Fonte: Novo
O placar termina 15 a 5 na tela azul pixelada de um jogo que funciona como um "ping pong" virtual no qual dois players precisam rebater o ponto branco da tela um para o outro e por aí vai. Estamos diante de um “Telejogo II”, lançado em 1978 com 10 opções diferentes de jogos, entre eles o que acabo de perder numa batalha mais vergonhosa do que o 7x1 do Brasil na copa.
Caso sirva de desculpa meu adversário naquela manhã é o dono não somente daquele videogame histórico, como também de outros 314 modelos diferentes que estão quase todos espalhados por um salão no primeiro piso do Natal Shopping, integrando a exposição “Retrogames Collection”.
“Você não soube manusear direito, porque o console é realmente muito sensível”, ameniza Esdras Serrano, que precisou colocar para circular todo o seu acervo de 8 gerações diferentes após a sua esposa lhe questionar sobre a falta de espaço em casa.
Natal é a segunda parada da exposição itinerante idealizada pelo colecionador, começando o trajeto neste ano em Fortaleza, onde o casal vive. Os próximos destinos, até janeiro do ano que vem, são: João Pessoa e Belém.
Esdras não somente coleciona como também faz a manutenção de todos os seus videogames, além de ter sido responsável por construir os totens onde as preciosidades estão expostas ou disponíveis para disputas individuais/em duplas pelo preço único de R$ 10 para aproveitar o quanto puder em tempo livre.
O “Telejogo II”, no qual disputamos a partida de ping pong, chegou em sua casa como um presente de seu pai que enxergava na possibilidade de entretenimento com a TV uma diversão para toda a família. O terceiro videogame deles não por acaso foi o famoso “Atari”, ou melhor um “Dactar II”, clone não autorizado do jogo que se tornou uma febre entre os jovens da época.
Para quem tinha visto o Atari apenas em camisetas ou em emuladores de internet até então é realmente interessante comer traços na tela fugindo dos fantasmas por um labirinto através de um console real. “Naquela época ter uma TV em casa era um grande luxo, e ter um videogame então era realmente muito raro”, lembra Esdras que sabe cada mínimo detalhe de sua coleção.
A primeira revolução mesmo em casa surgiu quando ele tinha uns 9 anos pelo que se lembra (hoje tem 39) e seu pai chegou com um “Nintendo NES”, lançado pela japonesa nos EUA no meio da década de 80, em uma época na qual o mercado norte-americano ainda sofria o crash dos consoles de videogames e uma rápida ascensão dos computadores também como equipamentos de games.
Na tela o também conhecido como “Nintendinho 8 bits” está pronto para permitir que algum jogador se aventure em um jogo das Tartarugas Ninjas, nesse caso o próprio Esdras. “Cara para a criança que estava acostumada com pontinhos na tela ver um personagem assim se mexendo na tela e lutando... isso foi realmente grande na época”, conta sobre o tempo em que precisava esperar a mãe terminar de ver a novela para que somente depois disso ele pudesse começar a jogar.
Vida de dedicação aos games
Até hoje Esdras joga todos os seus videogames e o segredo para que as fitas durem muito tempo, por exemplo, ele diz que é conservação e carinho. “Eu guardo todas as fitas em plástico filme, cada uma em sua caixa, mas o principal é justamente você não deixar de usar esses equipamentos porque senão eles param”, garante o colecionador.
Ainda no estilo “8bits” Esdras nos leva de volta para o começo da loja e mostra uma das maiores raridades da coleção, quase da mesma época que o “Nintendinho 8 bits”, um “Nintendo Famicom Box Play Mate”, que possui seis cartuchos de jogos, entre eles, “Mário Bros”. O modelo era uma exclusividade do Japão.
“Esse eu comprei mais recentemente, há uns dois anos, de um amigo meu que trabalha com demolições no Japão. Um dia ele foi demolir um hotel e quando chegou lá viu esse videogame e na mesma hora me avisou. Ele foi um modelo bastante usado nos hotéis japoneses dos anos 80”, conta.
A maioria das novas aquisições partem, aliás, de negociações pela internet ou leilões no e-bay, muito embora acervos particulares de outros colecionadores também sejam boas fontes, como o caso de uma aquisição não tão antiga e muito importante: o primeiro videogame fabricado no mundo.
O modelo de Magnavox Odyssey surgiu em 1972 e está exposto bem na frente do salão, confundindo os desavisados com uma máquina de escrever sem as teclas ou um “fax” bem antigo mesmo.
O Odyssey foi o primeiro videogame comercializado no mundo, em agosto de 1972. O desenvolvedor do jogo, Ralph Baer, começou a trabalhar em um protótipo em 1968. Além de serem mudos, os jogos do Odyssey só funcionavam com um filtro plástico que era preciso ser encaixado na tela da TV para dar a ilusão de linhas, cenários, cores e contornos durante uma partida.
Antes que o momento de diversão acabe o repórter realiza apenas mais um desejo: rever Mário Bros numa versão, aliás, muito mais antiga, em um VG900 da CCE, modelo de videogame lançado em 1990, um ano antes do repórter nascer. Mário está quase sem feição e o cogumelo é bem menos fofo do que na versão popularizada, mas mesmo assim ficaria por ali tranquilamente por muito mais tempo. Hora de voltar para a redação e redigir tudo que você acabou de ler.
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