Fonte: IstoÉ
A economia brasileira parece ser movida por uma antiga máxima: tudo o que é ruim pode piorar. Como se não bastassem o desemprego em alta, a inflação sem controle e o PIB em queda livre, o governo Dilma Rousseff agora parece ter decidido usar a estratégia dos desesperados. Sem enxergar uma saída viável para os problemas financeiros do País, Dilma recorreu a artifícios adotados no passado. Com isso, repete os velhos erros que ajudaram a erigir a crise atual. Na semana passada, a presidente anunciou a concessão de empréstimos, a juros camaradas, ao setor automotivo, combalido pela queda brutal das vendas de automóveis em 2015 (juntas, Fiat, GM, Volks e Ford registraram, no ano, redução de quase 8% nos emplacamentos). O benefício deve chegar R$ 8,1 bilhões. Segundo a justificativa oficial, o objetivo é estimular o emprego. Dados do IBGE mostram que o setor foi o que mais demitiu entre janeiro e julho (9 mil vagas desapareceram) e o que mais pretende fechar vagas até o final do ano. O problema é que Dilma fez exatamente a mesma coisa no seu primeiro mandato – e sem nenhum efeito positivo.
EMPRÉSTIMO
Miriam Belchior, presiente da Caixa Econômica, anunciou
a liberação de R$ 5 bilhões para o setor automotivo
Na terça-feira 18, Miriam Belchior, presidente da Caixa Econômica Federal, assinou um convênio com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) que prevê a liberação de R$ 5 bilhões de crédito mais barato. “Com isso, vamos gerar possibilidades para que as empresas garantam suas atividades e equilibrem negócios, conforme a necessidade de cada uma”, disse Belchior. Um dia depois, Alexandre Abreu, presidente do Banco do Brasil, anunciou a concessão de R$ 3,1 bilhões ao setor. “Não é subsídio”, afirmou Abreu. “Conseguimos aprimorar nossa análise de crédito para as empresas que compõem a cadeia automotiva.” O setor automotivo é apenas o primeiro a receber o benefício. O governo pretende estender a política de redução de juros a outras atividades, como a construção civil, que também enfrenta forte turbulência.
CRISE
Funcionário em linha de montagem: política econômica compromete
a indústria e provoca demissões em massa
Ao oferecer crédito mais barato, os bancos públicos provocam um desequilíbrio de forças no mercado, prejudicando a concorrência e afetando os seus próprios resultados financeiros. Em 2012, no primeiro mandato de Dilma, a Caixa e o Banco do Brasil reduziram drasticamente os juros para a pessoa física como forma de estimular o consumo. O resultado prático da medida, porém, foi o aumento da inflação. Para aproveitar os juros menores, muita gente começou a fazer empréstimos e a comprar indiscriminadamente, sem se preocupar com o controle de suas finanças. Além de alimentar a inflação, a estratégia culminou no aumento da inadimplência. Ou seja, no final os próprios bancos foram prejudicados. “Com medidas como essa, o governo distorce os preços de um determinado segmento e afeta todo o conjunto da economia”, afirma Eduardo Coutinho, coordenador do curso de administração do Ibmec de Minas Gerais. “Isso resolve momentaneamente um problema setorial, mas em algum momento a conta vai chegar.”
"Conseguimos aprimorar nossa análise de crédito para as
empresas que compõem a cadeia automotiva"
Alexandre Abreu, presidente do Banco do Brasil
A “generosidade” do governo também coloca em xeque o ajuste fiscal defendido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que estabelece um forte controle de gastos do governo e de todos os entes públicos. “Na verdade, a medida vai na contramão do ajuste fiscal”, afirma Otto Nogami, professor de MBA do Insper. Por ora, o ministro Levy não parece incomodado com as idas e vindas da economia no governo Dilma. “O arranjo não tem maiores riscos e é absolutamente normal”, disse Levy. “Ele não compromete o ajuste. Trata-se de uma operação de mercado, um arranjo perfeitamente comercial.”
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