A produção de gás natural no Rio Grande do Norte cresceu 22,5% de janeiro a outubro deste ano, atingindo 1.170 metros cúbicos por dia (Mm³/d), de acordo com o último boletim mensal da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ainda assim, a partir de janeiro de 2024, o produto ficará, em média, 34% mais caro para a Potigás, única empresa de distribuição do produto no Estado. Isso deve-se, conforme explicou a empresa, ao fato de a PetroReconcavo, uma das principais supridoras no Estado, ter dobrado o valor da molécula para a distribuidora. Além disso, a produtora reduziu a oferta de volume fornecido, de 236 mil m³/dia para 80 mil m³/dia.
A PetroReconcavo foi uma das vencedoras, junto com a Petrobras, de uma chamada pública realizada pela Potigás para o fornecimento de gás natural em 2024. Além disso, a 3R Petroleum também fornece o produto à distribuidora. A questão, de acordo com a companhia de distribuição, é que era da PetroReconcavo o maior volume adquirido em contrato anterior. No entanto, de acordo com Marina Melo, presidente da Potigás, a empresa ofereceu uma quantidade menor de gás a um preço mais elevado.
“Acabamos de fechar a chamada para aquisição. A PetroReconcavo participou do processo, só que com uma oferta de gás muito menor do que outrora. Nós comprávamos dela 236 mil m³/dia, mas, na última chamada, a oferta foi de apenas 80 mil m³/dia, um quantitativo bem aquém e, ainda, com um valor bem maior. A molécula, que nos era repassada a R$ 1,12, foi oferecida no último certame por R$ 2,20”, afirmou Marina Melo.
“Isso mostra que o aumento da produção não se refletiu no barateamento dos preços, tanto é que nós vamos ter um reajuste de aproximadamente 34%, uma vez que o preço da molécula [da PetroReconcavo] dobrou. E o valor da commodity é repassado integralmente para a tarifa, tanto quanto o preço abaixa, como quando aumenta”, afirma Marina Melo. Segundo a Potigás, com a mudança no valor da PetroReconcavo, o preço de aquisição junto aos supridores ficou equiparado, o que resultou na elevação da compra pela distribuidora.
O impacto para o consumidor final dependerá de cada segmento (industrial, comercial, residencial e veicular) que utiliza o gás natural e não será linear. “Temos uma preocupação com o usuário de GNV, que é quem mais sente no bolso o aumento. Fazemos todas as gestões possíveis para que o valor da molécula não seja repassado, mas não temos controle disso”, pontuou Melo.
A PetroReconcavo afirmou em nota que “o aumento reflete as condições de mercado e, ainda assim, reforçamos a nossa relação de parceria com o Rio Grande do Norte buscando ser bastante competitivos em preço na renovação do contrato com a Potigás”. A empresa não respondeu aos questionamentos sobre as mudanças no volume ofertado.
Apesar da alta, Marina Melo diz que vê o crescimento da produção como fator extremamente positivo. “Era o que estava previsto quando os campos maduros foram adquiridos, porque as empresas têm mais expertise e vontade de aumentar a produção. Então, elas trabalham em recuperação desses campos e algumas têm explorado novas áreas. Isso é muito positivo no sentido da arrecadação e da movimentação da economia, principalmente na região de Mossoró”, aponta a presidente da Potigás.
Companhias buscam mercados fora do RN
A presidente da Potigás, Marina Melo, explica que há demanda suficiente no Rio Grande do Norte para que a oferta, por parte dos produtores, seja ampliada no Estado. Contudo, segundo ela, as empresa têm buscado expansão e optado por outros mercados. Ela reclama que não existe nenhum dispositivo para estimular uma maior oferta do produto direcionada ao consumo dos potiguares.
A 3R Petroleum, segundo Melo, sequer participou da última chamada. “O aumento dos valores do gás e a menor oferta no Rio Grande do Norte ocorrem porque as empresas produtoras têm expandido os próprios mercados e começaram a levar a produção para fora, oferecendo menos para a demanda interna. Nós temos feito as chamadas públicas e estamos tentando sensibilizar as empresas sobre esse aspecto”, frisa.
“Existe uma precificação agregada do gás em geral, que é uma commodity, assim como o petróleo. Mas, por outro lado, o produtor local tem um custo muito menor, principalmente nas produções onshore, caso tratado aqui. Esse custo menor não dá prejuízo aos produtores, tanto que eles venderam para nós há dois anos com um preço muito competitivo. Então, temos um trabalho de conscientização para que se entenda a necessidade de fortalecer a região onde se produz”, completa Marina Melo.
Conforme os dados da ANP, a produção de gás natural no Rio Grande do Norte, que era de 957 Mm³/d em janeiro deste ano, foi a 1.170 Mm³/d em outubro último. Em um ano, ou seja, em comparação com outubro de 2022 (cuja produção foi de 960 Mm³/d), o aumento foi de 21,8%. A alta, conforme explicou Marina Melo, da Potigás, está relacionada à aquisição de campos maduros da Petrobras. Com o aumento da produção pelas companhias privadas e a exploração de novos campos, surge outro fator importante a ser observado: o processamento do produto.
Conforme publicado pela agência EPBR, em novembro passado, a PetroReconcavo, que tem todo o gás natural processado em plantas da 3R Petroleum no RN, já começa a montar a própria infraestrutura para esse fim. Informações não oficiais dão conta de uma provável parceria entre as ambas as empresas para a manutenção de duas das três unidades de processamento da refinaria Clara Camarão (que pertence à 3R), em Guamaré (atualmente, apenas uma está em funcionamento). A reforma, segundo especulações, ajudaria a praticamente dobrar a produção de gás natural.
A TRIBUNA DO NORTE procurou as duas companhias, mas nenhuma delas comentou o assunto. A presidente da Potigás, Marina Melo, disse não dispor de informações sobre o tema, mas apontou que o processamento de gás hoje não chega a ser um problema, embora tenha reconhecido que, com a exploração pelas empresas privadas, o processo ficou mais burocrático. “Antes, tudo estava concentrado na Petrobras, que explorava os campos, dispunha da unidade de tratamento e de transportadora”, diz.
“Agora, é preciso ajustar contratos em relação à Unidade de Processamento de Gás Natural, que foi comprada pela 3R, mas quem mais produz gás para venda hoje é a Potiguar E&P (subsidiária da PetroReconcavo). Também é necessário organizar a cadeia antes de chegar à distribuição, para que a gente tenha segurança a partir disso. Não vejo esse ponto como um problema, mas é uma questão que ficou mais burocrática”, explica Marina Melo.
Investimentos devem superar os R$ 25 milhões
Frente às mudanças no mercado de gás do Rio Grande do Norte, a Potigás, distribuidora exclusiva do produto no Estado, tem preparado investimentos importantes para 2024. Somente para os projetos de saturação de gás em Natal e Mossoró, os investimentos devem ultrapassar os R$ 25 milhões no próximo ano. “Temos uma grande estratégia de saturação de rede, com a intenção de chegar em vários bairros, tanto na capital quanto no interior, em Mossoró”, detalha Marina Melo, presidente da companhia.
“Na região de Natal vamos focar no Planalto [bairro da zona Oeste], mas também em Parnamirim, nos locais que compreendem Nova Parnamirim, Cajupiranga e Japecanga. Vamos cortar a BR [101], ligando de um lado a outro. Toda aquela área vai ser abastecida com gás natural”, comenta. Além disso, segundo ela, a empresa tem planos importantes para Areia Branca, além de fortes investimentos em iniciativas estruturantes, como o projeto Gás Sal.
“Começamos a obra em 2024 e no final do ano já vamos captar nosso primeiro cliente na região”, comemora a presidente. O Gás Sal é um gasoduto que irá beneficiar a região salineira potiguar, com um investimento de R$ 26 milhões. O projeto foi lançado no último mês de setembro. O gasoduto irá partir de Mossoró e, ao longo da BR-110 chegará até Areia Branca, em um total de 46 quilômetros, beneficiando ainda comunidades localizadas nesse percurso. As obras serão realizadas em três fases. A rede atenderá indústrias, principalmente a salineira, postos de combustíveis, comércios e residências.
A empresa também avalia para Mossoró projetos de gás comprimido. “Estamos estudando alguns projetos para a região neste sentido também. A expectativa é de que tudo saia do papel no ano que vem, dentro do nosso plano de negócios”, prevê Marina Melo.
Fundada em 1993, a Potigás é responsável exclusiva pela distribuição de gás canalizado no Estado, atendendo os segmentos industrial, veicular, comercial e residencial. São mais de 520 mil metros de gasodutos na rede de distribuição de gás natural, presentes em Natal, Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Goianinha, levando gás natural canalizado para mais de 41 mil clientes.
TRIBUNA DO NORTE
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