Fonte: O Globo
SÃO PAULO - Ex-chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho é apontado pela Polícia Federal como o principal interlocutor de lobistas que atuaram no governo Lula para aprovar uma medida provisória que concedeu benefícios fiscais a empresas automotivas. Gilberto Carvalho prestou depoimento nesta segunda-feira à Polícia Federal, que deflagrou hoje a terceira fase da Operação Zelotes. Na ação, foram presos seis suspeitos de envolvimento com fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Também foi cumprido mandado de busca e apreensão no escritório da LFT Marketing Esportivo, de Luís Claudio Lula da Silva, filho de Lula.
Em relatório da operação, a Polícia Federal aponta suposto conluio entre Gilberto Carvalho e lobistas suspeitos de comprar trechos de medidas provisórias favoráveis a montadoras de carros.
"Ademais constatamos que as relações mantidas entre a empresa do lobista Mauro Marcondes e o Gilberto Carvalho são deveras estreitas. Os documentos que seguem abaixo fortalecem a hipótese da 'compra' da medida provisória para beneficiamento do setor automotivo utilizando-se do ministro que ocupava a 'antessala' do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, responsável direto pela edição de medidas provisórias", diz relatório da PF divulgado no site da revista Época.
Segundo o documento, num e-mail enviado a Carvalho quatro dias antes da edição da medida provisória de ampliação de benefícios fiscais para montadoras, Marcondes pede que o então secretário-geral apresente o pedido dele ao presidente Lula "daquela forma informal" e "low profile" que "só Gilberto Carvalho consegue fazer, sem formalidades, no momento oportuno".
Gilberto Carvalho classificou de “absurdo” o relatório da Polícia Federal.
— É um absurdo. Espero que a PF mude (o relatório) a partir do meu depoimento de hoje — afirmou Carvalho.
A Polícia Federal cita ainda que a edição da MP de interesse das montadoras ocorreu quatro dias depois de um café de Carvalho com um dos lobistas. Papel apreendido na casa do lobista Alexandre Paes dos Santos, preso nesta segunda-feira, traz a inscrição: “Café: Gilberto Carvalho”, no dia 16 de novembro de 2009. Para a PF, a expressão “café” pode ser interpretada como um eufemismo para o pagamento de propina a servidores, o chamado ‘cafezinho’, e os valores citados poderiam fazer parte do acordo entre os lobistas e agentes do governo com vistas à edição da MP 471/2009, de acordo com a reportagem da revista Época. Os documentos também demonstram a estreita relação de Carvalho com o lobista Mauro Marcondes Machado, da consultoria Marcondes e Mautoni.
— Expliquei para a delegada que, na data em que está anotado lá que eu tive um café com o cara, eu estava em Roma com o presidente Lula.
O ex-ministro disse ainda que foi questionado pela delegada se ele ou alguém de sua família tinha recebido algum presente de Marcondes.
- Em 2009, havia adotado duas meninas, e como ficou público, várias pessoas que frequentavam o Planalto, mandaram presentes. O Mauro mandou duas bonequinhas para elas. Por sorte, eu lembrei e falei isso, porque a delegada tinha uma anotação dele apreendida em que estava escrito: não esquecer de mandar duas bonecas para Gilberto Carvalho.
O ex-chefe de gabinete destacou ainda que não participava da discussão de mérito das medidas provisórias.
— Nunca participei de confecção de MP. Quem fazia isso era o Ministério da Fazenda e depois mandavam para Casa Civil, que via a conformidade e entregava ao presidente.
Carvalho, que foi chefe de gabinete durante os oito anos do governo Lula e ministro da Secretaria Geral da Presidência no primeiro mandato de Dilma Rousseff, acrescentou que era procurado por interessados em marcar audiências com o presidente.
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