Fonte: dw
Proteger a Lituânia da Rússia é responsabilidade da Alemanha, de acordo com os planos de defesa da Otan que despontaram na cúpula desta semana em Bruxelas. Na quarta-feira, o Ministério alemão da Defesa deu uma demonstração de como está levando a sério essa missão, confirmando à agência alemã de notícias DPA que enviará, em 2017, tanques Leopard 2 à fronteira russa com o país báltico, além dos 650 soldados já prometidos.
A medida faz parte de um plano da Otan para proteger seus membros bálticos, que têm demonstrado preocupação com as ambições russas após a anexação da Crimeia, em 2014, e a subsequente guerra no leste da Ucrânia.
Um batalhão de cerca de mil soldados da Otan será estacionado na Lituânia a partir de junho – com rotatividade de seis meses. Entre 450 e 650 soldados dessa tropa serão providos pela Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha), enquanto os restantes virão de França, Bélgica e Croácia. A mídia alemã informou que a unidade de treinamento para combate também será equipada com tanques, veículos blindados, atiradores de elite e engenheiros.
Planos devem irritar a Rússia
Cada uma das grandes potências da aliança enviará tropas para reforçar as defesas dos países que fazem fronteira com a Rússia. Enquanto a Alemanha está ajudando a Lituânia, a Polônia é protegida pelos Estados Unidos, a Letônia receberá assistência do Canadá, e o Reino Unido será responsável pela Estônia.
Os planos devem irritar ainda mais a Rússia, cujo governo tem criticado as estratégias militares da Otan na região. "A aliança está concentrando suas forças em limitar uma ameaça inexistente do leste", comunicou o Ministério do Exterior da Rússia, meses atrás.
A ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, defendeu as medidas, classificando sua implementação de "apropriada" e "defensiva". "Este é um sinal claro de que um ataque a um país-membro da Otan será considerado um ataque a todos os países-membros da Otan", disse.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também indicou que a missão é uma resposta à agressão russa. "A Rússia está preparada para usar seu poderio militar", disse, em Bruxelas. "É necessário que a Otan responda a isso."
Gustav Gressel, especialista em temas relacionados à Rússia no Conselho Europeu de Relações Exteriores, avaliou que os novos planos militares da Otan são corretamente dimensionados, dadas as circunstâncias. "A Rússia ainda goza de uma superioridade militar de cerca de cinco para um naquela região", disse Gressel. "Não é de jeito nenhum uma ameaça ofensiva aos russos – mas uma reação de pequena escala e cautelosa ao aumento da presença militar da Rússia. Ela não altera o equilíbrio militar no Báltico", afirmou.
Temores bálticos
Os Estados bálticos teriam preferido que a Otan tivesse enviado mais tropas às suas zonas fronteiriças, argumentou Gressel. "Desde 2009, a Rússia tem treinado suas forças em cenários de invasão aos países bálticos", afirmou. "Para esses países isso é uma coisa real, algo que pode acontecer a qualquer momento."
Segundo o especialista, mesmo que a Rússia esteja economicamente isolada e não possa se dar o luxo de tomar um novo território, o sistema político russo exige mostras de poderio militar para sua própria população. "É cada vez mais difícil prever o que a Rússia fará, ou o que a Rússia entenderá como provocação militar. Então é melhor se prevenir e sinalizar à Rússia que ela não terá passe livre nos países bálticos."
Mas, ao mesmo tempo, a Otan está tentando encontrar um equilíbrio. "É preciso se garantir para a eventualidade de a Rússia se tornar aventureira", afirmou Gressel. "Mas, por outro lado, não se deve empurrar a Rússia para as suas profecias autorrealizáveis de ameaças. Em minha opinião, as manobras da Rússia são para propaganda interna, e seus militares sabem que a Otan não vai invadir o país."
A Alemanha tem contribuído para o maior rearmamento da Otan desde o fim da Guerra Fria. No ano passado, encomendou mais cem tanques Leopard 2 – a maioria veículos anteriormente desativados que serão atualizados. Ao mesmo tempo, o teto de 225 tanques, que havia sido acertado como parte da reforma militar de 2011, foi elevado para 328 unidades.
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