A assinatura do acordo foi recebida com preocupação em Seul, segundo a agência Associated Press (AP). O presidente Yoon Suk-yeol afirmou que a aliança entre os vizinhos e Moscou ameaça a segurança sul-coreana, viola as resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) e impactará negativamente nas relações entre seu país e o governo russo.
Quanto a esse último ponto, um alto funcionário do gabinete do presidente, que pediu anonimato, disse que o impacto poderá ser sentido inclusive na guerra da Ucrânia, com a Coreia do Sul reconsiderando sua posição de não fornecer armas a Kiev.
Embora tenha uma indústria de defesa forte, tornando-se nos últimos anos um relevante exportador de tecnologia militar, o país optou por não entregar à Ucrânia itens de uso letal. Essa estrição, de acordo com a fonte ouvida pela AP, será revista e pode ser derrubada.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), também se disse alarmado com o anúncio. “Precisamos estar cientes de que os poderes autoritários estão se alinhando cada vez mais. Eles estão apoiando uns aos outros de uma forma que nunca vimos antes”, disse ele durante um evento no Canadá.
O acordo, avalia Stoltenberg, pode ser encarado como um retrocesso para a segurança internacional. “Até recentemente, a Rússia ao menos tentou se distanciar um pouco da Coreia do Norte e apoiou algumas resoluções de segurança da ONU, impondo sanções e colocando, como eu disse, obstáculos para a Coreia do Norte desenvolver armas nucleares e programas de mísseis”, disse ele. “Mas agora eles estão se afastando disso. Só o fato de você ter ido à Coreia do Norte, de assinar e concordar com este pacto de defesa mútua, demonstra como eles se apoiam e se ajudam.”
De acordo com a AP, o acordo remete a outro que havia sido assinado em 1961 e que foi derrubado com a queda da ex-União Soviética. Foi substituído em 2000 por um pacto com garantis de segurança mais fracas, e agora os dois países recuam no tempo.
“A Coreia do Norte e a Rússia restauraram completamente a sua aliança militar da era da Guerra Fria”, disse Cheong Seong Chang, analista do Instituto Sejong da Coreia do Sul.
Antes mesmo do anúncio do pacto, quando o presidente russo Vladimir Putin ainda se preparava para o encontro com o líder comunista Kim Jong-un, o professor de Relações Internacionais Victor Cha alertou, em artigo para o think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), que a aliança “representa a maior ameaça à segurança nacional dos EUA desde a Guerra da Coreia.”
No texto, Cha afirmou também que a relação entre Moscou e Pyongyang se revigorou durante a guerra na Ucrânia e passou a minar “a segurança da Europa, da Ásia e do território dos EUA.” E citou o fornecimento de munição norte-coreana à Rússia, que permite a Putin sustentar sua máquina de guerra na Ucrânia e que também foi destacado por Stoltenberg.
De acordo com o chefe da Otan, o fortalecimento da aliança entre Putin e Kim precisa de uma resposta à altura. “Conforme se alinham cada vez mais regimes autoritários como a Coreia do Norte, a China, o Irã e a Rússia, então é ainda mais importante que estejamos alinhados como países que acreditam na liberdade e na democracia”, declarou. “Portanto, a Otan é ainda mais importante agora do que antes.”
A Refrência
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