fonte:carta capital
Durante a campanha eleitoral brasileira, o candidato opositor Aécio Neves citou mais de uma vez o México como o exemplo do que ele queria para o Brasil em termos de gestão econômica. Tinha motivos, já que algumas das manchetes do noticiário econômico diziam que o México superou o Brasil como maior exportador de carros da América Latina, ou que mostra melhores índices de retomada do crescimento em 2014, entre outros dados que faziam sentido para o discurso econômico da direita.A bem da verdade, as citações nem foram tantas, já que apesar de ser outro país nas páginas de economia, o México tampouco tem números impressionantes. Melhor dizendo, tem números que podem entusiasmar os grandes especuladores, mas não o eleitor comum – esse que tampouco sabe que a economia real mexicana é a do salário mínimo com menor poder de compra da região, ou que o nível de crescente informalidade no trabalho piora o já gravíssimo quadro de desigualdade social no país, mas que sabe o que é o México pelo que tem visto, já há alguns anos, na seção de carnificina do noticiário internacional.
Os relatos sobre o assassinato dos 43 estudantes assustam. Alguns teriam sido queimados depois de mortos, mas outros estavam vivos e tentaram escapar da vala comum onde foram atirados e banhados em querosene, resvalando entre os corpos dos colegas, esquivando as balas dos narcotraficantes que gargalhavam por sua própria crueldade. No México, situações como essa se tornaram tristemente comuns: lembremos da onda de jornalistas decapitados por investigar casos ligados ao tráfico, dos outros mais de 70 mil mortos no país pela guerra contra o narcos nos últimos sete anos, e por que não, das 49 crianças queimadas vivas numa creche, um caso que não teve ligação com o crime organizado, mas que demonstra como a Justiça faz parte do circo da impunidade no país, já que nenhuma pessoa foi sequer precessada ou minimamente responsabilizada pelo sucedido.
Em meados da década passada, saiu da boca do então presidente Felipe Calderón o discurso de segurança nacional, que se impôs para esconder os desatinos de uma economia que vai muito bem na produção de riqueza mas péssima na distribuição da mesma.
E quando falamos em política de segurança para Calderón, um dos presidentes mais alinhados a George W. Bush naquele então, nos referimos à doutrina de aumentar da violência para combater a violência do narcotráfico, exército nas ruas e nas comunidades rurais, e não em cortar pela raiz alguns males como a corrupção interna das polícias e a ligação de policiais e líderes políticos empresariais regionais com os grandes cartéis. O caso dos 43 estudantes mostra isso: detidos pela polícia, que os entregou ao grupo narcotraficante, que assassinou os rapazes por ordem do prefeito da cidade.
O prefeito e sua mulher estão presos, são peões desse complexo jogo. Mesmo o presidente atual, Enrique Peña Nieto, que chegou ao poder tentando retomar a ênfase na modernização da economia, tirando um pouco o foco do faroeste vivido no interior do país, não é capaz de oferecer nada além de pêsames oficiais. Ajudar as frágeis comunidades rurais do interior do país contra os poderosos grupos narcotraficantes e seus vínculos com os poderes políticos e econômicos locais requer um Estado forte e atuante, e para esse fortalecimento é preciso uma série de reformas, e um novo pacto entre o poder público e a sociedade civil organizada, princípios que contrariam as convicções neoliberais norteiam a cabeça de quem governa o México hoje.
As próximas ações institucionais serão os previsíveis paliativos: castigar alguns bodes expiatórios, entregar algum tipo de reparação às famílias das vítimas, impulsar novas medidas de segurança que serão a mera reformulação das antigas. Tudo visando, principalmente, melhorar a imagem do país diante dos investidores estrangeiros, para que continuem injetando dinheiro em sua economia. Recursos que não necessariamente se transformarão em soluções para enfrentar os problemas da população, o que tampouco está contemplado nas atuais medidas.
Saberemos, nos próximos dias, se isso será capaz de controlar a ira dos manifestantes que foram às ruas, como os centenas de milhares vistos nesta terça-feira (11/11), na Cidade do México. No domingo (09/11), alguns chegaram a pichar e atear fogo nos portões do Palácio Nacional, sede do governo mexicano, tamanha a indignação, não só pelo assassinato dos estudantes, mas também pelo recentemente descoberto caso de corrupção envolvendo o próprio Peña Nieto – o presidente teria ganhado de presente uma casa de US$ 7 milhões, construída num bairro exclusivo da capital do país, de uma empresa envolvida em licitação fraudulenta para a construção de uma linha ferroviária interestadual, um escândalo que lembra muito o do trensalão, envolvendo o PSDB de São Paulo.
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