Há quatro anos, Eleice Souza resolveu aproveitar a janela de contratação temporária do fim de ano e saiu de casa para distribuir currículos em lojas da capital. A ideia era uma só: conseguir uma oportunidade profissional como vendedora no período mais aquecido do comércio, entre outubro e dezembro. “Deu certo e me chamaram para trabalhar aqui”, relembra. E o que era para durar apenas três meses, acabou se tornando um emprego fixo. Entre 2018 e 2022, mesmo com a pandemia de covid no meio, Eleice foi escalando na empresa até ser promovida a subgerente, cargo que exerce atualmente em uma loja de roupas na Cidade Alta, zona Leste de Natal.
“Foi uma oportunidade de ouro que eu agarrei e dei o gás para poder ficar. Graças a Deus consegui e estou até hoje trabalhando. Serve até de exemplo para as pessoas não desistirem e buscarem os empregos temporários agora neste fim de ano”, afirma Eleice. Para este ano, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-RN), cerca de 2,2 mil vagas temporárias devem se converter em postos de trabalho efetivo, o que corresponde a aproximadamente 35% das 6,5 mil oportunidades totais que serão abertas no período.
O fim de 2022 deve ser o melhor dos últimos quatro anos, diz o presidente do Sistema Fecomércio-RN, Marcelo Queiroz. Ele estima que o último trimestre deve crescer 17% em relação ao mesmo período do ano passado na geração de empregos temporários. “A projeção do Instituto Fecomércio é que sejam criadas 6,5 mil novas vagas de trabalho em 2022. O número é maior do que o registrado em 2021, quando foi apontado a criação de 5.535 novos postos de trabalho, um crescimento de 17%. Um dos motivos é o aquecimento das vendas no final do ano, devido aos eventos e datas comemorativas”, pontua.
Com Dia das Crianças, Copa do Mundo, Black Friday, Carnatal, Natal e Ano Novo, setores do comércio e de serviços serão impactados positivamente, diz Queiroz. “Todas essas datas e movimentação servem de preparo para o mês de dezembro, que é o principal período de vendas. Podemos destacar, neste contexto, as lojas de vestuário, calçados, perfumaria, bem como os estabelecimentos do segmento de alimentos e bebidas.” detalha Marcelo Queiroz.
Faltando pouco mais de dois meses para o Natal, os lojistas já começam a entrar no ritmo acelerado das tradicionais festas do período. Ana Beatriz, gerente de uma loja de calçados, diz que a perspectiva é de reforçar o quadro de funcionários com quatro empregados temporários, que se juntarão aos sete trabalhadores fixos durante os meses de novembro e dezembro. “A contratação costuma acontecer nesse período, onde as vendas tendem a crescer. Estamos bem confiantes que teremos boas vendas e os temporários se juntarão à equipe para nos ajudar, com a possibilidade de contratação fixa”, conta.
De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal (CDL), José Lucena, a tendência é de que a alta do comércio do último trimestre tenha boa influência nas atividades de serviço ligadas ao turismo em janeiro. “A gente está vendo que as coisas estão todas se encaixando. A gente vê um retorno forte e agora, passado esse meteoro que foi a pandemia, podemos planejar melhor nossas vidas, nosso ano porque o comércio está voltando plenamente. Você vê que nos corredores principais de Natal as lojas que estavam fechadas, estão começando a ser alugadas, então a gente está muito esperançoso”, analisa Lucena.
O fim de ano recheado, que tradicionalmente é o período de maior movimento do comércio, terá ainda a Copa do Mundo, que será um diferencial para o setor em 2022. A vendedora de roupas, Mariana Monte, diz que a procura pela camisa amarelinha da seleção já é grande. “O pessoal já está buscando muito e até o início da Copa a gente espera vender mais”, diz a profissional, que há um ano conquistou a vaga fixa em uma loja de roupas, após ter entrado como temporária no Natal de 2021.
A busca da Seleção Brasileira pelo hexacampeonato no maior torneio de futebol do mundo, que acontece no Catar, excepcionalmente entre novembro e dezembro, deve puxar as vendas para cima e alavancar os segmentos de vestuário, eletroeletrônicos, supermercados, bares, restaurantes e transporte, avalia Rodrigo Vasconcelos, presidente da Associação Viva o Centro. “Essa é a primeira Copa do Mundo no fim de ano. As pessoas vão às ruas comprar camisas, calçados, televisores, projetores, é um momento muito bom”, diz Vasconcelos.
Lojistas apostam na criatividade e qualificação
No Alecrim, coração comercial de Natal, o planejamento é aperfeiçoar o atendimento presencial, de acordo com Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA). A ideia é bater de frente com o comércio online, principal concorrente do centro. “Nós temos uma clientela muito tradicional, que prefere a visita à loja, aquela coisa de pegar o produto, provar, conversar com o vendedor, ele valoriza muito essa experiência e a gente acredita que isso nunca vai mudar”, assegura.
“Com a internet, a gente vai precisar aperfeiçoar isso, melhorar sempre essa experiência que o cliente tem dentro da loja e também no atendimento virtual. É aí que o Alecrim vai poder concorrer e funcionar de forma equilibrada com as vendas na internet. Temos uma variedade e um preço que concorre com os grandes marketplaces online. Esse ano teremos um movimento intenso e as expectativas são as melhores possíveis”, complementa Matheus Feitosa.
Ainda enfrentando instabilidades após o período mais restritivo da covid-19, o empresário Bruno Ferreira diz que a perspectiva é aproveitar as datas festivas para recuperar parte do prejuízo adquirido nos quase dois anos de fechamento. Bruno, que também é presidente da Associação de Comerciantes e Empresários da Região Norte de Natal (Ascern), afirma que o setor organiza campanhas especiais para atrair clientes.
“Estamos realizando campanhas como o ‘Liquida Pajuçara’ que acontecerá dentro do mês de outubro, assim como o nosso ‘Natal premiado’ para estimular os consumidores a virem às compras. Além de criar o sentimento de valorizar o comércio do bairro onde ele reside. Dessa forma, criaremos novas vagas de empregos, proporcionando uma economia forte aos bairros e consequente responsabilidade socioeconômica e qualidade de vida aos trabalhadores locais”, comenta.
Datas sazonais vão manter mercado aquecido
O economista Janduir Nóbrega diz que o calendário vai manter o mercado aquecido, beneficiando lojistas, consumidores e trabalhadores. Na avaliação do especialista, o Rio Grande do Norte segue uma tendência nacional de melhora econômica e “já enxerga a pandemia pelo retrovisor”. “Os indicadores apontam uma forma muito sólida de recuperação, PIB para cima, geração de emprego, inflação para baixo, renda para cima, ou seja, a gente tem uma percepção de que o mercado está cada vez mais se fortalecendo”, analisa.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,2% no segundo trimestre de 2022, comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo trimestre de 2021, o PIB cresceu 3,2%. No ano, o PIB acumula alta de 2,5%. Além disso, também de acordo com o IBGE, o Rio Grande do Norte foi um dos 22 estados do País a registrar queda no desemprego no segundo trimestre de 2022.
“Todas essas datas vão movimentar muito o mercado e é possível que a gente abra até um pouco mais de vagas do que o esperado. O comércio já está aquecido e vai ficar ainda mais. É um momento favorável para aumentar a geração de emprego e as pessoas precisam entender que quando a empresa abre um emprego temporário, ele só é temporário aquele período de contrato. Dependendo do seu desempenho, ele pode virar permanente e por muito tempo. É dar o gás total e produzir o máximo que puder para agarrar essa vaga”, declara.
O também economista Cassiano Trovão classifica a janela de empregos temporários como um “alívio” e orienta que os candidatos devam ficar atentos às condições de trabalho. “Tudo que faz com que o emprego aumente é positivo. A grande questão é que a situação que a gente vive é tão complexa que esses respiros acabam aliviando um pouco a situação da classe trabalhadora, mas precisa ver se isso se sustenta no longo prazo. Vejo com bons olhos esses momentos de expansão, mas é preciso ver o desemprego de maneira mais estrutural se a geração de emprego vai retomar”, explica.
TRIBUNA DO NORTE
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