Foto: Julio Lacerda
Um fóssil guardado no Museu Câmara Cascudo, em Natal, revelou uma descoberta inédita: uma nova espécie de pterossauro, batizada de Bakiribu waridza. O achado foi identificado pela paleontóloga Aline Ghilardi e outros especialistas durante a análise de materiais da Bacia do Araripe, e só se tornou possível graças à observação de um estudante que percebeu, entre restos de peixes fossilizados, vestígios de dentes que indicavam ser de um pterossauro filtrador.
O material foi identificado dentro de um regurgito fossilizado, uma massa de ossos e restos alimentares expelida pela boca de um predador há cerca de 110 milhões de anos. O fóssil reúne dois indivíduos de Bakiribu e quatro peixes fossilizados. Segundo os pesquisadores, essa rara preservação evidência uma interação direta entre predador e presa, possivelmente resultante do processo de alimentação de um dinossauro.
De acordo com Aline Ghilardi, paleontóloga e professora da UFRN, a descoberta da nova espécie ocorreu graças ao estudante William Bruno, coautor do estudo, que durante o processo de triagem e identificação de fósseis de peixes da região do Araripe, pertencentes à coleção do Museu Câmara Cascudo, encontrou um material diferente. Ao ser chamada para auxiliar na análise, a professora percebeu que, embora o fóssil parecesse inicialmente apenas uma concreção com restos de peixes, havia entre eles uma massa de material indeterminado com ossos e características que indicavam algo muito mais raro: “dentes de pterossauros filtradores”.


Sobre o momento da confirmação, a paleontóloga relembra a emoção vivida pela equipe: “Ao inspecionar mais detalhadamente, a identificação se confirmou, o que gerou uma grande surpresa e emoção para todos que estavam presentes ali naquele momento da descoberta.”
Após as análises detalhadas, Aline Ghilardi explicou que o material realmente correspondia a um grupo inédito e destacou sua importância científica:
“A nova espécie recebeu o nome Bakiribu waridza. Ela pertence a um grupo de pterossauros até então inédito no Brasil, os Ctenochasmatidae. Esse grupo de répteis voadores só havia sido encontrado anteriormente no Chile, na Argentina, na Europa e no leste da Ásia. Ele é representado por formas de tamanhos relativamente pequenos, com cerca de 1 m de envergadura e mandíbulas com muitos dentes finos e longos, especializados para o hábito filtrador. Mesmo preservado em fragmentos, o espécime apresentou proporções cranianas, características mandibulares, o formato e a distribuição dos dentes distintos de outras espécies previamente descritas. Essa combinação morfológica única sustentou a designação do novo gênero e espécie.”
A descoberta da nova espécie de pterossauro foi resultado de um trabalho colaborativo que reuniu pesquisadores de diferentes instituições. Além de Aline Ghilardi e do estudante William Bruno, participaram do estudo o paleontólogo Tito Aureliano e Claude Aguilar, paleontólogo e curador da coleção do setor de paleontologia do museu Câmara Cascudo (UFRN), além de dois especialistas em pterossauros vinculados à Universidade Regional do Cariri (URCA) e ao Museu de Zoologia da USP.
Tribuna do Norte
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