O óleo diesel subiu 41,1% em um ano no Rio Grande do Norte, conforme apontam dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O último levantamento do órgão mostra que o preço médio do litro do combustível era vendido por R$ 6,65 na primeira semana de maio, enquanto que o valor médio registrado em maio de 2021 era de R$ 4,71. Somente em 2022, a subida é de 20,2%. Na primeira semana de janeiro, o litro do diesel era comercializado a R$ 5,53 , isto é, R$ 1,12 mais barato do que o preço praticado neste mês de maio.
A última pesquisa da ANP foi divulgada no sábado (7) e, portanto, não inclui o novo preço do diesel para as distribuidoras, que sofreu reajuste de R$ 0,40. Na capital potiguar, o litro do diesel já pode ser encontrado por R$ 6,79. O aumento foi anunciado na segunda-feira (9) pela Petrobras. Segundo a companhia, os preços de gasolina e do GLP permanecerão inalterados. A empresa justificou o aumento ressaltando que o último reajuste ocorreu há dois meses, em 11 de março, quando “refletia apenas parte da elevação observada nos preços de mercado”.
A alta do diesel traz uma preocupação a mais porque o combustível abastece o transporte rodoviário de carga. “Isso tem um peso para a população do ponto de vista da relação de consumo. Grande parte das cargas, que são fornecidas aos estabelecimentos comerciais, são provenientes deste tipo de transporte”, comenta Henrique Souza, especialista em administração e mercado financeiro. “Isso onera os valores de frete e consequentemente isso é repassado para toda cadeia de distribuição, até chegar ao consumidor final, o que faz com que o preço do produto final seja bem elevado”, acrescenta.
O caminhoneiro Valdir Ferreira, que também é presidente da Cooperativa do Caminhoneiro Urbano do Rio Grande do Norte, diz que os seguidos reajustes têm desanimado a categoria, que está em estado de “revolta”. “A família do caminhoneiro sobrevive, até mesmo, se alimentando uma vez por dia no mês, mas esse povo da política, da Petrobras, não sobrevive dois dias de fome. A gente desanima porque ficar para cima e para baixo e depois não trazer nada para dentro de casa é difícil. Dá vontade de deixar de dirigir caminhão e deixar quem quiser dirigir aí à vontade. Eu como representante, posso dizer que a categoria está de luto”, diz Ferreira.
Considerando um tanque de combustível de uma carreta, com capacidade de 400 litros, o motorista hoje precisa desembolsar R$ 2.660 para completar todo o reservatório. Em maio do ano passado, considerando a mesma quantidade, a conta fechava em R$ 1.884. O caminhoneiro José Everton Lopes diz que se sente desamparado, sem ter para quem recorrer. Segundo, com a alta do combustível, o planejamento do transporte de cargas é feito por semana.
“A gente pega uma viagem numa semana, vê o que sobrou e depois vê se dá para fazer outra. Desse jeito, a saída vai ser parar tudo, não tem condições. No meu caso, eu ainda devo dez parcelas desse meu carro, já hoje eu vou sair daqui, empurrar como der para pagar e depois vou ver o que faço. A manutenção é cara também porque não é só o diesel, pneu tudo caro, eu tive que comprar um agora foi R$ 14 mil, qualquer insumo de uma carreta é assim caro”, conta o trabalhador que veio de Petrolina para Natal com uma carga de frutas.
A petroleira aponta que, no momento, há uma redução na oferta de diesel, que pressiona os preços globalmente. “Os estoques globais estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões supridoras. Esse desequilíbrio resultou na elevação dos preços de diesel no mundo inteiro, com a valorização deste combustível muito acima da valorização do petróleo. A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta”, frisou.
O novo aumento foi “absolutamente necessário” para evitar um desabastecimento, afirmou o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda. “Nós já estamos passando por um processo de racionamento seletivo. O Brasil tem 41 mil postos, mais ou menos 20 mil postos com a bandeira branca (marca própria), e os bandeiras brancas são atendidos por companhias distribuidoras menores, regionais, pequenas. Essas distribuidoras já não estão conseguindo importar o produto, o óleo diesel”, relatou Miranda.
Não há 'solução' sem mudar política de preços, diz entidade
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos), Maxwell Flor, diz que não enxerga “solução” para a disparada de preços sem uma mudança na política de precificação da Petrobras, que se equipara com o mercado internacional. Ele diz que o cenário é preocupante porque traz indicativos de aumentos futuros. “Para nós é muito ruim. Somos a ponta final, onde o motorista leva sua reclamação, sua indignação, então a gente sente isso muito diretamente. A gente se preocupa bastante”, pontua.
“A Petrobras fez esse reajuste de R$ 0,40, mas se for parar para olhar já tem uma diferença de paridade de R$ 1. Ou seja, no mercado nacional, no Brasil, a gente está comprando o diesel R$ 1 mais barato do que no mercado internacional e na gasolina essa diferença está em R$ 0,57. Se a Petrobras fosse fazer a paridade à risca, ela teria que repassar esses valores, então isso nos preocupa porque o que vai acontecer é que vai ter mais aumento daqui para frente”, acrescenta Maxwell.
O secretário adjunto de Tributação do Estado, Álvaro Bezerra, entende que o governo fica de “mãos atadas”, diante da “dolarização” dos preços dos combustíveis praticados pela companhia. “Tentou-se vincular isso ao ICMS, mas ficou provado, categoricamente, que não era essa a questão. O ICMS foi congelado, mas o combustível continuou subindo, graças à paridade com o preço do barril do petróleo no mercado internacional. No caso do diesel, isso traz danos muito grandes para a população porque o diesel puxa o transporte da mercadoria, então o frete sobe”, pontua Bezerra.
O professor de mercado financeiro, Henrique Souza, diz que a política da Petrobras, adotada em 2016, precisa passar por mudanças e ressalta que o cenário nacional é de incertezas. “A gente não sabe se essa política de paridade será praticada pelo governo federal, se, por ventura, o governo vier a se manter ou se vier a mudar. É necessário que essa política seja modificada sim porque ela não é boa de precificação, não é justa, ela é de uma rotatividade muito expressiva, que traz uma instabilidade financeira econômica muito grande”, explica Souza.
Paralisação
Sobre uma paralisação em protesto aos preços do diesel, a categoria diz que “há conversas” em favor de uma mobilização nacional. Valdir Ferreira, presidente da cooperativa dos caminhoneiros, diz que uma nova greve dos caminhoneiros – como ocorreu em 2018 – depende de uma coordenação nacional. “Isso tem que ser uma coisa que seja em todo Brasil, entende? O Rio Grande do Norte só toma uma medida dessa depois que outros estados maiores se manifestarem”, diz.
A última greve dos caminhoneiros vai completar quatro anos nos próximos dias. Na época, rodovias de 24 estados, incluindo o RN, e do Distrito Federal, ficaram paralisadas, o que interrompeu o abastecimento de produtos e serviços. A manifestação foi motivada por um aumento de 25% no diesel. Em maio de 2018, o combustível dos caminhoneiro estava custando R$ 3,71 no Rio Grande do Norte.
“Às vezes alguém se chateia pelo tamanho, pelo barulho, pelo incômodo, mas sem o caminhão, o Brasil para. Nós mostramos, nós provamos e esse povo não acredita que a gente pode mostrar de novo?”, ressalta o representante da categoria. Segundo ele, lideranças de estados como Espírito Santo, São Paulo e Bahia estão em articulação para discutir uma possível paralisação nacional das atividades.
TRIBUNA DO NORTE
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