Desde o início da guerra da Ucrânia, a Rússia importou cerca de 16 bilhões de rublos (R$ 842 milhões) em miras telescópicas para rifles. Os fornecedores são empresas de países ocidentais que apoiam Kiev, como EUA, Japão e Áustria, e os itens têm sido identificados em armas usadas por soldados russos no conflito. A informação é parte de uma série de reportagens do site investigativo russo Important Stories, segundo o qual até companhias ucranianas continuam abastecendo Moscou com itens que podem ter emprego militar.
Dados alfandegários mostram que a Rússia consegue importar as miras telescópicas graças a um subterfúgio nada brilhante, porém eficiente: classifica tais itens como equipamentos para “armas de caça” em vez de “para uso militar.”
Os fornecedores identificados são a norte-americana Leupold, a nipo-americana Nightforce, a sino-americana Holosun e a austríaca Swarovski Optik, que já com a guerra em andamento fecharam negócios com ao menos duas companhias russas que realizam vendas online, a Pointer e a Navigator.
Entretanto, a reportagem sugere que os vendedores não têm necessariamente consciência do destino final. As empresas russas usam um esquema de importação paralela para driblar as sanções ocidentais que impedem o país de adquirir inclusive itens de dupla função, aqueles com emprego tanto civil quanto militar.
A fim de viabilizar esse sistema, o Kremlin fez uma lista de bens que podem ser importados mesmo sem a aprovação da empresa que os produz. Assim, é possível comprá-los de terceiros e então revendê-los no mercado russo. No caso das miras telescópicas, os intermediários são sediados na China, na Turquia e no Cazaquistão.
Após constatar que as miras foram entregues e estavam sendo vendidas na internet para consumidores russos, o Important Stories analisou diversos vídeos publicados na internet por soldados russos em ação na guerra e conseguiu identificar as miras instaladas nas armas das Forças Armadas.
Itens com dupla função produzidos nos EUA também permitem a Moscou manter seu estoque de mísseis Kalibr, uma das mais mortíferas armas do arsenal russo na guerra. Nesse caso, a empresa Radar mms, que inclusive está sob sanção, “ainda tem acesso ao mercado de microeletrônica norte-americano” e assim compra equipamentos tecnológicos de uso civil, mas cujo emprego pode ser também militar.
Da mesma forma, a indústria de aviação russa segue com acesso ao mercado ucraniano, onde obtém peças de reposição usadas para reparar aviões. Desde o início da guerra até julho de 2023, ao menos 370 milhões de rublos (R$ 19,4 milhões) em itens do gênero chegaram ao território russo provenientes da Ucrânia.
Mais uma vez, é possível pressupor que ao menos parte dessas peças serve às Forças Armadas. Uma das empresas listadas como compradoras, a Avia FED Service, tem entre seus principais clientes o Ministério da Defesa da Rússia.
Alexander Reshetnik, diretor da Avia FED Service, confirmou as compras, mas disse que os produtos que chegaram de fábricas ucranianas foram adquiridos antes da guerra, entre 2020 e 2021. Eles só “estavam no exterior” até finalmente serem entregues já com o conflito em andamento.
A REFERÊNCIA
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