fonte: Tribuna do Norte
A crise entre o governo Dilma Rousseff e Congresso chegou ao auge na tarde de ontem e fez a primeira vítima no primeiro escalão. Minutos depois de o PMDB ameaçar deixar a coalizão governista, o ministro da Educação, Cid Gomes, foi demitido do cargo pela presidente Dilma. Tensa, a relação entre Executivo e Legislativo registrou o nível máximo de desgaste depois que Cid, dedo em riste em direção à Mesa Diretora da Câmara, afirmou preferir “ser acusado por ele de mal educado”, o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), “do que ser como ele, acusado de achaque”.Em tom de enfrentamento, Cid disse não concordar com a postura de quem “mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm uma postura de oportunismo”. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”, afirmou.
A sessão transformou-se em um intenso bate-boca que culminou com o abandono da sessão pelo então ministro. O PMDB ameaçou retaliar o governo retirando seu apoio no Congresso e Cid seguiu ao Palácio do Planalto, de onde saiu demitido pela presidente. Sua demissão foi anunciada por Eduardo Cunha a partir de informação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
A claque de Cid, arregimentada pelo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e pelos prefeitos de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e de Sobral, Veveu Arruda (PT), foi retirada das galerias por ordem de Cunha. Eles se aglomeraram em um telão instalado no Salão Verde para acompanhar os discursos de deputados e do ministro.
Ainda ministro, Cid Gomes foi convocado ao plenário da Câmara para explicar declaração, feita há três semanas, em Belém, de que haveria na Casa “de 300 a 400 achacadores” que se aproveitam da fragilidade do governo para obter vantagens. Cunha chamou o ministro de “mal-educado” e garantiu a convocação, proposta por Mendonça Filho (DEM-PE), para que Cid esclarecesse suas afirmações. Sob alegação de estar doente, Cid internou-se em um hospital de São Paulo e não compareceu à Câmara na semana passada. Ontem, insistiu nas críticas e escolheu Cunha, desafeto do Planalto, como principal alvo.
Isolamento
Sem nenhum gesto de apoio nem intervenções de lideranças do governo ou do PT, deputados de partidos de oposição e independentes se revezaram ao microfone pedindo a demissão de Cid. Deputados lembraram escândalos da vida pública do ministro, como a contratação de um show de Ivete Sangalo para a inauguração de um hospital em Sobral, sua cidade natal, por R$ 650 mil, a viagem para a Europa em que levou a sogra em jatinho pago pelo governo do Ceará e a tentativa de vetar a circulação de uma revista que o apontava como suposto envolvido no esquema de corrupção da Petrobras.
“Vossa excelência apontou o dedo para o presidente Eduardo Cunha e o ofendeu. Nós não aceitamos a opinião de Vossa Excelência. (. .) Este é o momento mais constrangedor que já passei ao longo de toda minha história”, afirmou o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA). O líder do PSC, André Moura (SE), disse que Cid “é mal educado, não tem moral, não tem decência e é um achacador do Estado do Ceará e de sua gente”.
Votação do projeto de lei é adiada
Nos momentos mais acirrados do bate-boca ontem em plenário, deputados defendiam que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desse voz de prisão ao ministro. “Se fosse presidente, faria isso por ele ter desrespeitado a Casa”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Apenas o líder do Pros, Domingos Neto (CE), saiu em defesa de Cid na tribuna.
Cid Gomes ouviu boa parte das críticas de pé, na tribuna à esquerda do plenário. Em vários momentos, sorria com ar de ironia. Após apelo do líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), sentou-se de frente para Cunha. Recebeu cumprimentos de alguns parlamentares, entre eles, o de putado Jean Wyllys (RJ). Ao retornar à tribuna, foi duramente criticado por Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que o acusou de “estar fazendo papel de palhaço”. “O senhor me respeite”, reagiu Cid. “O senhor nem parlamentar”, disse Cunha, cortando o microfone do ministro.
Cid Gomes deixou o plenário. “Infelizmente fui convidado e agredido”, afirmou. Logo que Cid saiu da Câmara, o PMDB ameaçou deixar a base e Cunha anunciou que votaria o projeto que estende às aposentadorias o critério de reajuste do salário mínimo. Com a notícia da demissão de Cid Gomes, o partido aceitou o apelo do governo e liderou um acordo para adiar a votação.
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