Fonte: Tribuna do Norte
São Paulo (AE) - A Petrobras reconheceu em seu balanço financeiro de 2014, divulgado ontem, após meses de atraso, a perda de R$ 6,194 bilhões por causa de gastos relacionados à corrupção, feitos de 2004 a 2012, e identificados nas investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal. Outros R$ 44,636 bilhões foram registrados como perdas após revisão no valor de ativos. Com isso, registrou prejuízo de R$ 21,587 bilhões em 2014, o primeiro resultado negativo anual desde 1991.O presidente da empresa, Aldemir Bendine, confirmou que os acionistas da companhia não receberão dividendos relativos ao exercício do ano passado. O desconto no balanço, chamado de “baixa contábil”, tem impacto no lucro e também no patrimônio da empresa.
Baixas são necessárias tanto por causa de custos indevidos relacionados à corrupção quanto pelo reconhecimento, por parte da empresa, de que não terá como recuperar o valor de um investimento já em curso - por causa de mudanças no ambiente de mercado, como cotações de matérias-primas, câmbio, custos de construção e mão de obra locais, entre outros.
Em 2014, a produção de petróleo e gás natural da Petrobras cresceu 6% em relação ao ano anterior e os reajustes nos preços da gasolina e do diesel aumentaram as receitas (R$ 337,260 bilhões), mas as perdas contábeis falaram mais alto.
O último prejuízo anual da estatal, em 1991, foi de R$ 91 mil, em valores da época, ou R$ 1,2 bilhão, em valores de hoje atualizados pelo IPCA. O valor total das baixas era o dado mais aguardado pelo mercado. Por causa de controvérsias sobre como contabilizar as perdas, sobretudo as com corrupção, a PricewaterhouseCoopers (PwC) recusou-se a auditar o balanço do terceiro trimestre de 2014, ampliando as dificuldades da Petrobras.
“O pior já passou, isso já está claro”, disse o analista independente Pedro Galdi. Segundo ele, apesar dos números “feios”, a mensagem de que a empresa tenta arrumar a casa é importante não só para investidores, mas também para a cadeira de fornecedores e a economia como um todo.
Dinheiro
Aldemir Bendine procurou passar essa mensagem em entrevista coletiva na noite de ontem. “A Petrobras não vai parar. Não vai entrar em marcha à ré”.
De acordo com o executivo, espera-se que, em maio, a empresa comece a receber o dinheiro desviado com corrupção. O dinheiro será o que foi resgatado em contas no exterior. Bendine disse ter entrado em acordo com a Justiça para que o dinheiro resgatado retorne ao caixa da empresa.
O custo da corrupção foi definido em R$ 6,194 bilhões, mas os efeitos da Lava Jato batem também na baixa de R$ 44,636 bilhões, relacionados com a reavaliação de ativos.
Desse total de recursos, R$ 30,976 bilhões são devidos à revisão do valor dos investimentos em refinarias, com destaque para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e Rnest (Abreu e Lima, em Pernambuco), envolvidas no esquema operado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Após desgaste, confiança
A Petrobras está no centro da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na companhia envolvendo empreiteiras e políticos. Várias prisões já foram realizadas na esteira da operação. Agora, há a expectativa de que uma nova fase comece para a estatal, embora haja quem analise que a recuperação dos danos que sofreu vai demorar.
A seguir declações divulgadas após apresentação dos resultados da empresa, ontem:
“Temos confiança de que vamos conduzir a empresa para uma nova fase. A companhia não vai entrar num sistema de paralisia. Tem capacidade de investimento muito alto e a gente sabe da importância disso para a economia brasileira”.
Aldemir Bendine - Presidente da Petrobras
“O balanço (divulgado ontem) é a superação de uma fase. Agora, a Petrobras têm todas as condições de retomar seus projetos e investimentos”.
Do Palácio do Planalto
“A publicação desse balanço (da Petrobras) é importante porque dissipa o risco de os credores pedirem antecipação para o pagamento das dívidas, evita o risco de um novo rebaixamento imediato do rating e pode reabrir o mercado para captação de bônus no exterior para empresas brasileiras”.
Jose Bernal - Analista do BBVA em Nova York
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