Segundo o ONS, foi a primeira vez na história do sistema interligado que a carga superou a marca de 100 mil MW. O recorde anterior era de 97.659 MW, medido em 26 de setembro deste ano. “A principal razão para esse comportamento da carga é a significativa elevação de temperatura verificada em grande parte do Brasil (em São Paulo, alguns termômetros mostraram 40ºC no início da tarde)”, disse o operador, em nota.
Se considerada a demanda nos primeiros dias de novembro, houve um incremento de 16,8% na carga, passando de 86.800 MW para os atuais 101.475 MW. Segundo especialistas no setor de eletricidade, por ora os picos de demanda não representam risco de desabastecimento da população. Isso porque há sobra de energia no País.
A capacidade de geração elétrica é de cerca de 200 mil MW, e vem crescendo mês a mês, sobretudo com a contribuição de novas fontes de energia renovável, como eólicas e parques solares, afirma o coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro. “É claro que, eventualmente, poderia ocorrer o que vimos recentemente com Furnas (que provocou em agosto um apagão) ou um incêndio (provocado pelo excesso de calor) danificar fios e provocar a queda do sistema elétrico. Mas isso não é um problema estrutural”, afirma ele.
De acordo com o ONS, o sistema nacional é robusto e tem uma grande diversidade de fontes para atender à demanda de carga e potência do País.
Mudanças climáticas
Desde a semana passada, a carga de energia do Sistema Interligado Nacional saltou de 76.194 MW médios, no dia 6, para 89.021 MW médios ontem – aumento de 12 mil MW médios no período.
“Com o aumento das temperaturas, os aparelhos de refrigeração consomem mais energia para entregar a mesma eficiência, o que, por sua vez, se reflete na elevação do valor da conta de energia. No calor, geladeira, freezer e ar-condicionado, por exemplo, são aparelhos que exigem mais para rejeitar o calor do ambiente e atingir a temperatura interna programada”, explica o gestor da EDP, Adilson Herzog.
O presidente da PSR, Luiz Barroso, destaca que as mudanças climáticas estão aí para ficar e que suas adversidades preocupam. “Já estamos vivendo o ‘novo anormal’, cuja consequência prática é aportar mais variabilidade nos fenômenos climáticos com extremos mais acentuados. Exemplos são em chuvas, secas, ventos, ondas de calor, de frio, queimadas e até mesmo tempestades de areia como a que tivemos recentemente em Manaus.”
Hidrelétricas do Norte
Barroso explica que, em termos práticos, isso significa que é possível ou provável que as temperaturas dos próximos meses sejam extremas, o que resultaria em recordes de demandas de pico. A manutenção do El Niño nos próximos meses, diz o executivo, tende a reduzir as vazões nas regiões Norte e Nordeste.
Por serem a fio d’água, sem reservatório, as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, por exemplo, estão com produção reduzida. A perda de potência hidrelétrica resultante foi cerca de 12 GW, segundo relatório da PSR. Isso exige mais planejamento e backup para sustentar a demanda.
“Dado que a seca na região Norte já é dramática, se a chegada das chuvas atrasar, é possível que os valores da água (para gerar energia) do São Francisco, calculados pelos modelos computacionais para a operação do sistema, continuem altos. Isso restringe a operação dos recursos hídricos da região e demanda mais usinas térmicas.” Nesse cenário, existiria o risco de aumento das tarifas de energia para os consumidores.
Estadão Conteudo
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