
fonte: Novo Jornal
Natal está perdendo R$ 60 milhões por ano pela falta de estrutura para receber cruzeiros. A conclusão é de Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar). Segundo ele, em virtude das impossibilidades logísticas, a capital do Rio Grande do Norte atualmente não integra o roteiro de qualquer operadora filiada à entidade. O especialista afirmou que o potencial da cidade, contudo, poderia gerar entre 50 e 70 escalas de navio por temporada, trazendo 210 mil novos turistas todos os anos. O dirigente da Abremar, todavia, ressalta que a associação tem todo o interesse em adicionar a capital potiguar às rotas turísticas dos cruzeiros, dado o “enorme apelo comercial do Rio Grande do Norte frente ao mercado não apenas local, mas também internacional”. Para tanto, ele explica que é necessário rever a situação portuária de Natal, com vistas a propiciar o desenvolvimento das atividades náuticas de maneira economicamente segura e viável. Em recente entrevista à revista IstoÉ/Exame, de circulação nacional, Ferraz fez críticas à forma como foi construída a ponte Newton Navarro, que tem 55 metros de altura. “O projeto da ponte impossibilita a passagem de navios de grande porte, caso da grande maioria dos cruzeiros que são operados pelas associadas. Com isso, automaticamente Natal fica impossibilitada de ser a porta de entrada no Brasil das grandes embarcações vindas do Caribe ou da Europa, por exemplo”, comentou. Isso se dá pelo fato de que esses cruzeiros chegam ao País precisando abastecer os reservatórios de combustível e água, além de descartar o lixo produzido ao longo do translado. Para tanto, é imprescindível que os navios sejam ancorados no primeiro porto em que pararem – geralmente os operadores optam por Fortaleza-CE ou Recife-PE. Mesmo que a capital potiguar não possa oferecer a atracação aos navios, por causa da ponte, há alternativas que propiciam a inclusão da cidade nas rotas de trânsito. Uma delas é a ancoragem das embarcações a uma determinada distância da costa. Com o navio fundeado, a tripulação seria conduzida até o cais por meio de tenders –lanchas com capacidade para até 200 pessoas. Esse transporte do navio até a costa não leva mais que 20 minutos. Viabilizar essa modalidade, segundo o presidente da Abremar, depende da instauração de uma série de medidas por parte da administração do Porto de Natal – a cargo da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) – para que a Associação ofereça a cidade como um destino aos operadores dos cruzeiros. No pacote de ações proposto pela entidade nacional estão incluídos a aquisição de uma balsa para desembarque de passageiros no cais e a homologação de um ponto de fundeio apropriado por parte da Marinha do Brasil. A balsa se faz necessária pelo fato de o cais do porto potiguar ser muito alto, impossibilitando o desembarque dos passageiros direto das lanchas. A Codern, inclusive, sinalizou para a compra do equipamento ainda em meados do ano passado, mas as restrições orçamentárias vem prejudicando o andamento dos trâmites – a estrutura foi orçada em aproximadamente meio milhão de reais. Segundo o presidente da Codern, Emerson Fernandes, a intenção da companhia era adquirir o equipamento ainda em 2014, mas não houve verba suficiente para efetivar a empreitada. “Foi um período muito difícil, em termos de recursos financeiros, mas devemos regularizar o orçamento ainda no primeiro semestre desse ano. Com isso, os editais para aquisição da balsa, além de uma lancha de transporte para Areia Branca, que também está na fila, deverão ser lançados no segundo semestre. Até o fim do ano, isso deverá estar resolvido”, declarou. Já a questão do ponto de ancoragem depende da instalação de algum mecanismo de apoio para proteger as embarcações fundeadas, segundo a Abremar. “O navio não pode simplesmente ancorar em qualquer ponto da costa, é necessário estudar as condições para propiciar isso. Só quem faz a homologação é a Marinha. Em se resolvendo isso, estaremos prontos para oferecer a cidade ao mercado de cruzeiros”, pontuou Marco Ferraz, para em seguida arrematar: “Queremos Natal como destino, pois é um produto espetacular. O primeiro passo já foi dado, com a construção do Terminal de Passageiros, que é, de fato, belíssimo. Agora é esperar que a administração local se movimente para que levemos adiante os projetos de firmar a cidade como rota de escalas nos principais cruzeiros que navegam em águas brasileiras”. À questão da ancoragem, Emerson Fernandes respondeu que já existem pontos de fundeio homologados pela marinha na costa natalense. A Codern, inclusive, está conduzindo estudos para a instalação de boias náuticas com o intuito de oferecer mais anteparos aos eventuais navios que venham a ser fundeados no litoral. Tal medida foi recentemente adotada no porto de Cabo Frio-RJ, um terminal que possui similaridades com o da capital potiguar. No lugar das boias náuticas, todavia, lá a solução foi a construção de um píer, com o intuito de prover a proteção necessária aos navios fundeados. No município fluminense a iniciativa foi conduzida pela prefeitura. A medida triplicou o volume de escalas no porto. O perfil do Porto de Natal é favorável para operação de cruzeiros em trânsito, a exemplo do que ocorre nos terminais de Ilha Bela, Cabo Frio, Búzios e Porto Belo. A título de comparação, só o porto de Búzios, no Rio de Janeiro, tem mais de 100 escalas programadas para 2015. O porte da estrutura localizada em terras potiguares, ainda segundo Ferraz, é similar à do porto de Ilha Bela, com movimentação que chega a 70 escalas por temporada. Fazendo um cálculo simples com as estimativas da Abremar, é possível projetar o montante financeiro injetado na economia local pelo mercado de cruzeiros. Considerando a média de clientes por escala (cerca de 3000), o gasto médio de cada turista nos desembarques (U$ 100) e o número de escalas que o Porto de Natal poderia comportar em um ano (70), tem-se um resultado de 21 milhões de dólares por temporada, o equivalente a R$ 60 milhões. Modalidades alternativas são opção Outra situação que inibe a presença de navios de cruzeiro na costa natalense é o padrão adotado pelas operadoras nacionais e internacionais. Segundo comentou Marco Ferraz, como cada viagem tem duração média de sete noites e os cruzeiros têm como base os grandes portos brasileiros – a exemplo de Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ) – não há tempo hábil para que os roteiros passem peça capital potiguar e voltem ao porto de origem. Ainda assim, Natal pode garantir a movimentação no terminal de passageiros do porto, segundo o presidente da Abremar. Segundo ele, além da característica primordial de porto de trânsito – o que já propiciaria bom volume de escalas internacionais – há, também, duas possibilidades para exploração do destino. A primeira delas seria a prospecção de cruzeiros com rotas baseadas no litoral nordestino, de maneira a cumprir o padrão vigente na indústria de turismo marítimo. A outra alternativa, de acordo com Ferraz, é menos usual, mas absolutamente praticável. “Existe a possibilidade de fechar pacotes híbridos, unindo (transportes) marítimo e aéreo. O cliente faz o cruzeiro normal de setes noite, sendo que só de ida – de Santos a Fortaleza, por exemplo – e voltaria de avião ao ponto de partida. É um produto que já existe, embora não tenhamos operado com ele na última temporada”, esclareceu. Trabalho precisa ser imediato O turismo náutico é um setor que exige grande antecedência no planejamento de suas ações, devido à imensa logística envolvida nos processos. Por conta disso, Natal precisa correr contra o tempo para tentar garantir a presença no verão 2016/17, ou seja, daqui a dois anos. A próxima temporada (2015/16) já está fechada e a capital potiguar não faz parte dela. A Associação de Cruzeiros não descarta, no entanto, a possibilidade de realizar uma primeira escala teste já no verão vindouro, desde que a Codern ofereça condições e garantias para tal. Vale lembrar que a ausência do Rio Grande do Norte nos quadros da Abremar não implica dizer que não haverá cruzeiros passando por aqui. Nos últimos meses, por exemplo, quatro embarcações aportaram em Natal, todas utilizando a estrutura potiguar como porto de passagem. Esses cruzeiros independentes vêm do Caribe ou da Europa, mas com uma frequência muito menor que os associados. Emerson Fernandes, da Codern, afirmou ter ficado muito satisfeito com o interesse demonstrado pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, mas afirmou que a diretoria da entidade está supervalorizando os empecilhos para trazer os cruzeiros à capital potiguar. “Fico muito feliz em saber desse interesse, só acho que estão enxergando dificuldades demais onde não tem. De qualquer maneira, de posse dessa informação, quero marcar uma reunião com a Abremar para chegarmos a uma solução o quanto antes”, adiantou Fernandes

Nenhum comentário:
Postar um comentário