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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Mundo: Bombardeios russos na Síria desafiam influência dos EUA na região



Fonte: DW 

Foi um abalo sentido em todo o mundo. Pela primeira vez desde a invasão do Afeganistão em 1979, a Rússia realizou ataques aéreos de grande porte fora do território da antiga União Soviética.
Nesta quarta-feira (30/09), aeronaves russas bombardearam alvos na Síria, próximo à cidade de Homs. Nas últimas semanas, Moscou vem reforçando sua presença militar no país, estacionando aviões de combate, tanques e fuzileiros navais numa base aérea perto da cidade de Latakia.
Na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta segunda-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a formação de uma ampla coalizão internacional para apoiar o presidente Bashar al-Assad na luta contra o "Estado Islâmico" (EI).
"Pensamos que é um enorme erro se recusar a cooperar com o governo da Síria e suas Forças Armadas, que estão lutando bravamente, frente a frente, contra o terrorismo", disse Putin.
O Kremlin afirma que os ataques de quarta-feira tiveram como alvo o "Estado Islâmico". No entanto, de acordo com o secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, "provavelmente" não há combatentes do EI na região ao norte de Homs.
Em seguida, o grupo oposicionista Coalizão Nacional Síria, apoiado pelo Ocidente, afirmou que todas as 36 mortes foram de civis, cinco deles crianças.
"Isso não tem que ver com a luta contra o 'Estado Islâmico', mas se trata de ajudar a fortalecer as forças do governo sírio, tornando-o mais dependente dos russos para ser bem-sucedido", afirma Jeffrey Mankoff, especialista em política externa russa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um centro de estudos americano.
Objetivos russos no Oriente Médio
Stephen Blank, do centro de estudos Conselho Americano de Política Externa (AFPC), afirma que a Rússia está interessada em reforçar sua presença no Oriente Médio. Moscou arrenda uma base naval na cidade portuária síria de Tartus desde a era soviética, e o recente aumento da presença russa na região pode se tornar permanente.
"Eles pretendem manter bases por um longo tempo na Síria", afirma Blank, também um especialista em política externa russa. "Eles não estão lá apenas para salvar Assad. Eles estão lá para ficar o máximo que puderem."
Durante o seu discurso na ONU, nesta segunda-feira, Putin criticou o surgimento de "um único centro dominante no mundo", uma referência clara aos Estados Unidos. Mankoff avalia que a Rússia está tentando desafiar essa situação no Oriente Médio. "Antes da atual intervenção, a Rússia era um ator que, obviamente, tinha uma influência na Síria, mas que vivenciou muitas perdas em outros lugares, com as quedas de Saddam Hussein e Muammar Kadafi", explica Mankoff.
"Este é o passo mais significativo em termos de a Rússia tentar se inserir como um negociador no Oriente Médio", continuou o especialista. "Eles estão, basicamente, tentando desafiar a noção de que os EUA são a principal força externa numa região [Síria] que determina todo o equilíbrio regional."
Coalizões concorrentes na Síria
Moscou está, assim, formando sua própria coalizão no Oriente Médio, composta ainda pelo regime de Assad, o Irã e o Iraque. Na quarta-feira, Bagdá reconheceu que está compartilhando informações de inteligência com o Kremlin, mas negou que estaria coordenando operações militares.
"Eles também estão interessados em criar essa coalizão de xiitas contra o EI", explica Blank. "Então, no final, chega-se a uma situação em que os Estados xiitas estão lutando contra o EI para manter Assad no poder e em benefício do Irã."
Até o ano passado, os EUA lideraram uma coalizão composta basicamente de países sunitas – Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – contra o "Estado Islâmico". Washington e Moscou já tiveram conversações para evitar qualquer tipo de conflito militar.
De acordo com Mankoff, alguns das aeronaves russas estacionadas em Latakia não se destinam a ataques contra alvos em terra. Trata-se de caças de superioridade aérea, "o que parece indicar que eles estão ali para exercer um papel de dissuasão caso os EUA ou outro país quiser estabelecer uma zona de exclusão aérea ou atacar as forças de Assad."
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