Fonte: Novo Jornal
“O sertão vai virar mar”. A profecia atribuída a Antônio Conselheiro talvez nunca chegue a se cumprir, mas a água do litoral potiguar poderá, de fato, e em pouco tempo, invadir as torneiras do estado. O governo do Rio Grande do Norte discute internamente, entre secretarias, Companhia de Águas e Esgotos (Caern) e iniciativa privada, a instalação de usinas de dessalinização de água do mar. O projeto para permitir que isso seja feito foi encaminhado à Assembleia Legislativa semana passada e publicado no Boletim Oficial da Casa dia 4 recente. A ideia é que os primeiros equipamentos, que funcionarão como piloto de um projeto mais amplo, já entrem em funcionamento em 2016. Serão três usinas, estimadas em aproximadamente R$ 19 milhões, o que poderá representar um investimento de R$ 60 milhões (o número exato ainda não foi calculado). Os equipamentos serão instaladas próximas ao estuário do Rio Piranhas-açu, em Macau, região salineira do estado. A capacidade instalada será de 9 mil metros cúbicos de água potável por dia - o suficiente para abastecer quatro municípios daquela região. As informações foram reveladas pelo secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Mairton França. “Essa água vai abastecer Macau, Carnaubais, Pendências e Alto do Rodrigues. A Caern e os técnicos da secretaria estão analisando cada ponto, como, por exemplo, como essa água vai chegar até os municípios”, afirmou. Juntas, a população das quatro cidades ultrapassa os 64 mil habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma empresa, cujo nome ainda não foi revelado, apresentou a proposta ao governo e deve executá-la por meio de uma PPP – parceria público-privada. Ela vai assumir os custos da operação com a garantia da compra da água pela Caern. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da companhia, que é vinculada ao estado, não se pronunciou sobre o assunto, afirmando apenas que o projeto é de responsabilidade da Semarh. Mairton França afirma que a empresa usará a mesma tecnologia utilizada na Espanha, cuja costa é totalmente abastecida por água do mar dessalinizada. A proposta é que outra usina, no futuro, seja instalada em Areia Branca, com objetivo de abastecer até Mossoró. A mesma empresa seria responsável por essa estrutura. Apesar de existirem quatro técnicas conhecidas mundialmente aceitas para dessalinização, o governo ainda não sabe qual delas será utilizada. “Uma das mais usadas no mundo é a osmose inversa ou reversa, um sistema que utiliza membranas, em que a água e submetida a uma pressão muito forte e atravessa essas membranas, que têm porosidade muito pequena e ai acontece a osmose. De um lado fica a água com muita concentração de sal e, na outra, a sem sais”, explicou o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, João Abner, doutor na área de Recursos Hídricos. De acordo com ele, findo o processo a água está livre inclusive de bactérias. Todo esse sistema esbarra, entretanto, em um detalhe: o preço para fazer dessalinizar é muito caro. E é por isso que o estado avalia formas de baratear os custos, com, por exemplo, utilização de energias renováveis. “O custo da dessalinização é cinco a seis vezes maior que o normal”, detalha o professor. A explicação é a necessidade do consumo de mais energia. A ideia da construção das usinas já vinha sendo discutida desde o início do ano. No dia 3 de maio, o NOVO Jornal publicou reportagem com o então secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Paulo Roberto Cordeiro, citou o projeto, sem dar muitos esclarecimentos. Projeto de lei prevê uso de energias alternativas O governador Robinson Faria enviou à Assembleia Legislativa do RN, um projeto de lei que dispõe sobre a dessalinização de água salobra localizada no subsolo potiguar, além da água do mar. O projeto foi publicado no Boletim da casa na última terça-feira (4), primeiro dia de atividades parlamentares no segundo semestre de 2015. A mensagem que acompanha o projeto, endereçada ao presidente da AL, deputado Ezequiel Ferreira de Souza, é do dia 28 de julho. Conforme o projeto, o estado “utilizará, preferencialmente, as fontes alternativas de energia eólica e solar, podendo reservar, para o desenvolvimento dessa atividade, até 3% da energia bruta produzida por esses meios no seu território”. Esse é apenas uma das formas que o estado encontrou para reduzir os custos da produção, segundo o secretário de Meio Ambiente. “A energia representa 70% do custo de produção, se a gente não contar com a aquisição dos equipamentos”, explica Mairton França. Ele afirma que o estado teria direito a 3% da energia produzida aqui, apesar de ela ser integrada ao sistema nacional. A questão ainda não está bem definida e a secretaria estuda como isso vai funcionar precisamente. Outra forma de reduzir os custos, de acordo com França o aproveitamento do material que vai sobrar no processo – como a água com concentração de sais, para vendas a outras indústrias. É o caso da indústria cloroquímica ou as próprias salinas.
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