar a defesa diante da lei brasileira, o que só se tornou possível graças a Comissão de Relações Internacionais da OAB/RN e ao representante da Associação Beneficente Mulçumana do RN, Muhamad Taufik, que se prontificaram a ajudar.   Com a colaboração de Taufik, que é palestino, a reportagem do NOVO JORNAL pode conhecer melhor a história dos cinco sírios. Antes da prisão, eles travaram contato com uma quadrilha internacional de “coiotes” turcos, gente que se especializou em fazer fugitivos entrarem escondidos em território europeu. Pelo “serviço”, realizaram um pagamento de quantia não especificada, porém sabidamente expressiva. Um deles chegou a ceder uma casa na Síria para a quadrilha.    A entrada no Brasil ocorreu com os passaportes verdadeiros. No Rio de Janeiro, foram recebidos por membros da quadrilha, que os alojaram em uma pousada por cerca de três semanas. Os passaportes falsos foram fornecidos no Rio de Janeiro, enquanto que os documentos originais foram enviados para parentes que já os esperavam na Europa.    A escolha pelo continente europeu não foi ao acaso. O Brasil também recebe refugiados de guerra de todo o mundo e nada impediria que os cinco sírios pedissem refúgio às autoridades brasileiras. Contudo, a rede de assistência e proteção a refugiados no Brasil ainda é insuficiente.    “Na Europa, há uma rede mais consolidada de apoio, enquanto que no Brasil a assistência ainda é incipiente”, explica o presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB/RN, Marconi Neves. Para se ter um exemplo, países europeus oferecem abrigo em campos de refugiados com auxílio mensal de 340 euros. No Brasil, eles ficariam entregues à própria sorte, num país que não conhecem e com um idioma que não dominam.    A equipe da Comissão de Relações Internacionais, formada por Marconi Neves e pelos advogados Kleber Gomes, Karinne Batista e Marianna Perantoni, apresentou na última sexta-feira à tarde mais um pedido de liberdade para os cinco sírios presos em Natal. Os dois anteriores foram negados pela Justiça, segundo Marconi, porque sequer havia cópias dos documentos originais ou algo que confirmasse a verdadeira identidade dos cinco presos.   Enquanto isso, Muhamed Taufik tem mantido contato com familiares de alguns dos presos. O pai de um deles, ainda na Síria, e um cunhado de outro, que mora na Europa. A angústia de todos os envolvidos, como era de se esperar, gira em torno da soltura dos cinco e do destino que tomarão após a liberdade.    Ficar no Brasil como refugiado e tentar emprego e a reconstrução da vida em uma terra distante ou pedir a volta para a Turquia e retornar para a Síria? Independente da escolha, uma certeza emerge depois de meses de cárcere. Segundo Taufik, os estrangeiros, arrependidos, admitem ter tomado uma decisão equivocada. “Era melhor ter ficado na guerra”, dizem. 





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