fonte:Rio (AE)
A Petrobras anunciou ontem reajuste de preços dos combustíveis, com aumento de 3% para a gasolina e de 5% para o óleo diesel nas refinarias a partir desta sexta-feira. A expectativa é que o impacto para o consumidor seja entre 2%e 4% nos preços praticados pelos postos de gasolina de todo o País No mercado financeiro, o aumento foi visto como um novo gesto político, calculado sob medida para evitar um impacto maior na inflação ao mesmo tempo em que acena aos investidores para atitudes benéficas à saúde financeira da estatal, que deve encerrar o ano com forte constrangimento financeiro.As projeções de economistas indicam um impacto entre 0,11 e 0,17 ponto porcentual sobre a inflação, descartando as expectativas de manter a taxa dentro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 6,5%. A expectativa é que a taxa termine o ano em 6,6%, segundo a média das projeções feitas pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. No acumulado em 12 meses, até setembro, a inflação medida pelo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já está em 6,75%. O resultado de outubro será divulgado hoje.
Nas bombas, o presidente do Sincopetro do Estado de São Paulo (sindicato dos postos), José Alberto Gouveia, afirma que o reajuste deve ficar um pouco abaixo dos 3% aplicado nas refinarias.O reajuste foi anunciado após uma semana de pressão sobre a Petrobras, acuada entre denúncias de corrupção, divergências internas em seu Conselho de Administração e atrasos na apresentação de resultados trimestrais. Tudo isso em um cenário de queda livre no preço do petróleo no mercado internacional, movimento que influencia as margens de lucro e os planos de investimento da companhia.
As turbulências foram determinantes para a definição do reajuste dos combustíveis. Ao longo de 2014, o caixa da Petrobras esteve pressionado por uma defasagem de cerca de 20% entre os preços de importação dos mercados internacionais e a revenda no mercado interno, com preços represados para conter a alta da inflação.
Nos últimos três anos, as perdas de receita por conta da defasagem já chegam a R$ 80 bilhões, segundo o analista de petróleo, Auro Rosembaun, do Bradesco.
Em reunião extraordinária do Conselho de Administração, na última terça-feira, a presidente da estatal, Graça Foster, preparou uma extensa apresentação sobre a necessidade de reajuste para recompor as margens de lucro. Naquele dia a companhia recebeu aval do governo para o reajuste, mas a data ou o porcentual não foram anunciados. Após nove horas de debates, na saída da reunião Graça se limitou a afirmar que “reajuste não se anuncia, pratica-se”.
Na véspera do anúncio, a estatal encaminhou comunicado ao mercado em que informava a orientação do Conselho, presidido pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, “pela manutenção dos níveis de preços”. Por outro lado, o documento destacava que a decisão final seria da diretoria executiva - uma tentativa de demonstrar independência na condução da estatal.
Bate papo - Edmar Almeida
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
‘A incerteza é um grande empecilho’
Rio (AE) - Mais do que reforçar o caixa da Petrobras, o reajuste dos preços dos combustíveis é positivo porque transmite ao mercado a mensagem de segurança de que ao menos um aumento de preço ocorrerá a cada ano, em linha com a promessa do governo, afirma o professor do Instituto de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Edmar Almeida. Ainda assim, ele defende a adoção pelo governo de uma política de reajuste mais previsível para reduzir as incertezas dos investidores. “A incerteza é um grande empecilho a investimento privado no segmento de combustíveis no Brasil. Não é apenas um reajuste que vai resolver esse problema estrutural”, afirma.
Reajustes na proporções de 3% e 5% para a gasolina e o diesel, respectivamente, resolvem o problema de caixa da Petrobras?
É importante ter o reajuste, porque mostra que a regra de ter ao menos um aumento por ano, como prometeu o governo, continua valendo. Havia muita preocupação em função da inflação. Os percentuais são pequenos, porque a defasagem entre os preços internos e externos foi reduzida. Mas afirmar que esses reajustes não contribuem em nada para a empresa não é certo. Gasolina e diesel são os seus principais produtos. Se os preços, daqui para frente, continuarão ou não alinhados com o mercado externo, vai depender do câmbio e do preço do petróleo nas próximas semanas, que estão mais voláteis.
Qual o impacto desses reajustes na capacidade de investimento da Petrobrás?
Qualquer aumento de preço é positivo. Além de gerar mais caixa com a venda de combustíveis, reduz as perdas com a importação de derivados de petróleo. É claro que o plano de investimento da Petrobras é muito grande. O seu financiamento não depende só de aumento de preços, mas de uma série de fatores, como de caixa livre.
Como o mercado deve perceber esses percentuais de reajuste?
O mercado já não aguardava um aumento muito grande, porque sabe que a defasagem diminuiu. O importante para o mercado é que houve reajuste. Isso dá uma esperança de que haverá outros daqui em diante. No longo prazo, é importante rediscutir a política de alinhamento dos preços que torne o processo mais previsível. Isso é mais importante do que reajustar preços em um curto período de tempo. A incerteza é um grande empecilho ao investimento privado no segmento de combustíveis no Brasil. Não é apenas um reajuste que vai resolver esse problema estrutural.
O anúncio de alta dos preços dos combustíveis será suficiente para melhorar o humor dos investidores com a estatal?
É um começo. A empresa ainda tem muitos problemas a enfrentar relacionados à governança corporativa. As atenções se voltam, neste momento de denúncias de corrupção, para a governança da companhia.
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