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domingo, 23 de outubro de 2016

Voto brasileiro contra Israel teve “protesto”, mas não foi mudado



O trabalho da UNESCO, órgãos das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura, é realizado após sessões deliberativas, onde são feitas votações. Em seguida, as decisões são passadas para a mesa diretora, que oficializa tudo através de documentos. Assemelha-se ao funcionamento da Câmara, onde projetos de lei precisam primeiro passar por Comissões antes de ser oficializados.
Desde a 199º sessão – realizada em abril – havia um impasse em relação ao Monte do Templo, em Jerusalém. Na ocasião, foi debatido os direitos pelo patrimônio cultural nos territórios conquistados por Israel na Guerra dos Seis Dias. O texto, que era abertamente pró-palestinos, foi aprovado por 33 votos a favor (incluindo o do Brasil). Houve ainda dezessete abstenções e duas ausências.
Quando Michel Temer ainda era presidente interino, em julho, determinou que o Brasil revisse o voto, posicionando-se contrário. A França também acabou fazendo o mesmo. Contudo, uma nova reunião do Conselho Executivo, em 13 de outubro, o assunto voltou a ser tratado de forma mais incisiva, onde a ONU simplesmente não reconhecia qualquer ligação dos judeus com o Monte do Templo, subscrevendo as alegações palestinas de Israel como “força ocupadora” de Jerusalém.
Chamado apenas de Esplanada das Mesquitas, em virtude de uma herança histórica, a Jordânia continuará administrando o local, mas Israel controla seus acessos.
Itamaraty deu um passo atrás e voltou a se posicionar contra Israel, embora tivesse reservas quanto a linguagem usada. “O fato de que a decisão não faz referência expressa aos históricos laços do povo judeu a Jerusalém, particularmente ao Muro das Lamentações, o local mais sagrado do judaísmo, é um erro, o que torna o texto parcial e desequilibrado”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores, comandado por José Serra.
Nesta terça-feira, 18, a resolução foi encaminhada para a diretoria da UNESCO, que adotou formalmente a resolução sobre Jerusalém Oriental, proposta por Argélia, Egito, Líbano, Marrocos, Omã, Catar e Sudão. O texto final foi aprovado pela assembleia plenária, da organização, em sua sede em Paris.
Como nenhum dos Estados membros do Conselho, pediu a reabertura do debate o texto foi confirmado sem a necessidade de uma nova votação, explicou um porta-voz da UNESCO. Apenas o México reviu o voto e posicionou-se contra. Como resultado, Israel anunciou a suspensão de sua cooperação com a Unesco, em sinal de protesto.
Já o Hamas classificou a votação como uma “vitória para o povo palestino”. O grupo terrorista diz que a decisão ONU “demole ficções israelenses” e “prova que o lugar santo é puramente islâmico”. A Autoridade Palestina também comemorou a decisão da UNESCO, ressaltando que organização condena Israel, classificando-o como “a potência ocupante” de Jerusalém, terceiro lugar mais importante na teologia muçulmana – atrás de Meca e Medina, na Arábia Saudita.
Lembrou que o ONU condenou as “violações” do estado judeu, que incluem escavações arqueológicas ao redor dos locais religiosos.
Eles veem isso como mais um passo na direção do reconhecimento da Palestina como Estado independente, o que forçaria Israel a entregar o controle de Jerusalém Ocidental definitivamente para os palestinos.
O embaixador de Israel na UNESCO, Carmel Shama-Hacohen, afirmou que somente o México mudou seu voto entre quinta (13) e terça-feira (18), preferindo a abstenção. Mas não foi capaz de impedir “a maioria automática apreciada obtida pelos palestinos e países árabes”, pois o resultado final foram 24 votos a favor, seis contra e 29 abstenções.
Ele também elogiou o Brasil por expressar reservas sobre a linguagem usada na resolução, apesar de Brasília não ter mudado o seu voto. “Esperamos que essas reservas façam com que seja mais difícil para o Brasil apoiar esses movimentos no futuro”, desabafa Hacohen.

Ameaças de morte

A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, havia expressado reservas pessoais antes da aprovação da resolução: “o patrimônio de Jerusalém é indivisível, e cada uma de suas comunidades tem o direito de reconhecimento explícito de sua história e de seu vínculo com a cidade”.
Após este comunicado, Bokova foi ameaçada de morte, mas não quis comentar o caso. Shama, emabaixador de Israel na UNESCO foi quem divulgou o caso em um programa de rádio. “A diretora-geral recebeu ameaças de morte e sua proteção teve que ser reforçada”, afirmou, acusando os países árabes de manter uma “conduta chocante” nos debates.
Michael Worbs, representante da Alemanha que iria presidir o Conselho da UNESCO na terça, também expressou oposição aos termos usados no documento e tentou adiar a reunião que ratificaria a decisão. Ele pediu que fosse feito um debate mais aprofundado para possíveis mudanças no texto da resolução.
Uma manobra de um grupo de representantes  árabes fizeram uma forte pressão sobre Worbs, que, em seguida, afirmou que não iria presidir a reunião final.  A imprensa noticiou que ele também foi ameaçado de morte, mas ele preferiu não comentar. Acabou sendo substituído pela embaixadora sueca Annika Markovic, que era favorável aos palestinos.
Com informações de Times of Israel

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